Estimativas feitas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o Brasil é o país mais ansioso do mundo. Os dados mostram que, em 2020, cerca de 9,3% dos brasileiros apresentavam transtorno de ansiedade, o que representa, aproximadamente, 19 milhões de pessoas. Uma das práticas que têm se tornado comum para driblar esse tipo de problema é o ioga — isso porque a atividade visa trabalhar não somente o corpo, mas também a mente, o que é beneficial para a saúde física e mental do indivíduo.
De acordo com Francisco Kaiut, professor de ioga, quiroprata e terapeuta natural, o ioga, por se tratar de uma prática que trabalha com o corpo e com a mente de forma interligada, pode atuar na solução de vários problemas. “O ioga pode ajudar quem tem dores na coluna, bem como quem precisa reduzir o estresse e a ansiedade. Todos podem praticar ioga, inclusive crianças e idosos, já que a prática traz qualidade de vida”, explica.
Segundo o professor, os benefícios do ioga para a saúde mental são tão evidentes que a prática é utilizada, inclusive, no tratamento de alguns transtornos psicológicos. “Quando combinado com um acompanhamento psicológico e/ou psiquiatra, o ioga pode ajudar no tratamento de algumas condições, como o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)”, ressalta Kaiut.
Ele detalha que o impacto do ioga na saúde mental ocorre, principalmente, devido aos efeitos da prática no sistema nervoso. O professor criou o próprio método, onde os estímulos articulares estão ligados às diminuições de um estado de reação, o que tranquiliza o corpo e também a mente.
"Tudo isso diminui o ritmo interno e possibilita um estado de presença. E engana-se quem pensa que o estado de meditação, na prática do ioga, é simplesmente uma sensação momentânea de conforto e calma. Esse estado meditativo está relacionado a descargas químicas, proporcionadas pelo sistema nervoso parassimpático, o que traz uma real qualidade de vida ao indivíduo”, explica Kaiut.
Dessa forma, fica fácil perceber como e por que o ioga contribui para a saúde mental das pessoas. Kaiut aponta que, além dos transtornos psicológicos, a prática pode ser utilizada para diversas outras condições. “O ioga diminui o estresse, promove a concentração, ajuda o indivíduo a entender e a controlar suas emoções e até mesmo previne doenças. Com certeza a atividade só traz benefícios para quem a pratica”, finaliza.
O especialista explica que esse cenário, de ansiedade, acontece por uma diversidade de fatores. “A vida contemporânea leva as pessoas à ansiedade. Problemas socioeconômicos, falta de tempo e um estilo de vida pouco saudável são alguns dos aspectos que podem levar ao desenvolvimento do transtorno de ansiedade”, especifica.
Os sintomas da ansiedade podem aparecer de diversas formas, uma vez que as pessoas manifestam diferentes reações. Entretanto, é possível destacar os principais: tensões e dores musculares, agitação constante e cansaço excessivo.
“Todos esses sintomas, quando não tratados, podem levar às crises. Nessa situação, a pessoa sente taquicardia, falta de ar e até tremores. Para contornar as crises e os sintomas gerais de ansiedade, é necessário agir de forma terapêutica no sistema nervoso, com práticas que ajudem a equilibrar esse sistema”, aponta Kaiut.
O professor explica que, durante uma crise, é possível aliviar os sintomas com a prática de ioga. Para isso, Kaiut selecionou três posições que podem te ajudar nesses momentos.
“Deite-se no chão ou na cama e coloque as pernas para cima. Busque apoiá-las na parede. Deixe seus braços relaxados e confortáveis e feche os olhos. Nessa posição, a gravidade vai desacelerar seu corpo e te ajudar a se acalmar”, explica Kaiut.
