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'A maquiagem não pode ser uma prisão'

"A maquiagem não pode ser uma prisão"

Estreando no site da Revista AG com uma coluna semanal, a maquiadora Aline Bretas bateu um papo com nossa equipe sobre beleza, empoderamento, superação e autoestima

Publicado em 5 de outubro de 2019 às 09:22

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O trabalho dela é deixar as mulheres mais bonitas. E ela acredita que a maquiagem funciona não para esconder “defeitos”, e sim para revelar o que cada uma realmente tem de mais belo. Uma das precursoras da maquiagem profissional no Estado, Aline Bretas tem mais de 22,8 mil seguidores no Instagram e sabe o poder que tem em mãos. Tanto que enxerga seus pincéis como ferramentas para a autoestima de suas clientes e não os usa apenas para transformar uma pele.

Em suas postagens, Aline sempre encontra espaço para falar de autocuidado e não teme se expor. Como quando mostrou, sem disfarce (nem filtro) que tem poros abertos e linhas de expressão. É assim que essa mulher de 35 anos se expressa. Ela tem talento e tem muito a dizer.

A nova colunista da Revista.ag nos recebeu em seu estúdio, em Vila Velha, e falou sobre carreira, sobre superação e empoderamento. Confira:

Você foi uma das precursoras na maquiagem profissional no Estado. Como foi no início?

  • Quando abri meu primeiro estúdio, não existia nenhum estúdio de maquiagem aqui no Estado. Só se maquiava em salões, onde se fazia uma maquiagem mais carregada, não tão atualizada. Acabei saindo na frente naquele momento. Isso em 2012. Este agora é meu terceiro estúdio! E aí comecei a dar cursos.sta!

Hoje em dia, muita gente entende de maquiagem. Como você vê isso?

  • É muito legal! Até porque, há alguns anos, quando comecei, não tinha loja da MAC aqui! Não tinha nada. Para comprar alguma coisa, a gente pagava caríssimo a algum conhecido que trazia o produto de fora. Isso uma década atrás. Hoje existem lojinhas ótimas. Acho que até o mercado nacional está maravilhoso, com marcas nacionais que não perdem em nada para as internacionais. Eu acho muito legal, porque maquiagem é isso, é autocuidado, é você sentar, se divertir com aquilo. Por mais que as pessoas não tenham tanto jeito (risos), mas é um truquinho que aprende.

Tem gente que não sai de casa sem maquiagem...

  • É. Acho que maquiagem não pode ser uma prisão. Tipo pessoas que só saem de casa montadas com corretivo e tal porque não conseguem se ver sem maquiagem. Mas afinal, a maquiagem é prisão ou diversão?

Data: 21/09/2019 - ES - Vila Velha - Aline Bretas, maquiadora - Editoria: Revista AG - Foto: Vitor Jubini - GZ. (Vitor Jubini)
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Maquiagem é isso, é autocuidado, é você sentar, se divertir com aquilo

Aline Bretas
Maquiadora
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E como começou sua atuação nas redes sociais?

  • Logo que surgiu o Instagram eu entrei, tenho desde 2011 e gosto bastante. Mas às vezes acho cansativo.

É um outro trabalho, né?

  • Exatamente! Não é só produzir o conteúdo. Tem que responder às pessoas. Muitas querem o número da base, o nome do batom. Às vezes já estou em casa. Então, se bobear, você fica 24 horas por dia respondendo às pessoas. É um pouco difícil pra mim, por isso às vezes dou uma sumida.

É que você não fala só de maquiagem... Você vai além: fala de autoestima, de empoderamento...

