Seu filho sempre foi um adolescente como outro qualquer, com todos seus humores variados, suas vontades típicas da idade. Mas, de um tempo para cá, parece mais sério e quieto. Se alguém puxa papo, logo leva uma patada. E se alguém reclama, ele promete sumir. Talvez seja hora de chamar para uma conversa. Ignorar, achar que é coisa dessa fase, pode abrir brecha para um problema ganhar força: a depressão, uma das principais doenças em adolescentes, segundo a Organização Mundial de Saúde.
Ela pode se manifestar em vários graus. Mas se não for tratada, pode evoluir para algo mais grave ainda e fatal. Deixar passar não é a saída. O tema vai guiar o próximo Encontros do Saber, no dia 9, um evento da Rede Gazeta em parceria com a Casa do Saber Rio, que tem como anfitriã a Revista.ag. Entre os convidados está Ricardo Krause, presidente da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil. Com o tema Precisamos falar sobre suicídio e homicídio entre os jovens, o evento tem ainda a participação da psicóloga, terapeuta de família e comentarista da Rádio CBN Vitória, Adriana Muller.
Discutir a depressão entre os jovens é importante porque essa faixa etária ainda não desenvolveu estratégias para lidar com a dor psicológica. Eles não têm experiência de vida, maturidade mesmo, para lidar com isso, e enxergam, muitas vezes, o suicídio como única saída para acabar com o sofrimento, diz ela. São os pais que têm mais chance de perceber os sinais, que costumam acontecer dentro de casa. Vivemos numa cultura que acredita que não se pode conversar sobre suicídio para não estimular. E que não adianta nada, porque quem quer vai se matar de qualquer jeito. O senso comum acha isso, mas as pesquisas mostram que é exatamente de diálogo que a pessoa precisa. Quanto menos ela fala, mais isolada vai ficando, e cresce a convicção de que não tem solução.
Seu filho precisa se abrir. Quando a gente fala consegue organizar o pensamento e transformar o sentimento de uma forma coerente e lógica para que o outro entenda. Isso faz com que a gente se escute e pondere sobre a situação que estamos enfrentando. Isso alivia. Mas se o contexto em que a pessoa vive não é aberto, ela tende a se isolar, o que faz com que o problema tome grandes proporções, observa ela.
Tudo começa com um olhar mais atento. Não é algo do dia para a noite. É um processo. A pessoa vai perdendo a esperança, tem ideias, vai planejando, a coisa vai crescendo. E ela vai dando alguns sinais. Aí, o melhor é não esperar. Esses comportamentos já são um pedido de ajuda. Deixar para depois pode ser tarde. E se a iniciativa partir dele, pare o que estiver fazendo. Nessa hora, não tem nada mais importante. Não pode virar as costas. Porque se alguém nesse grau te chama para conversar, está pedindo socorro. Não é qualquer ajuda. Prepare-se: não vai ser fácil esse diálogo, garante Adriana. Mas esteja preparado para ele, mesmo que você esteja ouvindo desaforo o dia inteiro. É preciso ter o que ela chama de escuta generosa. A conversa precisa ser num lugar calmo. Deve-se parar tudo e ouvir. Não é momento de dar conselhos, dizer que ele precisa se esforçar mais, se controlar mais. Não é hora de dar soluções, tentar resolver ou minimizar.
Se não consegue fazer isso, procure outra pessoa que o faça. Mas não deixe seu filho encarar essa dor sozinho.
