Hospedar-se em um casarão dos anos 20. Tomar banho em uma cachoeira e com alguns passos chegar ao quarto da pousada. Viver a experiência da plantação do socol. Poder produzir a sua própria geleia com uma expert. Os pontos turísticos sempre fizeram sucesso e vão continuar sendo atrações em qualquer lugar do mundo. Mas, no pós-pandemia, o turismo de experiência ganha ainda mais visibilidade. Nele a ideia é estimular a vivência e o envolvimento com as comunidades locais e o aprendizado de novas atividades, como a produção de artesanato.
O turismo de experiência vem crescendo nos últimos anos e certamente ganhou força por alguns motivos. Primeiro porque o brasileiro vem se tornando um viajante mais experiente, valorizando viagens para destinos que possam proporcionar sensações, aprendizados e serviços diferenciados. Outro aspecto é que as pessoas estão mais sensibilizadas com a toda a crise, então, serviços turísticos com apelo emocional e experiências diferenciadas tendem a ser mais escolhidos, explica Richard Alves, da Lab Turismo, empresa que atua no desenvolvimento e na implementação de soluções para melhor gestão e inovação de destinos e empresas turísticas.
A tendência é que, nos próximos meses, viajaremos para lugares mais perto de casa, valorizando empreendedores e pousadas locais. Temos uma forte tendência para viagens de carro em distâncias menores nos meses que virão. Isso por conta de fatores como a recuperação lenta da malha aérea no país e no mundo. Outro ponto é que, apesar de todas as afirmações das empresas aéreas quanto à segurança para a saúde nas viagens de avião, muitas pessoas sentem-se mais confiantes, neste momento, em viajar em seu próprio carro. Temos que lembrar também que as restrições de muitos países em receber brasileiros e a alta do dólar também favorecem que as pessoas viajem mais dentro do Brasil, diz Richard.
Cássia Coppo, da startup Espírito em Rede, aponta que as pessoas levarão em consideração algumas premissas ao viajar. Entre elas estão a busca por passeios e atividades realizadas por grupos pequenos; o deslocamento para viagens curtas, com no máximo 400 km da residência; além da procura por atividades de natureza e espaços ao ar livre, diz.
Ela explica que o turismo de experiência é uma nova forma de fazer turismo, onde existe interação real com o espaço visitado. Essa prática turística está relacionada com as aspirações do homem moderno, cada vez mais conectado e em busca de experiências que façam sentido. A ideia é estimular vivências e o engajamento em comunidades locais que geram aprendizados significativos e memoráveis, a famosa mão na massa, conta Cássia.
Para Richard, esse tipo de viagem é aquele onde a pessoa tem a oportunidade de vivenciar momentos únicos relacionados com história, cultura, gastronomia e serviços diferenciados de um local. A premissa é que a pessoa não viaja somente para dormir em um quarto de hotel ou alimentar-se como necessidade fisiológica, mas sim para viver momentos de encantamento, ser surpreendida e religar boas memórias afetivas.
Memórias afetivas: quem se hospeda no Solar do Lagarto, em Muqui, tem essa sensação. A casa com características dos anos 20 tem móveis antigos, toca discos e louças que contam a história da residência. Trabalhamos com o conceito cama e café, que consiste em hospedar pessoas em um espaço que originalmente era apenas residência e que ainda guarda todas as características de uma casa, explica o proprietário Ériton Berçaco.
São quatro quartos de tamanhos diferentes, e o diferencial é que nas paredes deles e dos ambientes coletivos como hall, sala e biblioteca, há obras do pintor italiano José Monty, feitas à mão nas paredes da casa. É, literalmente, hospedar-se em meio a essas obras de arte. As janelas e portas - também entalhadas à mão, pelo escultor José Derci, em 1927 - reproduzem o desenho de corações, pulmões e costelas, fazendo uma referência direta à profissão do primeiro dono, que foi um dos primeiros médicos de Muqui, conta Ériton.
Ali a experiência é levada a sério. Os calçados ficam no alpendre e o hóspede pode sentir o contato com o piso todo em peroba amarela e jacarandá. À noite, após acomodar-se no quarto, é possível ouvir um vinil original em um toca discos antigo, ao sabor de queijos e vinhos que o próprio hóspede leva. Há também o café especial da agricultura familiar de Muqui, premiado nacionalmente, com queijo da roça, pães e bolos caseiros. No momento, as reservas estão suspensas, pelo menos, até o final de setembro. Mas muitas pessoas têm nos procurado a fim de conhecer essa casa histórica, tombada como patrimônio histórico estadual, diz Ériton.
