Qual foi a última coisa que você fez pela primeira vez? O isolamento social - aliado ao tempo disponível - tem dado a oportunidade das pessoas experimentarem novas atividades. E com os idosos não é diferente. Eles também têm se reinventado nessa quarentena imposta pelo coronavírus.
Nilda Vasconcellos, 91 anos, há 30 frequenta as aulas de teclado. E, pela primeira vez, teve a oportunidade de fazer o estudo por videochamada. "Achei que não fosse conseguir, mas até que me adaptei bem. Vou tocando e a professora vai me acompanhando. Quando erro ela corrige imediatamente", conta. A aula acontece uma vez por semana e dura 45 minutos. A tecnologia, que poderia ser algo dificultador, é resolvida com ajuda dos netos. São eles que conectam a avó em sua aula on-line.
A música sempre fez parte da vida de dona Nilda. "Sempre gostei. Meu marido me acompanhava e me incentivava". A atividade tem feito esse período de isolamento social menos angustiante. A professora de piano e teclado, Silvânia Saadi, conta que decidiu optar pelas aulas por videochamada logo no início da quarentena. "Faço aulas assim com meu professor que mora em Portugal. Com o isolamento social decidi aderir com as minhas alunas. Tenho várias que são idosas e, no início, elas ficaram receosas. O primeiro encontro virtual foi para ensinar a mexer no celular, depois vieram as aulas práticas. Tem dado supercerto". Para Silvânia, é fundamental continuar com a atividade. "Além de terem uma ocupação em casa, exercitam a cabeça e os dedos, evitando artrose e artrite".
Manter a mente e o corpo ativos não é apenas uma forma de passar o tempo durante a quarentena. O psicólogo Gustavo Souza, da Jequitibá Residência Assistida, explica que é essencial que o idoso se mantenha vigoroso durante esse período. "Estudos sobre envelhecimento indicam a importância de se manter ativo mentalmente, de praticar atividades físicas, de cultivar relações prazerosas e de investir em uma boa alimentação. A atividade é essencial para que o idoso se mantenha bem emocionalmente e com a saúde mental preservada. A família deve ajudar nesse processo, resgatando ações como ler o jornal e sugerir jogos, por exemplo".
É necessário também estabelecer um hábito. "Uma rotina bem estrutura gera segurança e a sensação de pertencimento, além da compreensão de que está protegido. Isso contribui para o bem-estar. Pequenas mudanças também são importantes porque produz estímulos", diz Gustavo.
Rotina que Edith Balbinot, 87 anos, tem se adaptado. Morando sozinha em Vitória, ela costumava fazer caminhadas na praia acompanhada de sua cachorrinha. A atividade física continua, só que de uma nova forma. "Troquei o elevador do prédio pelas escadas. Só subo de escada, é a forma que encontrei de me exercitar aos poucos". Ela também passou a fazer encontros com as amigas através das videochamadas. "E aprendi a fazer os pagamentos da minhas contas de forma digital. Não vou mais em banco e acabo me preservando", conta cheia de energia.
Roni Chaim Mukamal, geriatra da MedSênior, explica que é preciso uma atenção especial ao idoso. "O isolamento social é importante, mas pode ter implicações psicológicas. O recomendado é que eles possam estar ativos e terem atividades, inclusive utilizando recursos tecnológicos como aulas e ginástica online. Se ficarem sozinhos, sem ocupação, podem sofrer distúrbios psiquiátricos".
O médico diz que, com esse período confinado, a perspectiva do idoso começa a ficar limitada gerando ansiedade. "E também pode ocasionar situações de desânimo, depressão e distúrbio no sono. São sintomas que podem se agravar e gera outros mais graves, que a pessoa fica totalmente entregue achando que a vida não vai sair daquilo. Temos que ouvir o idoso", alerta.
Ele ressalta ainda que é importante o contato social entre amigos e a família. "Fazer videochamada, ligações telefônicas... Também temos que ficar atentos ao idoso que mora sozinho, eles estão muito vulneráveis e acabam comprometendo o autocuidado".
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