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Jornalista conta bastidores do Rock in Rio e curiosidades de famosos

Jornalista conta bastidores do Rock in Rio e curiosidades de famosos

Jornalista capixaba José Roberto Santos Neves acaba de lançar livro sobre a edição de 2001 do maior festival de música do país. Programação na Cidade do Rock recomeça nesta quinta-feira (19)

Publicado em 19 de setembro de 2024 às 20:56

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9 shows imperdíveis no line-up do Rock in Rio 2024
Letreiro dio Rock in Rio 2024: boas-vindas ao público. (Andre Luiz Moreira | Shutterstock)

O Rock in Rio, que volta a ocupar a Cidade do Rock, no Rio de Janeiro, a partir desta quinta-feira (19), é um dos maiores festivais do planeta, reunindo cerca de 700 mil pessoas em seus sete dias de evento. Mas você já parou para pensar em como é traduzir um ato dessa magnitude em reportagens? Quais são os desafios e dificuldades de transmitir informações para quem não esteve lá, além da ansiedade de cobrir algo tão grandioso?

Foi exatamente isso que o jornalista José Roberto Santos Neves fez em 2001. Num momento em que os recursos tecnológicos nem de longe lembraram o que temos hoje (para se ter uma ideia, a internet era discada e os telefones celulares, “tijolões”), o então repórter de A Gazeta desembarcou na Cidade do Rock pra trazer aos capixabas as informações e entrevistas com as personalidades do festival. Tudo isso virou conteúdo para o recém-lançado livro “Diários do Rock in Rio”.

“Todo repórter sonha em cobrir um grande evento, seja na área cultural, ambiental, política ou esportiva. A Copa do Mundo, as Olimpíadas, são grandes marcos, assim como o Rock in Rio. Eu, pessoalmente, tenho uma relação afetiva com o Rock in Rio”, conta José Roberto, para quem o festival tem importância na democracia e no cenário de entretenimento do país.

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Quem não viveu a época, lá em 1985, foi aquele festival que colocou o Brasil no mapa dos grandes eventos internacionais. O Brasil estava fora do mapa. E o Rock in Rio se relaciona com o movimento de redemocratização também. Quando Cazuza cantou ‘Pro Dia Nascer Feliz’ em 85, o Tancredo Neves foi eleito o primeiro presidente civil após 21 anos de ditadura militar

José Roberto Santos Neves
Jornalista
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Aluna de residência lendo livro de José Roberto Santos Neves, seus livros, e a 27ª Turma de Residência em Jornalismo
José Roberto Santos Neves, seus livros e a 27ª turma de Residência em Jornalismo. (Rede Gazeta)

O jornalista - que na última segunda-feira (16) conversou com os alunos do 27º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta - recordou o desafio e a adrenalina de trabalhar em um ambiente de intensa competição jornalística, onde ele teve que adaptar sua abordagem ao ritmo acelerado das notícias, pois 2001 era o começo do jornalismo online. Para se ter uma ideia, o antigo site Gazeta Online só tinha cinco anos de existência àquela época.

Atrás dos famosos

Uma curiosidade revelada por José Roberto acerca desses festivais é como funcionam os bastidores com os artistas, como as coletivas de imprensa são feitas e a personalidade dos cantores. As melhores memórias compartilhadas pelo jornalista contam com Foo Fighters, Nirvana e Oasis.

Dave Grohl e o Foo Fighters durante a ceriônia do 37º Rock & Roll Hall of Fame
Dave Grohl e o Foo Fighters durante a ceriônia do 37º Rock & Roll Hall of Fame. (Mario Anzuoni/Reuters/Folhapress)

“O Foo Fighters tinha uma assessoria de imprensa que avisou: 'Olha, não perguntem sobre o Nirvana. O Dave Grohl não quer responder sobre o Nirvana.' Então, um jornalista estrangeiro perguntou diretamente: 'O que você tem a dizer sobre o fim do Nirvana e a morte do Kurt Cobain?' Ele olhou com aquela cara de 'não acredito que vou responder isso', mas foi educado, não abandonou a entrevista”, conta José Roberto.

O músico inglês Noel Gallagher durante show em São Paulo, em 2012
O músico inglês Noel Gallagher durante show em São Paulo, em 2012. (Daigo Oliva/Folhapress)

Já nos bastidores da notícia, o escritor compartilhou inclusive uma provocação marcante: “Na campanha do Rock in Rio 'Por Um Mundo Melhor', um jornalista perguntou ao Noel Gallagher, guitarrista do Oasis, que foi à entrevista sozinho, e eles são conhecidos por serem arrogantes: 'O que é um mundo melhor na sua opinião?' E ele respondeu: 'Seria um mundo sem Guns N' Roses.' Claro que isso virou manchete, virou o título da matéria, especialmente porque o Guns N' Roses tocou no mesmo dia”.

