A palavra cancelamento está cada vez mais presente no nosso vocabulário. No dicionário, a definição é tornar sem efeito, uma interrupção temporária ou até definitiva. No dia a dia, uma pessoa cancelada é aquela que foi "boicotada" por algo considerado errado que fez, falou ou postou nas redes sociais. É o que explica a psicóloga e comentarista da Rádio CBN Vitória, Adriana Müller. Ela destaca a importância do diálogo nesse processo de anulação do outro para transformar o erro em aprendizado e não causar sofrimento.
Segundo Adriana Müller, o significado da palavra e o objetivo do uso têm a mesma lógica, mas ganhou um novo viés: uma ideia de exposição do erro e até de uma torcida para que a pessoa seja prejudicada pelo que fez.
"Isso [cancelamento] começou lá em 2017 no sentido de promover justiça social, dando voz a determinadas pautas do movimento feminista 'Me Too'. Com o passar do tempo, a ideia foi ganhando uma lógica capitalista de que a pessoa precisa perder seguidores e também sofrer financeiramente, perdendo patrocínios, por exemplo", diz.
Não é raro encontrar alguém cancelado por aí, seja por uma atitude racista, machista, homofóbica, xenofóbica, entre outras.
Em entrevista ao jornalista Lucas Valadão, durante o quadro CBN e a Família, da Rádio CBN Vitória, a comentarista defendeu que as pessoas tenham o direito de evoluir.
"Todos nós erramos e, via de regra, a gente não erra de propósito. Então, é preciso que a pessoa tenha a chance de refletir sobre aquilo que ela fez antes de entrar no 'tribunal da internet com a penalidade máxima'. Todos nós amadurecemos, aprendemos, crescemos. Erramos, mas temos o direito de melhorar, aliás, essa é a ideia, ser cada vez melhor, uma busca constante", afirma.
Adriana Müller explica ainda que o cancelamento pode se aproximar da humilhação pública, gerando reflexos prejudiciais na identidade de quem está sendo cancelado. "A pessoa não tem espaço para se retratar, fica questionando sobre a própria identidade", acrescenta.
"Com o passar do tempo, ela pode desenvolver uma depressão, síndrome do pânico e até uma crise de ansiedade generalizada. Tudo depende da tendência da pessoa, que pode até responder ao cancelamento com agressividade", detalha.
Para todos os casos o recomendado é o diálogo: "É importante e faz com que pessoas de pensamentos distintos interajam. É preciso que cada um entenda o que é o racismo, o machismo, a homofobia e os impactos desses preconceitos. Assim, a gente aprende a ouvir, o que contribui para o nosso desenvolvimento".
Ainda de acordo com a comentarista, o ato de repreender sem qualquer orientação não educa. Pelo contrário, vai apenas ferir o cancelado e não vai promover o desenvolvimento dele como ser humano.
O termo que já é forte na internet, ganhou ainda mais destaque com o Big Brother Brasil 2021, reality show da TV Globo que é realizado anualmente.
Ainda nos primeiros dias do programa o assunto veio à tona. Muitos participantes relataram o medo de ser cancelados nas redes sociais e a situação virou até pauta do programa durante o jogo da discórdia da última segunda-feira (1), após atitudes de alguns participantes do elenco. Lucas Penteado foi "cancelado" pelos colegas de BBB21 depois de uma confusão na festa Herança Africana BBB. Por sua vez, Karol Conká também foi "cancelada" por muitos seguidores, pela maneira que tratou o brother na casa.
Adriana Müller ainda cita que o cancelamento nas redes sociais dos famosos acontece em "onda". "Se um famoso cancela alguém, isso se torna ainda maior pela atuação dos fãs, mas o cancelamento se aplica a todos nós, independentemente da fama. O que muda é a repercussão."
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