O crescimento do mercado da cerveja artesanal trouxe à tona várias afirmativas que não são tão verdadeiras assim. Volta e meia alguém me questiona algumas máximas que, ora foram criadas pelo marketing das cervejas comerciais, ora são quase provas de resistência ou afirmativas meio sem pé nem cabeça. E já que estou aqui para facilitar a sua vida na hora de tomar uma, listei quatro dos principais mitos que ouço em relação à nossa amada bebida, com as devidas respostas e explicações para que você desapegue de certos discursos prontos e possa se aventurar no mundo da cerveja artesanal com muito mais conhecimento:
Se é puro malte, é boa
Falar isso é ofender escolas cervejeiras tradicionalíssimas, como a Belga, conhecida pela ousadia, inserção de adjuntos e variações nas suas receitas. Essa afirmação de colocar a cerveja puro malte como a de excelência, nos dias de hoje, tem duas frentes: a antiga, baseada na Reinheitsgebot, a Lei da Pureza Alemã, sobre a qual já falei anteriormente; e a atual, usada pela indústria das cervejas comerciais, que tenta abocanhar o público artesanal. O fato é: existem cervejas sensacionais que seguem o padrão do uso de apenas malte de cevada (e outro grão) e tantas outras também incríveis que usam adjuntos como açúcar, frutas, caramelo, aveia, milho, arroz e todas as outras infinitas possibilidades que dependem da criatividade do mestre cervejeiro. Desapegue dessa regra e apenas beba menos e melhor.
Tinindo trincando, sempre
Outra lenda que causa pânico no cervejeiro artesanal, e que foi implementada no país pelo mercado de cervejas comerciais, é a que afirma que a bebida precisa ser consumida estupidamente gelada. Nossas papilas gustativas passam pela sensação de dormência quando levamos à boca algum produto extremamente gelado, e isso impossibilita que sintamos toda a riqueza palatável da cerveja, bem como torna mais difícil a percepção de defeitos ou de qualquer gosto ruim na bebida. Para o aroma, a regra é parecida. Passamos décadas acreditando que cerveja no Brasil é gelada porque moramos em um país quente. Cada estilo tem sua temperatura recomendada de serviço, e a dica é justamente para que você tenha uma experiência completa ao consumir a cerveja.
Quanto mais amargor, melhor
Um salve para quem nunca tomou o chá de boldo da vovó, mas é aficcionado pelas famosas India Pale Ale, as IPAs e todo seu amargor característico. Entendo e apoio quem curte uma cerveja do estilo, mas garanto que existem muitas outras possibilidades no universo das cervejas. Não é porque o IBU (International Biterness Unit - índice que mensura o quão amarga é a cerveja e apresenta um número absoluto com a conversão dos alfa-ácidos da bebida em iso-alfa-ácidos, o que gera a sensação de amargor) é alto que a cerveja é boa. Algumas vezes o excesso de lupulagem tem por intenção esconder defeitos relacionados ao aroma e ao paladar da bebida. O lúpulo, planta tão amada e essencial para a cerveja, é o maior responsável pelo amargor da bebida, e a combinação de diferentes ingredientes (e também lúpulos de espécies diferentes) é o que cria uma receita, bem como outros fatores. Ou seja: mesmo sendo fã do amargor, lembre-se: existe vida além da IPA. Se joga!
Sem colarinho, por favor
Me prometa que, a partir de agora, você vai pensar duas vezes antes de pedir aquele chope sem colarinho pro seu amigo garçom. A espuma é essencial para a cerveja, e toda cerveja deve formar espuma. A estabilidade dessa espuma vai depender do estilo e de alguns outros fatores. Alguns estilos pedem uma espuma consistente, que dura até o último gole. Já outros, apresentam espuma fugaz. O fato é que essa formação é importante para a experiência que você está prestes a viver com a sua cerveja, já que a espuma é responsável por ajudar a manter o sabor e todas as nuances na sua bebida, bem como dar uma ajudinha na manutenção da temperatura. A espuma é formada por CO2 (gás carbônico), algumas proteínas e, às vezes, pode ter a adição de nitrogênio. Tudo isso é pensado e inserido para ajudar na sua formação e para manter sua cerveja melhor por muito mais tempo.
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