“Você precisa fazer posições simples para evitar ou para diminuir os sintomas das crises de ansiedade. Nessa posição, você precisa estar sentado de pernas cruzadas sobre um apoio”, aponta. Nesse caso, você vai precisar se sentar sobre um apoio – como uma almofada no chão – e apoiar as costas na parede. Você deve, também, cruzar as pernas. Na sequência, relaxe o corpo e tente não fazer esforço algum para se manter na posição. Em seguida, feche os olhos e comece a perceber como sua respiração irá mudar. Com isso, você vai sentir uma sensação maior de relaxamento, pois a posição vai agir para regular o sistema nervoso.
“Nessa posição, você precisa estar deitado no chão ou na cama, com a cabeça e as pernas apoiadas – com um travesseiro, por exemplo. Após se deitar, coloque as mãos sobre o abdômen e relaxe os braços. Mais uma vez, feche os olhos e comece a perceber sua respiração”, ensina Kaiut.
Segundo a psicóloga do Viver Bem Unimed Naira Delboni. O ritmo intenso do home office, com a atenção dividida entre trabalho e família, por exemplo, fizeram com que os nervos se exaltassem. Quando um simples estado emocional passa a gerar uma resposta física do organismo, é preciso estar atento para as consequências. “O estresse pode provocar desequilíbrio hormonal, psíquico e que pode causar a baixa imunidade, englobando todo o processo químico do nosso cérebro”.
Ela diz ainda que buscar ajuda profissional de psicólogos ou psiquiatras é o mais indicado para colocar as emoções em ordem, realinhar e planejar uma nova rotina. Outra forma de amenizar os sintomas do estresse é apostar em ambientes restauradores, lugares ligados à natureza como praia e campo, que promovem a sensação de bem-estar.
“Dormir bem, cuidar da alimentação, pensar antes de agir e contar até 10, são atos que nos fazem relaxar e viver melhor o dia a dia. Meditação, relaxamento e ioga também são alternativas que podem trazer benefícios fantásticos para a melhora do estresse, controlando também a ansiedade a longo prazo”. Aprender a se conhecer, identificar gatilhos, trabalhar técnicas de respiração e relaxamento, podem garantir resultados benéficos para a melhora da qualidade de vida das pessoas que sofrem com o estresse.
Mais da metade da população brasileira (61,7%) recorreu à meditação, fitoterapia, reiki, aromaterapia, homeopatia e outras Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICs) em 2020, o primeiro ano da pandemia de Covid-19. A conclusão é da pesquisa PICCovid – Uso de Práticas Integrativas e Complementares no Contexto da Covid-19, desenvolvida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com outras instituições. Os resultados foram apresentados em julho deste ano.
“Os dados mostram as estratégias adotadas para promover o autocuidado no primeiro ano da pandemia, um contexto de muitas incertezas, inseguranças e estresse, marcado pelo isolamento social e o luto”, adianta o coordenador da PICCovid, Cristiano Boccolini, pesquisador do Laboratório de Informação em Saúde do Icict/Fiocruz.
De acordo com a pesquisa, as práticas integrativas e complementares em saúde mais utilizadas em 2020 foram plantas medicinais e fitoterapia (28%), meditação (28%), reiki (21,6%); aromaterapia (16,4%); homeopatia (14,5%); terapia de florais (14%); ioga (13%), apiterapia (11%), imposição de mãos (10%) e Medicina Tradicional Chinesa / acupuntura (7,8%). Foi registrada maior adesão da população a essas terapias nas regiões Centro-Oeste (71%) e Sul (70,8%), seguidas de Sudeste (63,4%), Norte (52,3%) e Nordeste (45,6%).
“A investigação foi conduzida a partir de um questionário on-line, respondido no ano passado por 12.136 brasileiros com mais de 18 anos. Podemos dizer que é o estudo mais abrangente sobre o tema já realizado no país. Um diferencial metodológico importante é que listamos as 29 PICs presentes no Sistema Único de Saúde (SUS), de forma a facilitar o seu reconhecimento pelos participantes”, detalha Patricia Boccolini, pesquisadora da FMP/Unifase.
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