Há alguns dias, o Instagram lançou um pacote de figurinhas que podem ser usadas no Stories para comemorar o “Ramadan” (que pode ser grafado como Ramadã ou Ramadão), mês sagrado de jejum e oração para os muçulmanos que, neste ano, começou na terça-feira (13) e terminará em 12 de maio. Com o intuito de aumentar a conexão dos adeptos à religião islâmica durante o período sagrado, as figurinhas acabaram tendo um outro uso, que gerou polêmica nos últimos dias.
Muitos usuários da plataforma usaram as figurinhas para ganhar engajamento, tendo suas publicações vistas por mais gente. A atitude gerou desconforto e foi vista como desrespeito por muitas pessoas e adeptos da religião. Esta não é a primeira vez que conflitos desse âmbito acontecem. Os stickers do Ano do Boi - relacionados ao calendário chinês -, do Dia do Orgulho LGBTQIA+, entre outros, em algum momento geraram polêmica.
Em meio às manifestações sobre o Ramadan, está a da influenciadora Mariam Chami. Em sua publicação, a brasileira, que é muçulmana, mostrou de forma bem humorada o significado das figurinhas e do Ramadan - período no qual os muçulmanos se dedicam a jejum e à oração - obtendo mais de 2 milhões de visualizações.
Quem também deu sua opinião sobre o assunto foi a capixaba de 35 anos, Flávia Martinelli. Advogada e mediadora judicial, ela professa a religião muçulmana desde 2013, quando morou nos Estados Unidos para fazer mestrado. Já tendo se convertido, ela chegou a morar cinco meses no Egito.
"Eu acho que todo este burburinho teve mais pontos positivos do que negativos. É bom porque dá visibilidade para gente. Quanto mais gente conhecendo a religião, desmistificando, aprendendo o que significa, mais respeito a gente tem. Eu prefiro olhar pelo lado positivo, de levar conhecimento a mais pessoas. Querendo ou não, o preconceito existe pelo desconhecimento e essa visibilidade é muito importante para desconstruir estereótipos. A gente quer só o respeito das pessoas. Acho fantástico esse espaço e que aconteça cada vez mais"
Com vasta experiência fora do país e conhecedora da religião, Flavia explicou à reportagem no que consiste o "Ramadan", um dos cinco pilares do Islam, que deu origem a três ícones lançados no Instagram neste mês. No fim da matéria, ela mostra o significado de cada ícone utilizado pela rede social.
Flavia começa dizendo que o Ramadan é o nono mês do calendário islâmico. "Durante este mês, os muçulmanos não devem ingerir bebidas e alimentos (nem água), se abstendo também de relações sexuais, no período entre a alvorada e o pôr do sol. A prática é obrigatória para o muçulmano que atingiu a puberdade, exceto para aqueles que possam ter a saúde comprometida pela falta de alimento ou líquido, seja de forma transitória ou permanente, dentre outras situações de não obrigatoriedade", definiu.
Segundo Martinelli, além do jejum físico, é estimulada também a prática da caridade, bem como a intensificação dos atos de adoração com orações voluntárias e leitura do Alcorão. "O Ramadan ocorre com base no ciclo lunar. Ele começa e termina com o surgimento da lua nova no céu. De acordo com a tradição religiosa, este foi o período em que o profeta Muhammad - que a paz e as bênçãos de Deus estejam sobre ele - começou a receber as revelações do Alcorão enquanto meditava na caverna de Hirá, em Meca", acrescentou.
A capixaba explica ainda que a noite mais importante do Ramadan chama-se 'Noite do Decreto', em árabe “laylatul qadr”, que foi justamente o momento em que Deus fez a primeira revelação do Alcorão para Muhammad, e parte dos muçulmanos acredita que aconteceu durante a vigésima sétima noite do Ramadan.
Nesta noite, segundo ela, Deus recompensa os atos de devoção. "A recompensa é maior do que se os atos de devoção fossem feitos em mil meses. Por isso, os muçulmanos intensificam suas orações nos últimos 10 dias de Ramadan, em busca desta noite. Ao final dos 29 ou 30 dias de Ramadan, temos o Eid, que é a festa que marca o final do período", afirmou.
De acordo com a advogada, ter se convertido foi uma grande experiência pessoal, com a qual se identificou. Socialmente, no entanto, foi desafiador e ainda é, devido aos estereótipos criados à religião.
Para o ingresso no islamismo, ela contou que não houve ritual, mas apenas a escolha consciente nos pilares da fé. "A religião prega a obediência e submissão à vontade de Deus, e o monoteísmo puro, de que não há outra divindade senão Deus, digno de adoração. Hoje sinto que dou mais valor a minha família e ao que realmente importa na vida", disse.
Flávia contou que já foi casada com um árabe e muçulmano. "O pai do meu filho é árabe. Hoje estamos separados, o divórcio é permitido na religião. Mas mesmo antes de conhecê-lo, eu já professava a religião. Para meus demais familiares e amigos, no início, quando me converti, foi um pouco difícil, como tudo que é novo, mas hoje me respeitam muito", pontuou.
Os três ícones lançados no Instagram indicaram o 9° mês do calendário lunar que se chama Ramadan. Confira os significados:
O primeiro ícone representa uma mesquita, que é o local de oração dos muçulmanos.
O segundo ícone é a lua, que marca o início do mês lunar e orienta os muçulmanos ao início do mês e do jejum de Ramadan. Também indica o fim do período (com o início do próximo mês, que se chama Shawwal), que é determinado através da observação da lua, sendo que o mês no calendário lunar pode ter 29 ou 30 dias, a depender das fases do astro. Ela pode ser usada também para representar as noites do período de jejum, quando as refeições em família ocorrem.
O terceiro ícone é um prato com tâmaras e chá. A tâmara é tradição e sua ingestão é comum para quebrar o jejum. "O profeta Mohamad assim o fazia e recomendou que seja feito. Com chá ou com água", definiu a muçulmana. Ricas em açúcar e comuns no Oriente Médio, as tâmaras costumam ser consumidas nos horários possíveis para evitar a queda dos níveis de glicose durante o jejum prolongado.
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