  • Sim. Tenho esse olhar de observar o que as pessoas estão vendo, sentindo. E tento levar algo além da maquiagem. Maquiagem é comportamento. Não tem como falar disso sem entender o que está por trás. O que dá na cabeça, estou falando! (risos). E tenho seguidoras que me contaram várias coisas pessoais. Às vezes me assusto com a confiança que elas depositam em mim. Mas também não tem uma mulher que se sente na minha cadeira que diga: ‘eu me amo, estou supersatisfeita com meu corpo’. Outro dia, uma cliente, que deve ter no máximo 5% de gordura no corpo, disse que não iria comer no dia do casamento para não engordar. Tipo, a pessoa com o corpo perfeito e cheia de grilos. Falo que as mulheres mais perfeitas, dentro dos padrões de beleza, que costumo maquiar são as que são mais preocupadas com a imagem. Poderiam estar curtindo um pouco mais a vida e não estão. A autoestima é muito individual. Às vezes sou um pouco assim, claro. Se engordo, de vez em quando vem aquele monstrinho da insegurança. Por isso a gente tem falado tanto de feminismo, que é diretamente ligado à autoestima, aceitação.

E isso se reflete na maquiagem...

  • Claro! Acho que cada uma tem que usar a maquiagem de acordo com sua personalidade. Não tem isso de maquiagem do dia e maquiagem da noite! Se é casamento de dia e você quer usar um olho preto, vai lá. Tem que ser uma maquiagem para a pessoa expressar sua personalidade. A gente passou muito tempo afinando nariz, por exemplo. Mulheres negras se descaracterizando, afinando o rosto. Isso é algo de que a gente tem que falar bastante.

A sua autoestima você precisou trabalhar em algum momento?

  • Sou bariátrica. Fiz a cirurgia tem quatro anos e meio. Emagreci 38 quilos. Mas nunca tive muito problema com peso, essa questão da imagem. Eu trabalhava em pé, cansava, tinha fascite plantar, que é uma inflamação no calcanhar. Mas vivi um relacionamento difícil que mexeu muito com minha autoestima. Fiz a bariátrica durante o casamento. Depois que emagreci, ele chegou a falar que me preferia gorda. Sei que não era pela estética. Era porque quando eu era gorda, eu chegava em casa cansada e só queria me deitar, ver televisão. Depois, quando emagreci, queria sair com minhas amigas. E ele não. Ele sempre tentava me colocar para baixa. E eu vivia tensa. Foi um relacionamento muito complicado, extremamente abusivo. Foi psicologicamente abusivo e teve agressão física também. Nunca imaginava que fosse viver isso porque sempre fui superempoderada! Eu não percebia. Cinco anos atrás não se falava disso como se fala hoje.

Você então não o denunciou pela violência?

  • Não. Aguentei sozinha. Meus pais só descobriram este ano. Nem para minha melhor amiga eu tive coragem de falar. Vergonha total. É muito louco! Até hoje, quando eu falo abertamente disso, tenho um pouco de medo de falar nas redes sociais, postar nos stories. Falo inbox com algumas seguidoras. Mas é absurda a quantidade de mulheres que vivem isso, em todas as classes sociais. Hoje, na primeira oportunidade que tenho, quando estou maquiando alguém, eu conto e muitas se identificam.

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As mulheres mais perfeitas, dentro dos padrões de beleza, que costumo maquiar são as que são mais preocupadas com a imagem. Poderiam estar curtindo um pouco mais a vida e não estão

Aline Bretas
Maquiadora
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Você também perdeu um filho. Como você encara hoje essa experiência?

  • Vivi intensamente todos os sentimentos. Meu filho foi o melhor presente que eu poderia ter ganhado na minha vida. Sempre levei de forma mais leve do que a maioria das pessoas. Mesmo assim, quando isso acontece você demora um pouco para entender. Theodoro nasceu com um tumor no cérebro. Mas a gente demorou a descobrir porque ele não tinha aparentemente nada. Foram quatro meses nessa loucura, indo a vários médicos. Até que descobrimos que era um tumor. Ele operou, mas logo depois não resistiu. Morreu com dez meses de idade. Agora em outubro serão nove anos sem ele. Viver aquilo me fortaleceu como pessoa, fortaleceu minha espiritualidade também, a forma de me relacionar com as pessoas, com a vida.

E logo depois você enfrentou uma separação...

  • Depois que Theodoro morreu, eu e meu primeiro marido nos separamos. Mas não foi por causa disso. Eu era muito nova! Tinha 19 anos! E aí me casei de novo e vivi aquela relação abusiva. Já me separei tem dois anos e agora estou com outra pessoa. Estamos até planejando ter um filho!

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