A vida social cede espaço apenas para a interação com pacientes e colegas e sem previsão de quando tudo vai passar. Profissionais da saúde têm evitado o contato físico com a família por medo do contágio, a rotina dos hospitais passam por um momento tenso e eles ocupam a linha de frente no enfrentamento de uma pandemia.
De acordo com dados da Organização das Nações Unidas, as mulheres ocupam cerca de 70% dos cargos nos setores social e de saúde. Além disso, em nossa cultura - machista, diga-se de passagem-, elas quase sempre são responsáveis por cuidar da família, dos filhos, da casa, mas e aí? Quem cuida de quem cuida?
Luiza Vasconcelos (31) é médica plantonista em um pronto-atendimento e conta que o estresse é maior do que em qualquer outro momento, além disso, ela diz que os cuidados se aproximam de certa neurose por precisar estar atenta 100% do tempo. Precisamos lembrar de limpar todos os itens da mesa, até a caneta. Quando chegamos em casa, temos que higienizar tudo imediatamente, lavar as roupas, tomar banho. Tudo isso por medo de contaminar alguém que amamos, a gente nunca descansa, nem quando estamos fora do expediente, diz.
Lucimaria dos Santos tem 38 anos e há seis trabalha na área de enfermagem da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital estadual Dr Jayme Santos Neves, na Serra. Ela conta como a pandemia tem mexido com a mente e com a rotina dessas profissionais. Confira a entrevista:
Qual a sensação de compor a linha de frente em um momento como esse, em que o mundo todo está em alerta?
Não é fácil, mas a gente enfrenta a situação de forma real, não é sobre o que dizem as estatísticas, é aquilo que você vivencia. Essa está sendo a fase mais tensa da minha carreira, porque a gente sabe que não pode negar assistência e que vamos enfrentar caos em alguns momentos e em grandes proporções.
O que muda na vida e na rotina de vocês com a chegada da Covid-19?
É muito difícil, além de o nosso trabalho lidar diretamente com o problema, não só eu como vários profissionais da saúde tivemos que tirar nossos filhos da nossa própria casa por falta de opção, pra não colocá-los em risco. Isso é muito triste, mas não há outra forma de protegê-los, nós estamos lá (no hospital) a todo tempo e não estamos imunes apesar de todos os cuidados.
Como foi a reação da sua equipe, dos seus colegas ao se dar conta de que tinham um desafio dessa proporção para enfrentar?
No início, nos primeiros dias em alerta de caos, nós ficamos em pânico, no hospital em que trabalho recebemos assistência psicológica para ajudar a lidar com o momento. Além de toda a preocupação, neste início, estávamos sem o suporte necessário, nos negaram EPIs (Equipamentos de Proteção Individual).
Qual é o clima no seu ambiente de trabalho neste momento?
A entrada de um paciente com suspeita de coronavírus, quando a situação já é mais crítica e falta ar sempre nos deixa muito aflitos, mas é fundamental a gente saber lidar com a situação, o que é uma pressão psicológica também, ver tudo e ter que se segurar. Nós estamos muito juntos nesse momento, buscando forças nos colegas, companheirismo mesmo. É um amparando ao outro.
A sua profissão exige que você esteja sempre na posição de quem oferece o cuidado, você tem a sensação de que te falta amparo?
Sim, mas quando você ingressa na área da saúde, automaticamente você entende que abre mão de muita coisa, até do bem estar da família, para cuidar dos outros. Então a gente sempre tem que pensar no todo. Às vezes nós nem temos a segurança de quem tá de fora, mas sabemos que precisamos enfrentar certas situações de frente.
E sobre você, enquanto pessoa, enquanto mulher, como você se sente agora? O que você tem pra se manter forte nesse momento?
Eu abri mão da vaidade, eu penso só em me manter saudável. Minha principal preocupação é manter a casa o máximo higienizada e esterilizada possível, para quando eu finalmente puder receber minhas filhas, seja um ambiente seguro.
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