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Assédio no trabalho é tema de Roda de Conversa na Rede Gazeta

Assédio no trabalho é tema de Roda de Conversa na Rede Gazeta

O encontro teve a participação da jornalista Gabriela Moreira, da figurinista Su Tonani e da advogada Elda Bussinger

Publicado em 4 de março de 2020 às 16:01

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Roda de Conversa Dia da Mulher, na Rede Gaezta. (Adessandro Reis)

Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, a Rede Gazeta recebeu convidados para discutir o assédio no mercado de trabalho na Roda de Conversa, nesta manhã (04). O encontro teve a participação da jornalista Gabriela Moreira, da figurinista Su Tonani e da advogada Elda Bussinger, que relataram causas e debateram caminhos para denunciar a agressão. 

A advogada, doutora e escritora Elda Bussinger disse que estamos em um momento apropriado para discutir o assunto. "É o momento ideal para pensar nos retrocessos, já que o presidente legitima o patriarcado e o machismo no país. Não podemos aceitar". Para ela, precisamos discutir o acesso ao judiciário e também  a falta de políticas públicas, uma vez que o Estado é machista e misógino. "Quando pensamos no direito das mulheres estamos discutindo uma cultura numa sociedade pseudo-democrática", analisou. 

Advogada  Elda Bussinger. (Adessandro Reis)
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A sociedade é conivente com os homens e deslegitima as mulheres.  Principalmente as mulheres negras e pobres, que continuam sendo violentadas todos os dias

Elda Bussinger
Advogada
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Para a advogada, é fundamental pensar em qual cultura estamos inseridos. "A sociedade é conivente com homens e deslegitima as mulheres. Principalmente as mulheres negras e pobres, que continuam sendo violentadas todos os dias. Não podemos depender da justiça. E eu digo isso com muita tristeza".  Além de dar algumas dicas para as mulheres denunciarem seus assediadores, Elda também reconheceu que é difícil para a mulher tomar a atitude da denúncia. "Muitas não enfrentam seus chefes com medo de ficar sem emprego e deixar o filho sem comida nos dias seguintes. Ou nos unimos ou não teremos o apoio dos homens". 

Assédio na TV Globo

A figurinista Su Tonani contou sobre o assédio sofrido por José Mayer, quando trabalhou na TV Globo. "Era como se ele cuspisse na minha cara todos os dias, aquilo acabava comigo. Ele sempre foi assediador,  fez isso com várias mulheres. Pensava muito nisso também", revelou sobre o episódio. "Era como se eu fosse um objeto,  que ele pudesse fazer qualquer coisa que quisesse", acrescentou. A capixaba fez questão de ressaltar a importância de não pressionar a vítima, para que ela não sofra novamente. "Cada uma reage ao assédio de um jeito e tem a sua forma de lidar com ele. Não podemos pressionar, mas é preciso que saibamos que a coragem está em todas nós. Estamos juntas para humanizar o olhar de uma para outra". 

Su Tonani, figurinista. (Adessandro Reis)
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Era como se ele cuspisse na minha cara todos os dias. Aquilo acabava comigo

Su Tonani
Figurinista, sobre o assédio que sofreu pelo ator José Mayer
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Ela contou que foi questionada pelo fato de não ter feito a denúncia. "Fui inibida por um delegado logo após a minha denúncia. Ele me intimou cinco vezes no meu endereço residencial, com dois policiais inclusive, querendo me forçar a depor na delegacia dele. Tive que ir até a Defensoria Pública, onde fiz um ofício para me proteger. Depois, esse mesmo delegado jogou esse ofício na mídia, que acabou sendo distorcido. Chegaram a inventar que eu tinha um caso com ele".

Ela ainda chamou atenção para o fato de as empresas ainda não estarem preparadas para enfrentar o assédio. "O que de fato é uma medida contra o assédio? É preciso discutir as medidas que as empresas estão adotando para lidar com esse problema. Mas uma coisa é certa: a vítima precisa ser ouvida". 

