A carioca Denize Nascimento, 35 anos, teve que ter muita perseverança para não desistir. O preconceito, por causa da cor e do cabelo, apareceu cedo. Trago uma memória muito triste da infância onde era chamada de nega do cabelo duro. Chorava muito e minha mãe não sabia cuidar dos meus fios, que desde cedo foram alisados. Eu não me reconhecia bonita, conta. O processo de reconhecimento de mulher negra, de cabelo crespo, que se reconhece bonita aconteceu aos 18 anos, quando ela chega no Espírito Santo para morar. Foi um processo de desconstrução e reconstrução de mim mesma e de quem eu sou. Contei com ajuda de outras mulheres. A gente não se desconstrói sozinha. Bióloga, após trabalhar 8 anos em laboratório, decidiu criar a Nativa Eco-Cosmética. Com uma bacia e uma colher, ela misturava os ativos 100% brasileiros como o pequi, a manteiga de murumuru e de tucumã e testava no próprio cabelo. Os produtos são todos voltados para a crespa e cacheada, já que sempre tive dificuldade de encontrar produtos pro meu próprio cabelo. Acabei criando uma fórmula e fui testando em mim, nas minhas irmãs e primas. Deu muito errado para dar certo e hoje as fórmulas são um sucesso, conta com orgulho.
Denize percebeu que o seu produto poderia virar negócio quando começaram a elogiar seus cachos. Ela vende para vários estados do país. 90% das consumidoras são negras, crespas e cacheadas. Elas se reconhecem na marca. Para ela, mais do que discutir as dificuldades do empreendedor negro, é importante dar destaque para os negócios. Conseguimos nos reconhecer e fortalecer a partir do outro. Estamos dominando o espaço que nos foi negado durante tanto anos. Estar em todos os lugares é nosso direito.
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