Abril chegou e uma coisa era certa para o setor da moda: este seria o momento em que as novas coleções estariam chegando às lojas físicas. Mas, há duas semanas, elas estão fechadas e algumas operações estão totalmente paradas. Tudo por conta da pandemia do novo coronavírus que atinge todo o país. E, no Espírito Santo, o vestuário é um dos setores que mais sofrem as consequências.
"Ainda não conseguimos dimensionar o prejuízo, mas a cada dia, pelas notícias que chegam da região Noroeste, as expectativas são mais desanimadores. Dormimos num mundo e acordamos em outro. O setor entrou em colapso e poderá não conseguir se reerguer. Todos os projetos em instalação e em expansão foram suspensos e as encomendas das redes nacionais canceladas. O setor é intensivo de mão de obra e, sem encomenda, quem pôde pagar as rescisões está demitindo. Milhares de empregos serão perdidos", explica José Carlos Bergamim, vice-presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes).
A indústria de moda é parte vital para a economia capixaba que gera milhares de empregos diretos e indiretos. "Os profissionais são unânimes em afirmar que será uma crise de consequências nunca vivida, cuja dimensão ainda não dá para imaginar. Só para se ter uma ideia, o Governo, mesmo sem dinheiro, vai injetar na economia em poucos meses, o equivalente o que se eximísseis com a reforma da previdência em 10 anos", afirma Bergamim
A empresária e estilista da Açúcar Moreno, Hinglyd Fonseca, tinha acabado de reformar uma de suas lojas, onde faria o lançamento da nova coleção, que, claro, não aconteceu. "As lojas físicas representam 90% do meu negócio, a minha venda do varejo é muito forte em relação ao e-commerce".
Ainda não é possível calcular o prejuízo. "As vendas caíram 93% na primeira semana. Em valores equivale a R$ 180 mil de vendas por semana nas lojas físicas. Mas o prejuízo é muito maior", garante. Com todas as lojas fechadas, e a fábrica funcionando parcialmente, a saída para não sacrificar o salário dos funcionário foi as férias. "Foi a solução para a maior parte dos funcionários. E 7 pessoas estão focadas nas vendas online com entregas pela Grande Vitória e descontos em pagamentos à vista", explica a empresária.
A produção mensal da empresa é de três mil peças. Produtos que chegariam nas lojas neste mês, que junto com abril e maio, são os melhores de venda do primeiro semestre. "Acredito que quando tudo se normalizar as pessoas irão voltar normalmente para as compras em lojas físicas. O meu cliente tem necessidade de provar as peças", diz Hynglid.
Para Henrique Hamerski, consultor e professor de marketing e empreendedorismo da Faesa Centro Universitário, o empresário precisará fazer muito planejamento para encarar os próximos meses. Além de ser um momento para fortalecer o e-commerce. "O setor de roupas e acessórios é um dos segmentos que mais possuem vendas online. É importante aproveitar esse momento e marcar presença na web por meio das mídias sociais, fazer contato com os consumidores, enviar informações para os interessados. É uma oportunidade de ajustar a empresa, para passar por esse momento, e principalmente sair fortalecido e preparado para vivenciar o novo mercado que vamos viver", ressalta.
Especialistas acreditam que o consumo tende a se tornar ainda mais consciente depois desta pandemia. "Já tenho vistos alguns movimentos para consumir de produtores locais, comprar de quem está perto, fortalecer o comércio local. É importante as empresas reforçarem isso na sua comunicação que são pequenas empresas, que são locais", sugere Hamerski. Para diminuir o impacto, muitas lojas do Estados têm feito entrega na casa do cliente, oferecido desconto e vendas por rede sociais.
Os empresários Igor Sousa e Rafael Miranda, da Origens, estavam com tudo pronto para comemorar os 10 anos da marca. Lançaríamos a coleção comemorativa de uma década no dia 23 de março. O cenário era muito otimista, estávamos num momento bom de recuperação da economia, confiança do consumidor e as vendas aumentando, conta Igor.
Todas as lojas físicas estão fechadas e o faturamento da empresa caiu em 95%. O nosso forte são as lojas. Estamos agora apostando no e-commerce, investindo muito nesta plataforma. É a única alternativa que temos hoje. Para abril a previsão é de faturamento zero ou apenas 5% , das vendas do site, diz Igor. A produção das cerca de 8 mil peças mensais são terceirizadas em fábricas que também estão paradas. Para evitar a demissão em massa foi proposto férias de 15 dias para todos os funcionários. "A gente sabe que não é o melhor momento, só que é um alternativa para a saúde financeira da empresa", explica Igor.
Foi após uma crise a da greve da Polícia Militar em 2017 que a marca viu o seu poder de compra entre os capixabas. O capixaba tinha perdido a vontade pelo consumo. Criamos a campanha Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima, com t-shirts que foi um sucesso. E também participamos do Ajuda ES, para recuperar a confiança do púbico. Por isso, ele acredita que é preciso paciência e acreditar no futuro. "Não é momento de compra. Mas de repensar na vida, na forma de consumir, de agir e de tratar os outros", diz Igor.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta