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Ser mulher custa mais caro? Entenda como funciona a taxa rosa em produtos femininos

Ser mulher custa mais caro? Entenda como funciona a taxa rosa em produtos femininos

Alta nos preços reacende discussão sobre precificação desigual em produtos destinados às mulheres

Publicado em 1 de novembro de 2022 às 13:17

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Eduarda Moro
Curso de Residência em Jornalismo / [email protected]

Há quem diga que as mulheres compram mais por impulso e que são elas as maiores consumidoras de produtos de moda, entretenimento e artigos para casa, mas o que as pesquisas realmente indicam é que as mercadorias direcionadas ao público feminino, mesmo as consideradas “neutras” ou que têm pequenas adaptações, sofrem com a chamada “pink tax” – traduzido livremente como taxa rosa. Trata-de uma prática do mercado que cobra mais caro por aqueles produtos fabricados para mulheres.

Apesar de batizado como taxa, não se trata de um imposto; e sim, de uma aplicação de preços mais altos para produtos com embalagens específicas para elas, muitas vezes da cor rosa.

A diferenciação de preço já começa na infância. Roupas e sapatos infantis custam mais só por serem “de menina”. Com os adultos, acontece a mesma coisa: um tênis, por exemplo, pode ser até 24% mais caro quando é direcionado para o público feminino.

Esse foi o levantamento feito pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), que mostrou como funciona a desigualdade de gênero no mercado. Segundo o estudo, elaborado em 2018, produtos rosas e/ou com personagens femininos são, em média, 12,3% mais caros do que os regulares ou neutros.

As mercadorias que mais sofrem com a taxa rosa são encontradas em farmácias e lojas de roupas.
As mercadorias que mais sofrem com a taxa rosa são encontradas em farmácias e lojas de roupas. (Freepik.)

Os produtos de higiene pessoal não fogem dessa realidade. Eventualmente, algumas marcas de xampu, condicionador, desodorante, sabonete, cremes e lâminas de depilação também têm preços mais altos quando são para as mulheres.

“Ao longo da história, o mercado criou a noção de que mulheres tendem a adquirir mais produtos da moda e a acompanhar as tendências, mas isso não passa de uma construção social para afastá-las da independência financeira”, frisa a advogada especialista em gênero Caroline Liebstein.

Em março de 2021, a jornalista Eliane Gonçalves, em reportagem da Rádio Nacional, fez o teste. Ela pesquisou os preços de produtos para homens e os equivalentes para mulheres em diferentes setores: farmácia, artigos esportivos, vestuário, acessórios para bebês e cabeleireiro.

“De 10 produtos pesquisados, em três lojas diferentes, todos tiveram preços mais altos para mulheres em pelo menos uma das lojas. De tênis esportivos a lâminas de barbear azuis ou de depilação cor de rosa”, diz a matéria. O levantamento mostrou uma diferença média de preço de 35% a mais nos produtos destinados a mulheres.

EXISTE UM VILÃO?

O que agrava ainda mais essa situação é que alguns dos produtos que mais sofreram com a alta nos preços em setembro foram os dos setores de vestuário (1,77%) e de saúde e cuidados pessoais (0,57%). Esses números são mostrados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que calcula a variação mensal de preços nas capitais brasileiras. Na Grande Vitória, a alta alcançou 1,02% e 0,77%, respectivamente.

Embora a margem de aumento pareça acanhada, o comparativo com outros itens acusa que essa expansão está no topo do ranking da carestia. No mesmo período, os serviços de transporte apontaram deflação de -1,98%.

A economista Deborah Bizarria, coordenadora de Políticas Públicas no Livres, associação civil que forma lideranças para desenvolver ativismo e projetos sociais, explica que o aumento acelerado dos preços das mercadorias, no geral, é um fenômeno global e afeta vários setores da economia. Isso acontece porque a inflação é resultado de um desequilíbrio na ação dos governos e, de forma geral, precisa ser tratada com ajuste das contas públicas e responsabilidade fiscal.

“O setor de vestuário, cosméticos e produtos de higiene pessoal não são exceção. Na prática, essa alta de preços foi causada por uma combinação de estímulos ao consumo feitos por vários países; pela escassez de materiais; e por gargalos de transporte, decorrentes da desorganização na logística internacional durante a pandemia, além do aumento dos custos de combustíveis”, enumera.

Na avaliação dela, o cenário é incerto, mas já dá para prever que a situação pode piorar. “Existe uma tendência nos países ricos pela defesa de melhores condições de trabalho e salários para a indústria, o que deve encarecer os produtos. Atualmente, de forma geral, os trabalhadores do setor estão em países pobres da Ásia, de onde as grandes empresas compram as peças de roupa e acessórios. O consumo consciente pede a melhoria das condições de trabalho. Então, existe uma tendência de alta nesse setor”, analisa.

Com isso, a consumidora precisa pesquisar mais antes de efetuar a compra desses produtos. A economista aponta algumas saídas: “Olhar promoções, procurar marcas próprias dos supermercados ou, ainda, ver se os equivalentes masculinos ou neutros valem a substituição em função do preço. Quanto às roupas e aos acessórios, vale a pena fazer uma lista dos itens que se deseja comprar e pesquisar em várias lojas físicas, on-line e brechós para encontrar o melhor custo-benefício”.

“É importante que nós, mulheres, estejamos sempre atentas na busca de produtos e empresas que não pratiquem a taxa rosa. Também devemos comprar e incentivar marcas que vendem produtos neutros e que valorizem nosso dinheiro para não sermos mais enganadas com o velho e ultrapassado slogan de que ser mulher custa mais caro”, concorda Caroline.

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