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Transcol: transmissão de viagens por app levanta debate segurança x privacidade

Transcol: transmissão de viagens por app levanta debate segurança x privacidade

Se por um lado há quem considere um avanço o monitoramento em tempo real com exibição de imagens do interior dos veículos, por outro há quem aponte tecnologia da "espiadinha" como invasiva

Publicado em 27 de setembro de 2022 às 14:32

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Ônibus do Transcol saem de terminal na Grande Vitória: percurso monitorado
Ônibus do Transcol saem de terminal na Grande Vitória: percurso monitorado. (Foto: Reprodução/TV Gazeta)
Atilio Esperandio*
Curso de Residência em Jornalismo / [email protected]
Vitor Recla*
Curso de Residência em Jornalismo / [email protected]
Mikaella Mozer*
Curso de Residência em Jornalismo / [email protected]

As viagens feitas pelo Transcol ganharam cara de Big Brother sobre rodas graças a uma ocupante com passou a ter assento cativo: a tecnologia. Nesse reality itinerante, o espaço interno dos veículos são mostrados por câmeras do começo ao fim do percurso pela Grande Vitória. Para se tornar o “Grande Irmão” (aquele que tudo vê) e visualizar de qualquer lugar as imagens, não é preciso muita coisa. Basta ter um celular na mão, conectado a uma rede móvel ou Wi-Fi, e acessar o aplicativo ÔnibusGV.

Se por um lado há quem considere que essa "espiadinha" facilita a vida do usuário que quer saber se vai ou não encarar um coletivo lotado, por outro há quem ache a tecnologia invasiva, sob o argumento de que atenta contra a privacidade, pois exibe o rosto dos passageiros nas imagens.

Do grupo dos que consideram o aplicativo uma funcionalidade em prol da segurança está o estudante de Jornalismo Breno Bassetti, de 21 anos. Ao utilizar os recursos das câmeras de monitoramento, ele pôde acompanhar uma amiga durante todo o trajeto dela em um coletivo, prezando pela proteção da jovem.

A vigilância feita por Breno passou a ser possível após a implantação do serviço InBus, o nome da ferramenta disponível no app ÔnibusGV, destinado a informar horários, trajetos e localizações dos veículos para os usuários, entre outros dados. Por intermédio desse recurso, câmeras foram adaptadas dentro dos carros para captar imagens e disponibilizá-las aos usuários em tempo real.

Segundo a Secretaria de Mobilidade e Infraestrutura (Semobi), a implantação desse serviço, feita em 2020, já estava no planejamento do Sistema Transcol. A ideia foi antecipada por conta da pandemia da Covid-19 e da necessidade de oferecer esse tipo de informação aos passageiros.

Breno acredita que as facilidades oferecidas  têm um saldo positivo. “Eu tenho costume de olhar o aplicativo porque dá pra ver se o ônibus está cheio e se tem algum lugar que está mais vazio. Se eu vir alguma atividade suspeita dentro do ônibus pela câmera, eu já não vou entrar. E isso vai me livrar, vai ter um ganho pessoal pra mim”, explica.

Estudante de Publicidade e Propaganda, Loren Carvalho, 22, compartilha da mesma opinião. Para ela, o InBus ajuda na organização do tempo, por saber quando ele vai chegar. Porém, a universitária reconhece os perigos de stalkers poderem acompanhar uma vítima.

Já Vitor Caliman, 22, também estudante, questiona a forma como essas imagens são utilizadas, uma vez que o controle das gravações não é divulgado pelo Sistema Transcol.

Reprodução de imagem captada por câmera de videomonitoramento no Transcol, sem reconhecimento facial.
Reprodução de imagem captada por câmera de videomonitoramento no Transcol, com rostos ocultados pela edição da reportagem. (Foto: reprodução/ÔnibusGV)

“Acredito que é o principal ponto negativo, porque nós passageiros sabemos que estamos sendo filmados e que, possivelmente, são por razões de segurança, na maioria das vezes. Mas a gente não sabe muito bem o que é feito com essas imagens”, afirma Vitor.

LGPD

Imagens são consideradas como dados sensíveis pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). De acordo com a legislação, as empresas devem explicar nos termos de uso a forma como elas são usadas e por que as filmagens são necessárias. Vale ressaltar que a OnibusGV/Geocontrol não cita nenhum dos dois elementos determinados pela lei.

Segundo o artigo 4° da LGPD, a ausência dessa explicação pode acontecer somente quando os dados sensíveis são utilizados por fins de segurança pública. Mas, para a advogada Fernanda Modolo, especialista em LGPD, essa questão não se aplica ao InBus.

"Quando a gente fala em dado pessoal sensível, a gente tem que minimizar, tornar o menor possível o compartilhamento de dados pessoais sensíveis. Se tem a intenção de falar que o ônibus está cheio ou não, eu não preciso identificar a imagem das pessoas. Faço um controle através de algum sistema falando que há uma superlotação. O próprio sistema consegue mapear quem são as pessoas, ele consegue saber se está acima da capacidade daquele transporte ou não”, afirmou a advogada.

A especialista ainda afirma que algumas informações precisam ser esclarecidas pelo Sistema Transcol. Segundo ela, o tempo de armazenamento e a finalidade das imagens capturadas pelas câmeras necessitam ser justificadas para quem usufrui dos serviços.

O OUTRO LADO

A Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Estado do Espírito Santo (Ceturb/ES) e a GeoControl, empresa que desenvolveu o Inbus, foram procuradas para esclarecer sobre o uso das câmeras e a autorização das imagens pelos passageiros no termo de uso. Porém, até o fechamento desta matéria, não houve retorno à demanda enviada. Caso seja dada resposta, o texto será atualizado.

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Atílio Esperandio, Mikaella Mozer e Vitor Recla são alunos do 25º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Este conteúdo teve a orientação da editora do programa, Andréia Pegoretti.

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