Medo, sensação de solidão, julgamentos, pressões familiares e luto são algumas das consequências do preconceito para mães e pais de filhos LGBTQIA+. Essas pessoas vivenciam várias fases até internalizarem a informação que recebem. Muitas delas, não são surpreendidas com a notícia, mas Enquanto alguns pais e mães estão levantando a bandeira por um mundo mais acolhedor, existem outros que continuam fugindo da luta.
Alguns movimentos, como a ONG Mães pela Diversidade, presente há mais de cinco anos nas Paradas LGBTQIA+ de São Paulo, oferecem apoio a essas pessoas que também sentem os impactos da mão pesada da LGBTfobia. A associação também trabalha para garantir pressão popular em assembleias legislativas e na promoção de eventos e mediação de grupos virtuais em que pais e filhos possam conversar sobre sexualidade.
O canal Relaxa, mãe, da jornalista e professora universitária Tatiana Ferraz também atua com a finalidade de ajudar outros pais e mães a superarem o preconceito e lidarem com seus filhos e filhas LGBTQIA+ de forma mais adequada para ambas as partes. Iniciativas como estas são extremamente importantes para que todos saibam que não estão sozinhos nessa luta.
Nadir Gonçalves, mãe de Igor Souza, se surpreendeu durante a tão temida conversa em que o filho resolveu se assumir para a família. Quando ele falou, foi um choque, porque eu não esperava e porque eu nunca percebi.
Ela explica que, por vezes, ainda ocorrem alguns estranhamentos relacionados ao comportamento de Igor, mas que ela tenta lidar com a situação com sabedoria. É meu filho, eu continuo amando ele da mesma forma desde que ele nasceu. Eu amo meu filho, acima de qualquer coisa, de qualquer jeito de qualquer maneira.
Igor Souza se identifica como uma pessoa não-binária e hoje se sente confortável com isso, porém nem sempre foi assim. Hoje em dia eu me sinto grato pelo que eu consegui em relação a minha família. Não foi fácil me assumir pra todos e nem desconstruir alguns pensamentos que eles tinham e ainda têm. Por isso, hoje eu me sinto feliz, mas sei que ainda tem muita coisa a ser feita, diz.
"Eu também preciso entender o tempo deles. Saber o que eu tenho que fazer, qual é o meu lugar, quando devo falar ou me calar. Porque eles viveram em outros tempos, mas também são pessoas que precisam entender a gente, porque nós estamos aqui há muito tempo também", complementa.
Igor considera importante que os filhos só falem sobre o assunto quando realmente se sentirem prontas pra falar e que busquem apoio nos amigos que o compreendem e ajuda psicológica. Aos pais, ouçam seus filhos e perguntem a eles o que eles precisam para serem felizes. Deixá-los numa vida que agrada só as vocês é muito injusto.
O amor é o que eles mais precisam e o amor de mãe é eterno, por isso, só amem, independente qualquer decisão, aconselha Nadir.
O único conselho que dou a pais e mães que passam ou irão passar por processos parecidos com o da minha família é natural, é sempre amor. Com Deus na frente protegendo e nós mostrando a todos que não existe espaço para diferenças.
A frase acima é de Patrícia Sguerçoni, mãe de Rafaela. Ela conta que a filha se destacou desde os quatro anos de idade. Agora, com 20, realmente assumiu e mês passado conversamos com todos da família, mas sempre já sabíamos, diz.
Patrícia explica que recorreu a ajuda e à busca por informações para lidar melhor com a situação. Recorri primeiro ao Senhor, pois não conseguia mudar. Quando Rafa tinha 4 anos, fui a um psicólogo por três anos, depois veio a aceitação, devido a estrutura familiar.
Eu consigo ver o esforço que ela tem feito pra se sentir confortável e entender o fato de ter uma filha travesti. Eu sei que esse estranhamento é falta de informação e receio do que nós, filhas LGBTQIA+, estamos sujeitos no mundo. Mas a gente sempre tem conversado, eu tento ensinar algumas coisas a ela e sinto que nossa relação só se fortificou por termos essa liberdade uma com a outra, conta Rafaela Sguerçoni.
Para Rafa - como é carinhosamente chamada pela mãe -, ter esse apoio familiar é muito importante e considera um privilégio pelo qual ela é muito grata. Digo privilégio porque, infelizmente, não é a realidade de todas as travestis e mulheres transsexuais que acabam sendo expulsas de casa e tendo que sobreviver como podem, complementa.
Ainda hoje, minha família, às vezes, me chama pelo meu nome morto, mas, no mesmo instante, se corrigem. E eu entendo que isso faz parte desse processo, até eu mesma cometo esse equívoco de vez em quando. Afinal, foi uma vida inteira pautada em uma outra verdade, por isso se chama transição, explica.
Rafa acredita que o caminho para processos menos custosos é que pais e mães busquem informação, procurem entender os seus filhos e se entender durante esse processo. Procurar saber de onde vêm seus medos e anseios. Conversar entre si. Ser gentil com vocês mesmos e entender que isso é um processo que demanda paciência.
O que importa é a felicidade, a união. Não é sexo, cor ou raça que vai diminuir o amor que tenho, finaliza a mãe.
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