Comecei a ter sintomas da depressão por volta dos 10 anos de idade. Eu era muito novo e não me lembro de muita coisa. Meu pai era usuário de drogas. Tinha muita briga dentro de casa, entre meus pais. Minha mãe lutou anos por ele, mas não deu certo. Depois ele foi embora. Eu e minha mãe nos mudamos de cidade, fomos morar com minha avó. E aí, ela morreu de câncer. Foram diversos traumas de infância. E com a morte da minha avó meu mundo desabou. Foi algo desastroso. Eu sentia como se ela tivesse me abandonado, e não como se tivesse morrido. Já tinha tido episódios de automutilação, mas isso ficou mais intenso. Na outra cidade, passei a sofrer bullying. Eu pesava 78 quilos, o que era muito para alguém da minha estatura, de 1,50m. Era como se eu vivesse numa caixinha. Me automutilava na barriga, na perna, no braço. E na adolescência, comecei a pesquisar esse mundo trans. Eu não conseguia me aceitar. E era bem masculino até, com o cabelo mais curtinho, roupa larga Minha avó morreu no final de 2015. Era mais ou menos setembro de 2016 quando tentei suicídio. Foi na escola. Tomei os remédios que minha avó tomava no tratamento dela. Alguns amigos notaram, mas ficaram perdidos. Eu estava bem dopado quando minha mãe chegou. Vomitei um pouco do remédio e fui melhorando. A psicóloga da escola ficou sabendo e começou a conversar comigo sobre isso. E fiquei sabendo de outros amigos que estavam também se automutilando. Acabei entrando em um grupo de pessoas que já tinham tentado suicídio. Fizemos um livro, um clipe musical Desde então, não tentei novamente. Se eu disser que não tive mais vontade vou estar mentindo. É uma doença de altos e baixos. Uma hora você está bem, outra hora não está. O que me ajudou foi o amadurecimento. O tempo foi passando. Tudo passa é uma frase de que gosto bastante. O grupo me ajudou a colocar isso para fora. Minha namorada me ajudou bastante, no emocional. Hoje tenho ainda depressão e ansiedade, mas não trato com remédio. Às vezes, me sinto insuportável, não quero estar perto de ninguém. Minha mãe não me aceita como trans. Então, isso dificulta bastante. Não consigo manter uma vida social, não tenho paciência para conversar no WhatsApp. Mas encontro com um amigo ou outro. Estou ainda lutando contra isso tudo.
Observe os sinais: fique atento se seu filho está indiferente, sem planos. Ele pode estar mais isolado, se afastar dos amigos mais próximos e não curtir mais atividades que curtia antes. Veja se houve mudança no rendimento escolar, sono, apetite. Ele pode estar mais agressivo do que o habitual e soltar frases do tipo: eu vou sumir, vou deixar vocês em paz, sou um perdedor mesmo ou os outros são mais felizes sem mim....
Não espere para ter uma conversa. E se seu filho tomar essa iniciativa, pare o que estiver fazendo. Não deixe para depois. É um pedido de ajuda de alguém desesperado
Escolha um local calmo, confortável. Não vai ser na porta do prédio, no pátio da escola ou no shopping. Não tente dar conselhos, soluções, tentar resolver ou minimizar a questão. Pratique uma escuta generosa, sem julgamentos. Uma dica é fazer perguntas abertas, que não podem ser respondidas com um simples sim ou não. Uma questão pode ser, por exemplo: Qual foi a última vez que você viu seus amigos?.
Se não for possível para você ter essa conversa, chame outra pessoa de confiança que possa fazer isso. Avô, avó, tio, tia, primo, um padre ou pastor, qualquer pessoa que possa ter a chamada escuta generosa, sem querer dar conselhos ou sugerir soluções. Alguém para simplesmente ouvir seu filho e acolhê-lo nesse momento.
Olá, pessoinha! Tudo bem? Talvez não, talvez sim...Se as coisas estiverem meio bagunçadas, apenas RESPIRE! Mantenha a calma. A vida tem altos e baixos, sempre será assim. Nós devemos aprender a lidar com os momentos difíceis da melhor maneira possível (lembrando que é o seu melhor modo!).O suicídio nunca será a melhor solução. Peça ajuda sempre! A sua vida vale muito! Você é importante! O mundo precisa de você! Você é incrível e perfeito (a) da sua maneira!Lembre-se que você pode e deve conversar com especialistas, procurar ajuda! Sua vida vale MUITO!
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