Consumir de empreendedores LGBTQIA+, pensar produtos e serviços que atendam a este segmento, estar realmente disposto a inserir essas pessoas no quadro de funcionários de sua empresa e fomentar o debate sobre a importância das diversidades para a economia. Estas são apenas algumas das ações principais - e necessárias - para a mudança da nossa sociedade para melhor.
As discussões sobre economia, consumo, empreendedorismo e empregabilidade voltadas para este segmento são urgentes. De acordo com um estudo publicado em 2017 pela Associação Internacional de Empresas Out Leadership, que desenvolve iniciativas para o público em questão, o potencial de consumo do segmento LGBTQIA+ no Brasil gira em torno de US$ 133 bilhões. Isso equivale a R$ 418,9 bilhões aproximadamente, ou seja, cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB). Por isso, algumas empresas já se atentaram a inserir mais diversidade em suas propagandas, mas ainda não é o suficiente.
Outra questão que deve ser considerada é que a ascensão econômica de pessoas LGBTQIA+ aumenta o acesso aos espaços e à informação, assim, facilitando muitos dos processos pelos quais elas precisam passar. Além disso, a independência financeira desses indivíduos pode significar a saída de um uma relação familiar tóxica que, infelizmente, ainda é recorrente. Nestes casos, a emancipação dessas pessoas pode ser parte de um processo libertador.
Rafael Brito tem uma lojinha online no Instagram voltada para o público trans, a 2T Shop Trans. Além da renda, o objetivo dele é contribuir para tornar mais leve o cotidiano das pessoas que compõem seu público. Faço e vendo produtos que ajudam as pessoas trans a suportarem e conviverem um pouco melhor na sociedade com suas disforias de gênero, explica.
Para Rafael, por conta do sofrimento que essas pessoas enfrentam também no mercado de mercado de trabalho, o empreendedorismo acaba sendo uma ótima saída, mas muitos não sabem nem por onde começar. Muita gente tem sua ideia, mas não tem uma base, pois até pra fazer um curso sofre. A transfobia vem logo na primeira etapa, que é a inscrição.
É muito importante falar sobre economia e, principalmente, empreendedorismo. Isso ajuda a mostrar que nós, LGBTQIA+, também somos capazes de ter um negócio que não precise depender de uma contratação, já que a maioria das entrevistas são constrangedoras, complementa.
A universitária Luise Caprini e a dentista Lara Pignaton optaram por experimentar algo totalmente diferente de suas áreas e começar um ecommerce de camisetas e flâmulas bordadas em agosto do ano passado, a Burb Company. Temos nossos próprios modelinhos e também trabalhamos com personalizados, as pessoas mandam fotos e fazemos a partir delas os bordados, contam.
Para elas, dentre muitos motivos, o sonho de emancipação financeira da população LGBTQIA+ costuma emergir principalmente devido ao que se vivencia dentro da própria casa, em questão de preconceito e medo. Num momento que temos o governo e ainda boa parte da sociedade contra nós, é muito bom ver um movimento de apoio aos pequenos negócios, principalmente quando feito por mulheres e pessoas LGBTQIA+. Surge como uma luzinha de esperança, complementam.
Além do apoio aos empreendimentos, também vemos como fundamental que oportunidades de trabalho sejam dadas à esse público. Mesmo ainda sendo um negócio pequeno, optamos sempre por fechar contratos e parcerias com mulheres pertencentes à comunidade LGBTQIA+, a intenção é de formar uma corrente onde todo mundo se ajuda, finalizam as empreendedoras.
A Associação Grupo Orgulho Liberdade e Dignidade (GOLD) atua há quase 15 anos na construção da política LGBTQIA+ e do debate de pautas relacionadas aos Direitos Humanos no Espírito Santo. A instituição promove e fomenta ações, projetos e discussões sobre diversas questões que envolvem a população LGBTQIA+, dentre elas, economia, empreendedorismo e independência financeira deste segmento.
Deborah Sabará é coordenadora da GOLD e explica que a discussão sobre a importância de apoiar o empreendedorismo LGTQIA+ ainda é tímida no estado. Grande parte dessa população encontra-se em situação de vulnerabilidade, então é extremamente importante que as pessoas consumam seus produtos e serviços, porque há muitas dificuldades em uma contratação, explica.
Para colaborar com a mudança neste cenário, a GOLD oferece palestras gratuitas sobre Diversidade Sexual e Identidade de Gênero para empresas, faculdades e escolas. Quando fazemos esse processo, muitos dos preconceitos que foram construídos caem e, quando eles caem, essa consciência contribui para a efetivação dessas pessoas, diz a coordenadora.
Acredito que o caminho seja estender este debate para todos os espaços, para todas as empresas e empreendimentos. Um local de sucesso precisa ser aquele que pensa em toda a diversidade, seja ela de gênero, racial ou de orientação sexual. Só a partir deste diálogo é que pessoa que está em local de decisão sobre a contratação vai pensar a pessoa LGBTQIA+ para a sua equipe, afirma Deborah.
Além disso, em todos os projetos próprios da Associação, as escolhas dos profissionais sempre consideram esses fatores de inclusão, com o objetivo de aumentar a empregabilidade dessas pessoas.
A população de trans e travestis é a que mais sofre em termos de empregabilidade, além de serem o maior número em situação de vulnerabilidade quando comparamos as letrinhas da sigla. Por isso, temos o primeiro Centro de Referência Psicossocial para Pessoas Trans do ES, onde contamos com assistente social, psicóloga e pessoas trans na equipe, para que a pessoa assistida se sinta confortável, explica.
O projeto Mãos que trabalham da GOLD visa a formação profissional na área de cabeleireiro. Ele surgiu justamente pela dificuldade das pessoas LGBTQIA+ em se profissionalizar e conseguir emprego.
São 20 pessoas fazendo o curso e, ao final, elas vão receber um kit com vários itens - incluindo escova, secador, tesoura, máquina de cortar cabelo - para que comecem a trabalhar. Esse projeto foi submetido a um edital e vencemos. Pretendemos fazer mais como esse em outras áreas, outras esferas e abranger mais pessoas, conta Deborah.
Por fim, a coordenadora da Associação chama atenção para a importância do voto, para que a população esteja atenta em eleger pessoas que se importem com a causa e que se comprometam em promover políticas públicas que a contemplem. O maior instrumento que temos para uma mudança é a utilização do nosso título eleitoral, em todas as instâncias. Já tivemos vários retrocessos, várias políticas caíram antes mesmo de a população LGBTQIA+ tivessem acesso a elas, finaliza.
A instituição, batizada de Pride Bank entrou em atividade em novembro do ano passado e destina 5% da receita bruta para ações em favor da causa LGBTQIA+. O banco oferece serviços de conta corrente digital, como transferências, pagamentos de contas e impostos e cartões de crédito pré-pagos, nos quais os priders podem colocar seu nome social, sem a necessidade de usar seu nome de nascimento.
Primeiro do mundo focado no público LGBTI+, o banco digital comemorou 6 meses no último mês de maio e funciona em parceira com a Welight, empresa de tecnologia social. O Pride Bank oferece quatro pacotes diferentes de contratação, que vão de R$ 9,99 a R$ 39,99 e incluem a taxa de manutenção da conta, depósitos, emissão de boletos e outros serviços.
Também é possível não contratar nenhum pacote, mas os custos avulsos estimados são de R$17,69 a R$57,44. Os valores são detalhados no site (pridebank.com.br). No site também é possível conhecer a história do banco e conferir todas as ações realizadas a partir das doações dos 5% destinados à causa.
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