"Foi uma mudança totalmente brusca, rápida e sem aviso prévio.” Essas são as palavras de uma história de recomeço, superação e inspiração para muitas mulheres. Marciane Pereira dos Santos perdeu a perna esquerda e parte dos dedos da mão direita, em 2018, ao ter 40% do corpo queimado pelo ex-companheiro, no município da Serra. "Eu tive que reaprender a fazer o que eu sempre soube", comentou Marciane à reportagem.
O caso de Marciane retrata uma vida de força e ressignificação. Após sofrer a violência, a diarista precisou se adaptar a uma nova rotina.
Marciane fala que teve então de pensar em como viver e sobreviver após todo o acontecido. "Depois, começaram os pensamentos de como viver, como fazer e começar de novo. Como eu iria me dar com a minha nova vida na sociedade, no meu cotidiano com meus filhos, nas minhas amizades [...] De como fazer isso tudo ao mesmo tempo", relata.
As marcas que foram deixadas pelo agressor em todo o seu corpo reforçaram ainda mais os traços de uma mulher forte e inspiradora que precisou buscar novas formas de viver e enxergar a vida. "Ele estragou tudo o que eu tinha mais de lindo por fora. Ele destruiu. Mas por dentro estou intacta. Porque, se não, eu não teria força nem coragem para colocar a cara no mundo", declarou a diarista.
No último dia 30, o ex-companheiro e agressor André Luis dos Santos foi condenado a 32 anos de prisão por tentativa de homicídio por motivo torpe, com uso de recursos que dificultaram a defesa da vítima, por ter ateado fogo na vítima e por feminicídio. Depois do resultado, Marciane relata um sentimento de leveza e gratidão a Deus.
"Um alívio. Graças a Deus, chegou a justiça. Eu falo assim que Deus olhou lá do céu pra mim e disse: Vamos mexer nessas papeladas aqui, procura a Marciane e vamos julgar o caso dela'", relatou.
O caso vivido pela moradora da Serra é chocante e faz parte das estatísticas sobre a violência contra a mulher no Estado do Espírito Santo. De acordo com dados do Anuário Brasileiro da Segurança Pública, os casos de feminicídio aumentaram 44% em 2021 no Estado em relação a 2020. Ainda segundo o documento, no ano passado a taxa de feminicídios no Espírito Santo estava em 1,8 morte por 100 mil mulheres, número maior que a média brasileira, que é de 1,2.
Marciane lutou pela vida e conseguiu sobreviver. E, mesmo depois de passar por essa violência, encontrou forças para si mesma e também por outras mulheres vítimas de agressão. Ela ressalta que é preciso abrir os olhos para os sinais mínimos de violência para evitar tragédias maiores.
"A Marciane só pede às mulheres que tomem cuidado e que prestem atenção nos pequenos sinais. Para que não sejam mais uma vítima como a Marciane, porque eu não sabia que estava sofrendo violência. Eu achava que era normal por ele beber e falar besteira", destaca ela.
Enfrenta alguma situação de violência doméstica ou conhece alguém que vivencia isso? Entre em contato com a Central de Atendimento à Mulher pelo número 180. A ligação é gratuita e o serviço está disponível 24h por dia, todos os dias da semana.
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