As baixarias dentro do Big Brother Brasil sempre deram o que falar. Mas, nesta temporada, o comportamento dos participantes da ala masculina tem gerado revolta do lado de fora. Eles fazem piadas pejorativas, reclamam do físico das meninas, que queriam que fossem mais "novinhas" e menos "feministinhas". Os abusos não param por aí e transformam o reality em um verdadeiro show de horrores, com direito a acusações de assédio, machismo e xenofobia.
Por todas as falas e atitudes negativas, os rapazes do BBB20 estão sendo chamados de bando de "macho lixo" e de "chernoboys" pelo público feminino, numa referência clara à toxicidade desse núcleo, que parece ter ficado confinado no tempo das cavernas.
Assim como a audiência do programa, a rejeição aos "machos héteros" vai às alturas. Mas essa postura tóxica não se restringe às paredes daquela casa.
"Apesar da ilusão de que mundo 'real' e virtual não se confundem, de que programas de televisão obedecem a uma outra lógica e/ou que pessoas que ali se encontram estão apenas 'atuando' como personagens, é preciso considerar que os comportamentos ali apresentados refletem, sim, o que acontece 'para além dos muros' da casa. Basta, para isso, checar as notícias relacionadas às diferentes formas de violência contra mulheres (ou outras minorias) para entender que, apesar de alguns avanços, o Brasil ainda é um país machista, racista e classista, cujos comportamentos sociais estão alicerçados numa perspectiva tradicional e conservadora", observa a psicóloga Arielle Sagrillo Scarpati, que é consultora e palestrante em gênero, masculinidade e violência.
Professora e mestre em Comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Yasmin Gatto, que estuda temas como gênero e mídia, concorda e diz que com o advento da internet, nos últimos cinco anos as questões feministas ganharam destaque em muitas esferas, sobretudo nas redes sociais. Vemos o empoderamento feminino muito atrelado às redes sociais, onde as pessoas se posicionam e se engajam sobre questões como machismo e assédio, que aparecem agora no reality show, um programa com grande alcance de público e com participação direta nas redes sociais, comenta ela.
Também para Yasmin, o que se vê ali, no BBB, é uma pequena amostra do que existe aqui fora. Não é como uma novela, não tem nada ensaiado. Ali as coisas acontecem de forma natural. Então, acho que temos um reflexo do que são os homens no nosso país. São pessoas de várias regiões e níveis de formação tendo várias atitudes absurdas em relação à questão de gênero e expondo o machismo que vivemos na sociedade. O Brasil é um país muito machista, um dos que mais matam mulheres no mundo.
Apesar de o debate virtual apontar que essas práticas não são mais tão naturalmente aceitas, ambas especialistas acreditam que é cedo para falar em mudança cultural.
Realizamos avanços. Não é possível negar este fato. Não é possível negar também, no entanto, que esses avanços se deram, majoritariamente, como resultado do movimento de mulheres e não como uma iniciativa (ou mesmo resposta) masculina. Discussões sobre direitos femininos, machismo, feminismo, violência(s) e direitos humanos têm ganhado felizmente muito mais espaço. Contudo, as retaliações têm acontecido em proporção semelhante. Por isso, hoje, um dos nossos maiores desafios é dialogar com pessoas que pensam diferente e engajar principalmente homens nessa conversa, afirma Arielle.
Os debates, segundo a psicóloga, têm mostrado que uma parcela da população está profundamente incomodada com o comportamento desses participantes do BBB20. E essa é uma excelente oportunidade para que a gente consiga conversar sobre esses comportamentos que ainda são vistos como normais e/ou legítimos e, principalmente, sobre quem são os nossos modelos de masculinidade.
Para Arielle, porém, ainda há muito a ser feito: Isso fica evidente não apenas pela conivência do programa, que não pune participantes violentos verbal e fisicamente , mas também pelos números e índices que insistem em nos mostrar como a mulher brasileira ainda está em risco, ressalta ela.
Sujeito do sexo masculino cuja orientação sexual é atrair-se por indivíduos do sexo oposto
Estereótipo de homem hétero que reafirma a orientação sexual o tempo todo, sua gíria favorita é top, geralmente padrão e fã de sertanejo universitário. Ele exibe bens materiais, tira foto no espelho da academia, filma a mão no volante pra postar nos stories, é baladeiro e garanhão.
Faz tudo que o hétero top faz, mas é um pouco mais intenso. O maior medo da vida de um macho hétero é parecer sensível e acredita que se deixar de parecer machão pode ser confundido com um homem gay
Intenso, sua última preocupação é parecer hétero. Tem espírito livre e vende uma imagem de intelectual. O neologismo surgiu exatamente porque ele faz as mulheres pensarem ai, que fofo.
Em inglês, brocialist - contração de brother e socialista (socialist) é aquele que na roda de amigos tem um discurso progressista, politicamente correto, mas com as mulheres acaba reproduzindo atitudes machistas com a desculpa de que foi ensinado assim ou mas a cultura do país é machista. Mestre do mansplaining, a arte de explicar para uma mulher algo que ela já saiba, utilizando normalmente um tom de voz de superioridade.
O combo de aspectos desagradáveis que um homem pode conter: machista, autoestima elevada demais (mesmo sendo, geralmente, medíocre) and inconveniente
O prefixo cherno é utilizado pra se referir a algo radioativo, tóxico (fazendo referência ao acidente radioativo de Chernobyl). O chernoboy é uma versão plus do boy lixo, o famoso macho tóxico
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