O comércio e alguns serviços já começaram a retomar as atividades. Muitos pais também estão voltando a trabalhar presencialmente e, com isso, surge o dilema: o que fazer com as crianças, já que as escolas e creches permanecem fechadas?
A psicanalista Bianca Martins explica que vivemos numa cultura com diferentes classes sociais. E a resposta para pergunta é distinta para cada uma delas. "As famílias mais abastadas certamente terão alguém para ficar com as crianças. Só que nas mais pobres as mulheres contam com as escolas e creches para que os pequenos sejam cuidados". Para ela, o ideal é que, num primeiro momento, o Estado fornecesse acolhimento para essas crianças. E que o mundo do trabalho permanecesse remoto até que todas as famílias pudessem voltar com tranquilidade. "Esse problema não é privado e familiar, é social ampliado. A família é uma das responsáveis por isso, mas não a única".
A psicóloga infantil Danielle Alvim diz que uma alternativa para os pais é fazer um revezamento no trabalho presencial, mas isso nem sempre é possível. Outra possibilidade é a rede de apoio, familiares que possam ficar com as crianças ou a contratação de um profissional que cuide delas para que os pais possam sair para trabalhar. "Cada família deverá fazer esse retorno com cuidado e, de acordo com a própria realidade, buscar alternativas para conseguir organizar a vida dos pequenos nesse momento complicado". Vale lembrar que muitas vezes a rede de apoio é os avós. Mas eles estão no grupo de risco.
Voltar a rotina é uma fase de nova 'separação' entre pais e filhos. E, dependendo da idade, a criança vai precisar de um processo de reorganização da rotina sem os pais. "A 'separação' tem que acontecer gradualmente e não de uma hora pra outra. Uma dica é fazer poucas horas de trabalho na primeira semana até completar a semana cheia, ir se separando aos poucos e fazer um laço de segurança com a pessoa que vai ficar com o pequeno", sugere Bianca.
O retorno dos pais ao trabalho pode ser impactante na vida das crianças. "Algumas durante este período estabeleceram um dependência emocional maior em relação ao pais. Eles precisam conversar com seus filhos sobre o retorno e proporcionar a eles tempo com qualidade, quando estiverem juntos. Passar segurança, dar atenção, abraços, beijos e brincar para que eles sintam que, mesmo estando um tempo fora de casa, retornarão. Isso fará com que a criança se sinta amada e segura. Crianças que se sentem amadas e aceitas têm condições de se desenvolver melhor e passar por situações desafiadoras de maneira mais tranquila", explica Danielle.
É importante conversar com os filhos, porque eles absorvem tudo que acontece dentro de casa. "O diálogo aberto sobre o que está acontecendo é fundamental. Com isso eles vão expor suas preocupações, medos, angústias e fazer com que não apresentem comportamentos negativos durante este período", diz Danielle.
Ela explica que a criança se desenvolve com tudo que ouve, vê, sente, experimenta, cheira... E cria seu repertório de vida com as experiências. "Os pais precisam estar atentos para proporcionar experiências de qualidade para seus filhos".
Bianca ressalta ainda que nem os bebês devem ser poupados. "A conversa deve acontecer mesmo com os bebês. É importante fazer o corte, dizer que está indo e que vai voltar. Não falar nada é um precipício emocional".
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