A sensação de horror é a mesma - ou até pior - que a que sentimos quando vemos "O Exorcista", de William Friedkin, e olhe que nem é preciso Regan (Linda Blair) virar a cabeça em 180º para a sua espinha "gelar" desta vez...
Brincadeiras à parte, estamos falando do pavor que algumas pessoas sentem quando o celular toca e, pelo visor, aparece um número de telefone desconhecido, com o (malfadado) DDD 11 de São Paulo. Pinta aquela agonia e muita gente pensa tratar-se de uma ligação de telemarketing (não queremos cartão de crédito!), de alguma cobrança (às vezes pode até ser mesmo), um sequestro fake ou um larápio de algum presídio tentando passar um golpe. Muitos não pensam duas vezes e desligam a chamada.
Cada vez mais comum, o infortúnio das ligações misteriosas acontece com muitas pessoas, com gente como a gente e até com os famosos. Não viu a treta de Boninho, o chefão do "BBB", reclamando nas redes sociais que andou recebendo ligações de uma loja de varejo, relativas a cobranças indevida? Ele, pelo menos, atendeu!
Mas (sempre) tem o outro lado da moeda. Entre uma chamada de telemarketing e outra, pode estar um coração angustiado que precisa falar com urgência, usando o "sinistro" DDD 11.
Um desses casos é do empresário capixaba Renato Mapele que, por conta dos negócios, mora em São Paulo há cerca de 10 anos. "Não adianta, quase ninguém atende as ligações com o prefixo 11, quanto mais no Espírito Santo, onde muitas pessoas são bem desconfiadas", desabafou o rapaz, dizendo que o caso é corriqueiro até mesmo entre membros da sua família.
"Vejo que isso acontece muito por aqui, por isso peço para cadastrarem o meu número na agenda, pois alguns só aceitam a ligação de pessoas conhecidas", apontou o rapaz, dizendo que, quando o assunto é profissional, usa uma tática infalível para obter retorno.
"Mando uma mensagem pelo WhatsApp ou até pelas redes sociais, me apresentando, falando que preciso entrar em contato, e deixando o número. O engraçado é que amigos também não me atendem. Só se for dessa forma. Depois falam: 'Renatinho, é você?", brinca, sempre encarando o perrengue com bom humor.
O empresário adianta que essa situação também é comum fora do Espírito Santo. "Em São Paulo acontecia, especialmente quando o meu telefone tinha um número com prefixo 27, mas em uma proporção menor. A cidade é o 'coração comercial' do Brasil, com muitas empresas de fora trabalhando. As pessoas estão mais acostumadas com as chamadas e muitas atendem. Aqui no Estado temos a cultura de correr dos serviços de telemarketing, pois muitos sofrem com isso há muitos anos. Talvez, por isso, a rejeição ao DDD 11 seja maior".
E o "fantasma" dos capixabas não atenderem ligações com o prefixo interurbano também assombra os pesadelos da coordenadora de desenvolvimento Sheila Santos. Nascida no Estado, ela morou em São Paulo por sete anos, retornando há cerca de 12 meses. Sheila sofre por ainda não ter trocado o número do telefone.
"Sou novata na empresa que estou trabalhando, portanto, muitas pessoas ainda não me conhecem. Oh! Nem elas me atendem", brinca, dizendo que o método de mandar WhatsApp no primeiro contato é realmente infalível.
"Já mando uma mensagem no Whats para explicar que sou eu e peço um horário para ligar (e a pessoa me atender!). Isso simplesmente acontece a todo momento", explica, com um sonoro "eu mesmo não atendo números de outras regiões". Pode isso, Arnaldo?
"O povo tem preconceito, mas essas ligações são de DDDs diversos", desconversa, tentando se explicar.
Paulista morando no ES há cerca de 17 anos, o designer gráfico Rodolfo Fugagnoli também afirma sofrer com os dilemas descritos pelos entrevistados. "Não adianta, poucas pessoas no Estado atendem uma ligação quando o número possui o DDD 11. Eles bloqueiam na hora. Já passei por muitos perrengues por conta disso. Tive que trocar o número do meu telefone", revela o rapaz, dizendo que os poucos corajosos (?) que atendiam suas chamadas com o prefixo paulistano ficavam bem desconfiados.
"Às vezes era uma ligação profissional e precisava falar com urgência. Quase sempre ouvia, do outro lado da linha, uma pessoa assustada, falando um alô meio torto (risos) e perguntando quem era, com poucas palavras, sempre desconfortável. O capixaba é mais fechado e estranha ligações com o prefixo de fora", descreve, dizendo que, após passar alguns meses em São Paulo em 2019, por questões profissionais, tentou usar o número de Sampa quando retornou, mas com pouco sucesso.
A fórmula para ser atendido pelos capixabas é a mesma usada por Renato e Sheila. "Quando tinha o número com o DDD 11, primeiro buscava chamar no WhatsApp e me apresentar. Só assim me retornavam", explica, dizendo que também "incorporou" o hábito de não atender ligações com números de fora do ES.
"Confesso que eu mesmo não atendo mais as chamadas (risos). Antes, até fazia isso, mas recebia cerca de oito ligações de telemarketing e cobranças indevidas por dia. As empresas estão ficando espertas e muitas disfarçam o número, usando o DDD 27, para que a gente aceite a ligação. Costumo reclamar, falo que não tenho interesse no serviço, pedindo para retirar o número do cadastro, mas nunca tive sucesso", complementa.
Por falar em traumas de ofertas de serviços comerciais via fone, no Brasil existe um site para cadastrar um número de telefone e não receber mais ligações de prestadoras de serviços de telecomunicações (telefone móvel, telefone fixo, TV por assinatura e internet) e de instituições financeiras (operações de empréstimo consignado e cartão de crédito consignado). Alguns dos entrevistados afirmaram que testaram o Não me Perturbe, da Anatel, e "Bloqueio de Telemarketing", do Procon, e a experiência foi positiva.
Além dos serviços citados, ainda há opções de aplicativos que avisam sobre ligações indesejadas. Alguns deles garantem até detectar vírus em mensagem de SMS. A Gazeta já fez matéria explicando tudo como pode ser feito. Basta clicar aqui e pronto.
Uma outra novidade é que as empresas de telemarketing, de cobrança, bancos e instituições similares vão ter que limitar dia e horário para cobrar ou oferecer serviços aos clientes no Espírito Santo. A Assembleia Legislativa aprovou um projeto que proíbe a realização dessas atividades nos fins de semana. A proposta agora vai para sanção do governador do Estado.
O texto informava que a cabeça da personagem do filme "O Exorcista" girava 90º, quando, na verdade, seria 180º. A informação foi corrigida
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