O que muita gente também tem desejado experimentar é o banho de cachoeira e a hospedagem da Estação Verde e Água, em Domingos Martins. A propriedade foi adquirida há 23 anos, quando a restauração florestal foi prioritária. A pousada existe há dois anos e sete meses e propomos o relaxamento através da interação com a paisagem, onde a floresta, a cachoeira e as piscinas naturais têm papel fundamental, conta o dono, Renato de Jesus.
São 11 suítes, uma delas com um ofurô. O que variam são os mimos. Todas têm frigobar, ar-condicionado e televisão. São ambientes agradáveis, circundados pelas florestas e bosques e pelos sons de pássaros, da cachoeira e das piscinas naturais, diz Renato. Ele conta que o principal foco é possibilitar o convívio do hóspede com a natureza, já que 92% da propriedade são formados por um remanescente da Mata Atlântica e 4% por bosques. Com certeza muitos deles estarão vendo uma floresta viva pela primeira vez. Enfatizamos que toda a floresta existente passou por tratamentos que estão propiciando a restauração ecossistêmica, ficando evidenciado que é possível conviver com ela, e ainda, de forma natural, ganhar dinheiro. O ecossistema que abrange a nossa pousada, com suas interações, é o seu principal fruto.
A pousada está funcionando seguindo os protocolos estabelecidos pelas autoridades. Nas conversas com os diferentes hóspedes sentimos que a palavra-chave é relaxamento. É para esquecer as agruras do cotidiano urbano, diz Renato.
Já pensou em fazer geleia? Quem visita a Dona Martha Delícias, em Venda Nova do Imigrante, pode ter essa experiência. A ideia surgiu após um curso onde aprendemos a transformar o que já fazíamos em algo rentável. Vimos uma ótima oportunidade de mostrar para as pessoas como fazemos os nossos produtos e dar a chance de levar um pedacinho da nossa história para casa, conta a proprietária Mariana Zandonadi.
O visitante agenda dia e horário através de uma plataforma. Tudo começa com um bate-papo sobre o processo da geleia natural. Depois iniciamos a fabricação e cada um pode produzir a sua própria geleia e levar o resultado para casa. Entre os sabores estão morango, manga com maracujá, uva e maracujá.
O turismo de experiência tem sido fundamental para esses produtos serem cada dia mais conhecidos. A maioria dos visitantes vem de Vitória e Vila Velha. Eles buscam nas montanhas uma forma de relaxar e aprender novas habilidades, diz Mariana.
E sorvete de palmito, você já tomou? É outra dica de turismo de experiência para se fazer no Espírito Santo. O Sítio dos Palmitos, em Pedra Azul, é que promove essa prática. É uma forma de impulsionar o turismo rural no Estado, diz o proprietário, Maurício Magnago.
O turista tem uma vivência rural e gastronômica, em que experimenta uma interação real com o ambiente e com a rotina de produção familiar. Ele vive as emoções de cada etapa, como conhecer variedades de sementes do alimento, cortar e descascar o palmito, e elaborar os cortes gourmet. A experiência é finalizada com um menu-degustação, o que inclui a sobremesa. Na propriedade há variedades como Pupunha, Juçara, Juçai, Coqueiro Anão, Patioba (Amargo), Baba de Boi e Imperial.
A empresária Graccielli Lorenção, do Sítio Lorenção, em Venda Nova, conta que os turistas sempre quiseram acompanhar a produção do socol. E nós sempre tivemos vontade de deixá-los verem onde o socol ficar maturando. Criamos a visita na plantação de socol com um custo e horário marcado, diz. As visitas - que estão suspensas por conta da pandemia - acontecem uma vez na semana.
As degustações dos produtos também não estão acontecendo por conta do coronavírus, mas em breve o visitante vai poder saborear o socol, o culatello (em época específica) e as variedades de antepasto. Graccielli conta que a experiência não é ver apenas a produção. É ver também um pé de jabuticaba, o paiol velho, os meus avós que ainda são vivos e um pequeno museu. Isso sempre atraiu os turistas e acho um diferencial do sítio, conta.
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