O ano era 2014, época de eleições estaduais e federais e, para um grupo de adolescentes em específico, uma fase marcada pela expectativa de ir às urnas pela primeira vez, tudo retratado em uma matéria especial em A Gazeta, na sua versão ainda impressa.
Uma década depois, duas das agora jovens adultas ouvidas na reportagem voltam ao passado para refletir sobre o que mudou desde então e o que se mantém imutável em suas convicções como cidadãs e eleitoras.
Elas continuam pensando como antes? A decisão por escolher um candidato ganhou novos critérios? O que permanece vivo? Nesta nova reportagem, agora on-line e também feita em ano eleitoral (para o pleito municipal), A Gazeta atualiza essa conversa com as entrevistadas.
Uma delas é Mariana Farias, que em dez anos viu sua vida mudar bastante, assim como suas visões de mundo. Aos 17 anos, idade que tinha na primeira reportagem, ela acreditava que o candidato que priorizasse a educação, ajudaria a formar a próxima geração de candidatos. Hoje, aos 27, morando fora do Brasil, a enfermeira de uma rede de hospitais na Alemanha relata que se vê mais madura politicamente, pois ampliou seu olhar, mas continua considerando a educação como prioridade nas pautas de um candidato.
“Anteriormente, a minha visão política era voltada às minhas necessidades como jovem cidadã”, relata. Agora, além das necessidades urbanas, como segurança pública e estrutura da cidade, ela enxerga a importância de avaliar pautas aliadas à comunidade LGBTQIA+, propostas envolvendo saúde, meio ambiente e causas raciais.
Outra jovem entrevistada na matéria de uma década atrás é Katiane Santos. A garota de então 18 anos que demonstrou preocupação com o cumprimento das propostas políticas mora atualmente em Trancoso, na Bahia.
“Posso me arrepender. A gente vai colocar a confiança neles e eles podem não cumprir o que prometeram”, disse ela, expressando seu ceticismo em relação aos políticos, há 10 anos.
Katiane destaca que, aos 28 anos, tem inseguranças em relação ao cumprimento das pautas apresentadas pelos candidatos. No entanto, apesar de admitir que não se aprofunda nem discute tanto sobre política com tanta frequência, ela reconhece a importância do assunto.
Mariana e Katiane ajudam a compor um retrato sobre o jovem de uma década atrás. Mas e hoje? O que pensam os que nasceram depois delas, os que chegaram depois? A pesquisa “Juventudes no Brasil”, realizada pelo Observatório da Juventude na Ibero-América e divulgada em 2021, aponta uma característica. O levantamento destaca que cerca de 72% do eleitorado da geração Z, os nascidos entre 1997 e 2010, nem mesmo conversam sobre temas políticos, no dia a dia.
Isso serve como um ponto de atenção dos candidatos, em razão do número de jovens que vão às urnas em 2024. Dados do Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES) apontam que cerca de 22 mil jovens, entre 16 e 17 anos, estão aptos a votar pela primeira vez no Estado. Já o quantitativo de eleitores na faixa etária de 18 a 24 anos é de 320 mil. Unindo as faixas etárias até 24 anos, o total chega a cerca de 11% do eleitorado capixaba.
Doutora em Ciências Políticas pela Universidade de São Paulo (USP), Hannah Maruci, que é cofundadora da Tenda das Candidatas, organização que capacita lideranças e atua na expansão da representação e participação política, compartilha que a representação de gênero, raça e faixa etária é importante para gerar uma conexão com a geração Z.
Hannah ressalta que a causa do desencorajamento dos jovens se dá pelo afastamento que a política gera. “Há um distanciamento, parece que a política é feita só em Brasília, lá longe, sem efeito sobre nossa vida. Isso gera uma rejeição dos jovens em relação à política, que vem também de um descrédito, de uma sub-representação.”
A especialista ainda destaca que não deveria ser necessário o convencimento de que a política é importante para nossas vidas. “O transporte que a gente vai utilizar, a qualidade desse transporte, a escola a que vamos ter acesso…Tudo isso é resultado de políticas. Mas onde está a dificuldade hoje? Na separação que parece existir entre a vida vivida e a política”, avalia.
Com a visão amadurecida, a Mariana Farias de hoje, a personagem ouvida no início desta reportagem, recomenda que os novos eleitores aproveitem as facilidades da tecnologia, adotando uma pesquisa consistente das propostas dos candidatos, através de informações que são disponibilizadas pelo TRE e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“O voto não deve ser uma escolha ao acaso ou de um número aleatório. Independentemente da idade do eleitor, é a forma com que ele se posiciona, e isso exige responsabilidade”.
É o que a estudante de licenciatura em Letras, Letícia Martinusso, de 20 anos, também sugere. Pela imaturidade e inconsistência das opiniões, ela decidiu postergar a primeira votação, quando era menor de idade.
De acordo com a especialista Hannah Maruci, ensinar noções básicas de política nas escolas é essencial para resolver os principais dilemas entre as entrevistadas durante a adolescência: formar opiniões concretas e gerar encorajamento entre os jovens.
“É necessário formação política, desde cedo, em todas as escolas, para mostrar a relação entre o que é feito na política e a vida vivida, o dia a dia, o cotidiano. A gente precisa combater essa sub-representação para que os jovens se enxerguem ali, consigam ver uma conexão entre eles e a política, o que vai aproximá-los.”
*Louize Lima é aluna do 27º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Este conteúdo teve edição e orientação de Andréia Pegoretti, editora do programa
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