A cachorrinha amarela estava em um caixote de feira, às margens da Represa do Guarapiranga, em São Paulo, suja, amedrontada e com fome. Era o ano de 2017. O ciclista Gabriel Rodrigo Pego estava com mais quatro amigos praticando sua maior paixão, o ciclismo. A ideia era passar o dia no local, curtindo a paisagem.
E desde que chegaram lá, a cachorrinha, apelidada por seus amigos de Amarela, não abandonou os cinco por um minuto sequer. Como eu não fiquei muito satisfeito com o nome, resolvi mudá-lo para Yellow. E todo muito adorou, conta.
Eles passaram o dia juntos. E ao anoitecer, na hora de ir embora, ninguém podia levá-la para casa. Como o pai de Gabriel não gostava de animais de estimação, ele ficou com receio de carregá-la. Então, foi obrigado a deixá-la para trás, mas de coração partido.
Naquele dia, estava fazendo um frio danado. No meio do caminho, me bateu um arrependimento sem tamanho e voltei para buscá-la. Como não tinha nenhuma outra forma de trazê-la comigo, a coloquei por dentro da minha camisa, E foi incrível, como ela curtiu o caminho! Veio com um sorriso lá na orelha. E desde então, esse sorriso me alegra todos os dias, ressalta.
Infância humilde
Gabriel conta que desde criança sempre quis ter um animal de estimação, mas, infelizmente, o pai sempre foi contra, pois achava que ele faria muita bagunça. Um dia ganhei um coelho, tinha uns 10 anos, mas ele teve um fim trágico, o gato comeu. Foi muito triste. Depois disso, nunca mais tive nenhum, até a chegada da Yellow.
A sua relação com a bicicleta também começou na infância. Como a família não tinha condições, a mãe não podia lhe dar uma de presente. Mas um dia, a vizinha trocou a bicicleta do filho para uma com tamanho maior, e doou a antiga para o Gabriel. O aro era 20, pequena para mim, mas meu amor por estar pedalando era maior que as dores nos joelhos quando batia no guidão, lembra.
Mas depois ficou impossível andar com aquela bicicleta. E a mãe de Gabriel, vendo a tristeza do filho, resolveu comprar uma de aro 24, a prazo no carnê (sim, ainda era época de carnê).
Depois de alguns anos, ela acabou ficando perdida na garagem, e não andei mais. Até os 17, quando redescobri o gosto de pedalar, usando a bicicleta da minha irmã. Nunca mais parei. Costumo dizer que esse esporte salvou a minha vida, pois onde não há lazer e atividades culturais, a violência vira espetáculo.
Mochila para pet
Agora, os dois, Gabriel e Yellow, vivem juntos explorando vários lugares. Logo que eu a adotei, notei que ela amava andar de bicicleta, então procurei algo na internet que possibilitasse levá-la em minhas pedaladas, mas não encontrei nada seguro, principalmente para o meu estilo, mountain bike. Foi aí que tive a ideia de colocá-la em uma mochila comum, mas nos passeios mais longos, machucava muito, afinal não era própria para transporte de pets, lembra.
Foi quando Gabriel resolveu levar a ideia para um designer de artefatos, para que ele confeccionasse uma mochila para carregar a Yellow. A primeira, conta ele, não deu muito certo. Foram dois meses de testes, até chegar ao modelo final, que é este que ele usa atualmente. Mas, a grande verdade, é que ela nunca teve problema de adaptação, bastava pegar qualquer mochila, que era a maior festa. Mas, claro, com essa o conforto é muito maior, tanto para mim, quanto para Yellow.
50 mil seguidores
Um dia, já em 2018, ele resolveu criar uma conta no instagram (@yellowciclista). O objetivo era mostrar as aventuras de uma cachorrinha ciclista e seu tutor e, paralelamente, inspirar pessoas a fazerem o mesmo, sair do sedentarismo e de quebra fazer a alegria do mascote. Hoje, são mais de 50 mil seguidores.
Eu acredito que o sucesso nas redes sociais é por conta da história de superação da Yellow e seu carisma nas fotografias, isso ajuda bastante também. Antes, ela era uma cachorrinha abandonada, agora é a primeira cachorra empreendedora que é dona da sua própria marca, a Yellow Pet, que além da mochila, vende outros acessórios.
A criação da mochila só aumentou a vontade dos dois de se aventurarem. Hoje, geralmente, eles percorrem em um final de semana de 80 a 130 quilômetros, em destinos variados, cachoeiras, cidades históricas, mirantes, entre outros. E ela se comporta super bem, enfatiza.
Amor retribuído
Segundo Gabriel, eles fazem pausas a cada hora, para a Yellow fazer as necessidades, comer e se hidratar. Como ela gosta bastante de correr eu a solto em lugares tranquilos. Geralmente, dou ração e alguns petiscos. Já para se hidratar, é água ou é água ou coco, que ela adora.
A Yellow, explica, gosta de lugares que tenha bastante água e espaço para brincar, Para mim, uma viagem inesquecível foi a que fizemos para o Rio de Janeiro, quando fomos ao programa da Fátima Bernardes. Foi a primeira vez que ela conheceu a praia.
Quando os dois saem juntos, o sucesso é garantido. No trânsito, a gente distribui muitos adesivos. Mas o principal são as amizades que fazemos pelos caminhos, conta.
E o que ela mudou em sua vida Gabriel? Tudo, de A a Z, tanto como companheira, quanto financeiramente falando. O ato de amor que foi adotá-la, ela me retribui tudo hoje. Não tenho nem palavras para expressar, só mesmo agradecer.
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