Foi durante o plantão, no último dia 15 de maio, que os médicos Katherine Carvalho e Frederico Soyka foram surpreendidos com o casamento surpresa, no quarto onde descansam, no Complexo Hospitalar de Niterói. Tudo porque, naquela mesma data, aconteceria a cerimônia religiosa e a festa de casamento em Petrópolis, cancelada devido a pandemia do novo coronavírus. "A Katherine, que ficaria no plantão por 24 horas, estava trabalhando em outro setor, onde ficam os pacientes com Covid-19 e, por isso, toda organização acabou sendo surpresa. Eu cheguei ao hospital às 19 horas. A princípio haveria apenas um bolinho. Mas os amigos de plantão entraram no clima criaram várias surpresas. Eles queriam que fôssemos à igreja do hospital, mas obviamente não foi possível ", conta o noivo, que é cirurgião geral e residente de urologia.
As médicas e colegas de plantão entraram em ação para cerimônia. Foram elas que providenciaram o buquê feito de papel, os bem-casados, os salgadinhos, o bolo e os arranjos de flores, que decoraram a mesa. Tudo que um casamento tem direito, inclusive o véu da noiva. "Uma doutora fez o véu usando TNT e o arco ela tirou da máscara face shield, que usamos como material de equipamento de proteção individual (EPI). Depois da brincadeira, ela montou a face shield novamente para uso próprio. Nenhum material de EPI foi desperdiçado", alerta a noiva. E foi o médico Ricardo Carvalho o escolhido para ser o celebrante da noite. "Ele se prontificou em fazer a benção e preparou um lindo discurso, que acabou sendo improvisado no final. Com muito carinho fez uma celebração demonstrando o quando gosta da gente".
O casamento surpresa foi um alento para superar dias tão difíceis e não deixar passar em branco a data tão sonhada. "Foi uma sensação muito boa, sabemos que não era um casamento de verdade mas como tudo foi feito com muito carinho e dedicação pelos nossos amigos, sentimos que aquele momento transcendeu uma brincadeira. Tinha muito amor envolvido da parte de todos. E, além disso, uma sensação de esperança e de paz", conta Fred.
O casamento que já estava programado para acontecer na capela de uma pousada em Petrópolis, foi adiado para outubro. "Fechamos a pousada para o final de semana. A cerimônia seria ao ar livre, de tarde, em uma capelinha. A festa no restaurante da pousada. Já estava tudo pago, só aguardando o grande dia. Remarcamos para dia 23 de outubro. Esperamos que até lá as coisas já estejam em ordem e que a festa aconteça com muita alegria. Iremos comemorar nosso casamento e também mais uma vitória da humanidade contra esse mal invisível. Vamos pedir a Deus também que nos presentei com um dia lindo, com muito sol. Porque no dia que estava marcado choveu bastante por aqui", conta a dermatologista.
A celebração terá um gosto ainda mais especial, já que ambos trabalham exaustivamente contra o coronavírus. "Os dias têm sido mais longos que o normal pois temos que ter um cuidado redobrado para não contaminarmos o local de trabalho, a nós e a equipe ao redor. Por serem pacientes de manejo delicado necessitamos de maior vigilância, procedimentos mais complexos o que torna o plantão mais puxado. Além disso trabalhamos com um alto nível de ansiedade e terror, porque o grande vilão da doença é a solidão. O paciente quando internado não pode ter contato com a família, cabendo a nós passar o quadro clínico a todo momento, às vezes até por telefone. É uma dedicação de corpo e alma", relata o médico.
O casal ressalta que a pior coisa da quarentena é o isolamento. "Muito ruim não estar perto de quem a gente ama. Vivemos o medo de nossos pais se infectarem, afinal já são idosos", confessam. Mas não perdem as esperanças de dia melhores. E a vontade, que tudo passe, para que possam trocam as alianças e aproveitar a lua de mel. "Gostaríamos de ir para um local paradisíaco. Certamente o que mais vamos querer é relaxar e curtir a paz", diz Katherine.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta