A vida mudou. A rotina de trabalho de muitos profissionais também. Os fotógrafos, acostumados a registrar cenas da cidade, também tiveram que se adaptar as ruas vazias. Monica Zorzanelli, que há 20 anos cobre colunismo social, e fotografa para a coluna Renata Rasseli, de A GAZETA, viu as festas desapareceram da agenda. Em casa, percebeu a oportunidade de se dedicar a um projeto que estava na gaveta. O editor de fotografia de A GAZETA, Vitor Jubini, acostumado a fotografar tudo que acontece nos quatro cantos do Estado também teve que se adaptar, e está trabalhando com design gráfico. Já Ari Oliveira, o craque das fotos de gastronomia, espera que tudo isso passe logo, já que grande parte dos restaurantes estão fechados, e tem usado o seu tempo livre para xxxxxxx Veja os relados desses profissionais que estão acostumados a registrar cenas do cotidiano.
"13 de março: Terei que ficar em quarentena. Alê, meu marido, esteve numa reunião com um infectado em Brasília. Assim, começou meu isolamento. O medo de propagar o contágio falou mais alto.
Hoje (quando escrevo) fazem 26 dias. Eu, que tinha eventos todos os dias, achei que ia estranhar demais, enlouquecer. Não aconteceu. Acho que nunca tinha parado assim, desde os 18 anos. Comecei a curtir mais minha casinha, coisa que nunca tinha tempo, desengavetei projetos pessoais, coloquei em dia alguns trabalhos, cozinhei e curti um recém-casamento que aconteceu há um ano apenas.
Ainda não há data pra terminar, mas não há ansiedade, controlo minha preocupação. Minha válvula de escape é pedalar ou caminhar às 5h30 pra não ter contágio. Quando não dá, faço exercício em casa, orientada pela minha personal trainer que é fera. Mas confesso, a minha maior falta é ver meus pais ao vivo. Isso dói. Mas, sabendo que estão bem, o coração acalma.
Sou abraçadeira, sinto muita falta de abraço. Falo todos os dias com minhas netas e filha, minha mãe e escolho uma amiga. Cuido de não deixar o humor ir embora, quando sinto alguma estranheza me volto pra meditação, música ou bordado.
Convidei Alexandre e ele topou, então todos os dias temos nosso momento autoconhecimento, que apenas conduzo, e cada um desenvolve uma mandala terapêutica livre. Isso cria um vínculo especial que une, mas que individualiza a criatividade, desestressa, e , através do processo artístico, canaliza aflições e angústias. Tem sido rico e delicioso partilhar os dias com ele, que tem a rotina de trabalho ferrenha por reuniões on-line ( maior do que o normal).
Comecei a fazer uns registros fotográficos que chamei de Fragmentos da Quarentena. Coisas que vão quebrando, sobrando, caindo, surgindo no cotidiano... Dei um novo sentido a minha coleção de folhas secas ( tenho mania, amo!). Comecei a bordá-las. Ainda não sei o destino, vou experimentando. Mas esqueço da vida e o dia é pequeno para fazer tudo o que quero. 'Estou' tendo esse privilégio nesse momento tão difícil pra tantos. O amanhã não sei. Eu que sou prestadora de serviço, como vários amigos, estou sem produzir, isso é preocupante.
A maior preocupação são as pessoas, a economia, gente que já tem pouco e vai ter menos ainda. O desemprego em massa... a desesperança. Tento ser útil aos meus vizinhos idosos, as minhas amigas prestadoras de serviço, mas às vezes me acho bem pouco útil.
Tenho juntado doações para cestas básicas, muita gente com fome e muitas tentando ajudar. (Se quiserem, entrem em contato pelo insta!). A maior agonia tem sido as redes sociais com over doses de conselhos, informações, mensagens animadoras e lives. Apesar de amar essa nova linguagem do Instagram, procuro um meio termo que diga da minha alma, pra não entrar no automático do tenho que postar.
Do meu trabalho para a coluna Renata Rasseli, procuro ajudar no que posso, ficando atenta ao que acontece e partilhando com Renata, que já é ultra antenada. Essa semana fizemos uma experiência de fotos remotas, foi desafiador e interessante. Acredito que acharemos novas formas de registros. Transformações que vão somando.
Espero que tudo volte ao normal, mas como era, acho impossível. É tempo de repensar nosso viver".
"A rotina foi totalmente alterada. Tinha o costume de ir para rua, trabalhar em lugares públicos, abertos e depois voltava para redação. Com a pandemia do coronavírus eu e todos os fotógrafos de A Gazeta fomos deslocados para casa. Essa é uma oportunidade de relembrar algumas habilidades que há tempos não praticava, como o trabalho de design gráfico. Estou produzindo peças gráficas para o Instagram do site e também já fiz um infográfico para a edição impressa de final de semana de A Gazeta. Além de contribuir como posso, claro.
Assim como os outros fotógrafos, saio para algumas pautas específicas, vez ou outra, para atualizar o site. Mudou muito o processo de trabalho. A essência é árdua como fotografar ao ar livre e acompanhar o que acontece na cidade. Com a orientação da OMS para o isolamento social, acabamos tendo alguns limites para realizar o nosso ofício.
Ao mesmo tempo que tenho vontade de cobrir os fatos, tenho que ter os cuidados e se proteger. Quando vou para rua, fotografo de longe, utilizando a teleobjetiva, e estou sempre de máscara. A rotina mudou muito, sendo 90% do trabalho realizado dentro de casa. Estou tendo que me reinventar e criar um novo cotidiano, para manter a mente sã. Além disso tem os afazeres de casa e o cuidado com o meu filho que é pequeno, ele não entende a situação. Também tenho aproveitado o tempo para organizar os meus arquivos, rever trabalhos antigos e colocar a minha leitura do mestrado em dia".
Com mais de 15 anos fotografando gastronomia nunca vi uma situação como essa: os restaurantes fechados ou com restrições de funcionamento causando a pior crise da história. Nesse período do ano é quando os restaurantes estão reformulando seus cardápios para a temporada de inverno gerando um bom volume de trabalho. E essa quarentena veio parar todos os projetos. Precisamos torcer para que nossa atividade volte o mais rápido possível para que todo mundo volte a trabalhar e a alegrar os nossos dias.
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