O assédio no esporte

Já a jornalista Gabriela Moreira, uma das criadoras do movimento "Deixa ela trabalhar", contou sua experiência no universo do esporte, especialmente futebol. "Criamos um grupo para  compartilhar as angústias e também os olhares de cumplicidade". O gatilho para criação do movimento, ela contou, foi um episódio sexista durante uma entrada ao vivo de uma repórter de televisão. "O cara tentou beijá-la ao vivo. Não somos corrimão e nem objeto para sermos beijadas e alisadas. Estamos ali para trabalhar". 

Gabriela Moreira, jornalista. (Adessandro Reis)
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É um caminho longo, mas vejo que o movimento é de conversa, de dividir o que as mulheres têm a dizer

Gabriela Moreira
Jornalista esportiva 
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Para a repórter, as redações e empresas estão refletindo sobre a percepção do que pode ou não acontecer. "É  um caminho longo, mas vejo que o movimento é de conversa e de dividir o que as mulheres têm a dizer. Vejo um futuro mais agradável e saudável", diz otimista. 

Desafios da mulher negra

A mediação do debate ficou por conta da editora adjunta de Cidades, Érica Vaz, que deu um depoimento sobre o desafio de ser uma mulher negra. Há 11 anos no mercado de trabalho, Érica contou que foi a primeira mulher da família dela a fazer uma universidade pública. 

Roda de Conversa Dia da Mulher, na Rede Gaezta(Adessandro Reis)

“Eu frequento espaços que minhas tias e minhas primas não frequentam. As mulheres da minha família foram submetidas de forma muito diferente ao assédio. Eu vivo em ambientes de brancos,  onde o assédio sexual e o moral são mais sutis.  Já elas foram ou são empregadas domésticas, e é muito mais difícil você  provar o assédio que acontece dentro de uma casa do que dentro de uma empresa", pontuou Érica.

Ainda de acordo com ela, as mulheres negras e pobres estão, em sua maioria, em trabalhos mais precários e informais sem contar com uma rede de apoio. “Meu lugar de fala é um pouco mais privilegiado. O assédio moral se manifestava com relação a minha aparência. Hoje fico muito feliz quando vejo uma profissional negra com cabelo crespo levando suas características naturais sem ser reprimida. Quando eu comecei isso não era possível, e estou falando de 11 anos atrás. Como a estética da mulher negra incomoda, essa é uma forma de assédio moral muito bruto. Por isso ficamos felizes quando vemos uma Maju Coutinho na TV”, observou.

Assédio é crime

De acordo com a anfitriã e editora da Revista.ag, Mariana Perini, levantar a discussão sobre assédio na semana em que o mundo celebra o Dia da Mulher é uma forma de ajudar as capixabas a não se calarem.

“Assédio é crime previsto no Código Penal Brasileiro desde 2001, com pena de detenção de um a dois anos para quem praticar o ato. Expor trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes, constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho se caracteriza como crime o qual, muitas vezes, a sociedade se faz de cega”, declarou.

Para a secretária estadual de Direitos Humanos, Nara Borgo, é extremamente importante discutir sobre o assédio sexual ou moral porque as mulheres enfrentam essas situações diariamente. “Quanto mais a gente fala disso, mais a gente encoraja e orienta as mulheres como elas podem se portar, pedir auxílio e denunciar. Esse é um papel que fazemos na secretaria,  o de levar informações e ter mecanismos de proteção dessas mulheres.”

A vice-governadora do Estado, Jaqueline Moraes, também destacou a importância de discutir sobre esse tema em homenagem ao Dia da Mulher. “Uma das partes do evento que mais me marcou foi que as empresas podem trabalhar de forma protetiva e educadora. Além disso, é muito importante ter uma rede de fortalecimento das mulheres. Essas mulheres precisam ser ouvidas, acolhidas e abraçadas quando esse problema acontece.”

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Assim como as outras edições dos Encontros do Saber promovidos pela Revista.ag, nesta quarta-feira (4) também foram arrecadados alimentos não perecíveis para serem doados. Desta vez, a Fundação Clínica Carmem Lucia, que atua na Grande Terra Vermelha, em Vila Velha, foi a instituição beneficiada. Ao todo, 1.600 famílias são cadastradas na instituição que faz atendimentos de saúde, além de projetos para gestantes, crianças e adolescentes.

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