Livros de José Roberto Santos Neves
Livros de José Roberto Santos Neves. (Bruno Nézio)

Além do Rock in Rio, José Roberto também compartilhou a experiência de escrever outros livros, como "Maysa" (2005), "A MPB de Conversa em Conversa" (2007), “Rockrise” (2012) e "Crônicas Musicais e Recortes de Jornal" (2015). Entre as histórias curiosas com personalidades, ele menciona um episódio com a cantora Elba Ramalho, em que, por falta de preparação e pesquisa, cometeu um erro logo na primeira pergunta, o que comprometeu o restante da entrevista.

Na ocasião, o jornalista perguntou se o CD dela continha regravações, mas, por falta de tempo para escutar o disco antes, não percebeu que o álbum tinha diversas. Bastou para que Elba não respondesse a mais nenhuma pergunta direito: “Quase 100% das vezes em que uma entrevista dá errado, a responsabilidade é nossa, é do repórter, do jornalista”, advertiu o jornalista.

Persistência

Aluna de residência lendo livro de José Roberto Santos Neves
Aluna da Residência lendo livro de José Roberto Santos Neves. (Bruno Nézio)

No bate-papo, o autor de “Diários do Rock in Rio” também mencionou o exemplo de Zeca Pagodinho, destacando como é importante lidar com entrevistados menos cooperativos com persistência e profissionalismo, e a importância de fazer perguntas que chamem a atenção e provoquem respostas significativas. José Roberto lembrou uma entrevista com Alceu Valença, onde sua pergunta sobre as diferenças entre os gêneros nordestinos foi tão impactante que o artista pediu para continuar a conversa mesmo que não estivesse estipulado pela assessoria.

O jornalista enfatizou que o sucesso em entrevistas e coberturas muitas vezes depende dessa persistência e da capacidade de lidar com desafios. Ele contou sobre sua experiência com a cantora ngela Rô Rô, que inicialmente se mostrou hostil, mas com sua persistência, conseguiu realizar a entrevista e criar uma matéria impactante.

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Ângela, mas é o seguinte, eu quero fazer uma capa do jornal com você. Você é uma cantora muito importante, e a gente respeita muito o seu trabalho. Eu fiquei adulando ela, e ela me pediu para ligar no domingo à noite, na hora do Fantástico. Aí, eu liguei no domingo e o pessoal da redação me perguntou o que estava fazendo lá. Quando liguei para ela, ela respondeu de forma ríspida, dizendo: ‘Porra, tu é chato, hein, cara.’ Foi nesse nível a entrevista, mas eu administrei a situação com equilíbrio. Eu expliquei que ela havia prometido a entrevista na sexta-feira e que íamos fazer uma capa do jornal. Então, mesmo com a dificuldade, eu preferi insistir e consegui fazer a capa

José Roberto Santos Neves
Jornalista
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Cultura capixaba

Apesar de ter coberturas e textos de projeção nacional, uma das principais características de José Roberto Santos Neves é a valorização da cultura capixaba, dedicando-se a contar a história de artistas locais e suas trajetórias. Ele destaca que o Espírito Santo muitas vezes é ofuscado pelas culturas de estados vizinhos, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia, mas enfatiza que há uma riqueza cultural significativa a ser explorada e conhecida.

"O Espírito Santo é muito pressionado pelas grandes potências ao redor. Temos o eixo Rio-São Paulo, Minas Gerais, que é praticamente uma nação com seus 873 municípios, e a Bahia, que também exerce uma forte influência”, pontua ele. O livro "Sons da Memória" é um exemplo desse esforço de valorização, apresentando críticas musicais e biografias de artistas capixabas, desde pioneiros como Maurício de Oliveira e Carlos Cruz, até músicos contemporâneos.

José Roberto Santos Neves compartilha memórias da cobertura do Rock in Rio
José Roberto Santos Neves compartilha memórias da cobertura do Rock in Rio. (Rebeca Fagundes)

José Roberto destaca como, muitas vezes, a mídia nacional acaba omitindo as origens capixabas de artistas renomados, o que pode prejudicar o reconhecimento da cultura local. Um exemplo citado é o caso da cantora Maysa, que teve a biografia dramatizada em uma minissérie da TV Globo, em 2009. Segundo o escritor, a obra televisionada omitiu detalhes sobre o relacionamento da artista com a família do Espírito Santo.

"Então, entrevistei os familiares da Maysa aqui no Espírito Santo, mas a série da Globo acabou omitindo isso. Lembro que na época dei uma entrevista para a Folha, e a manchete foi algo como: 'Biógrafo afirma que minissérie subestima laços de Maysa com o Espírito Santo', porque o relacionamento dela com a família capixaba não ficou claro na produção da Globo", conta.

Mesmo com quase 30 anos de carreira - ele participou de um projeto embrionário do Curso de Residência, em 1996 -, José Roberto enfatiza a importância do jornalismo cultural para as novas gerações: “Quando eu me formei em jornalismo, eu queria juntar essas paixões: a música, o jornalismo, a literatura e a juventude. Eu percebi que não tinha um espaço para cobertura jovem no jornalismo capixaba”, finalizou.

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* Bruno Nézio é aluno do 27º Curso de Residência em Jornalismo. Este conteúdo teve orientação e edição do coordenador do programa, Eduardo Fachetti.

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