Instituído por lei em 1986, o Dia Nacional de Combate ao Fumo, 29 de agosto, foi criado com o objetivo de conscientizar e mobilizar a população sobre os danos causados pelo tabaco. O assunto merece destaque, pois, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o tabagismo é a principal causa de morte evitável do mundo, sendo considerado, portanto, um enorme problema de saúde pública.
Em tempos de Covid-19, o alerta é ainda mais importante. Durante a pandemia, segundo resultado da ConVid, Pesquisa de Comportamentos da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), o consumo de cigarro aumentou para 34% dos fumantes brasileiros, seja pelo estresse, pela mudança na rotina ou pelo aumento do tempo ocioso em casa. Além disso, os fumantes também fazem parte do grupo de risco e estão sujeitos a desenvolver formas mais graves da doença.
Como todos já sabem, o vírus afeta os pulmões e deixa sequelas sobre as quais nós, da classe médica, ainda estamos nos informando e estudando para um melhor tratamento para reabilitar o órgão. Por isso, em fumantes, o risco de contrair a doença e ter um quadro mais grave é um fator alarmante, por ser o tabaco responsável por diversas doenças crônicas respiratórias, além do câncer do pulmão, ressalta a médica pneumologista Jéssica Polese.
Quem opta pelo cigarro eletrônico corre os mesmos riscos. Além disso, o hábito de dividir narguiles e outros instrumentos de fumo está mais proibido do que nunca, devido ao compartilhamento de saliva - uma das principais formas de contágio pelo novo coronavírus. O cigarro eletrônico contém conservantes, partículas finas, traços de metais pesados e até substâncias cancerígenas, ou seja, não é seguro e faz mal como o cigarro original, destaca Jéssica.
Para nós, o Dia Nacional de Combate ao Fumo serve para reafirmar que é preciso diminuir o consumo de cigarro em favor da vida, afirma. Segundo a pneumologista, a importância da data se multiplica neste momento. Os cuidados de prevenção devem ser reforçados por parte de quem fuma e a conscientização é a principal ferramenta.
É uma situação que foge do nosso alcance, porque realmente quem tem o vício é mais difícil de controlar na atual situação. Apenas podemos esclarecer os perigos e dificuldades que essa população pode sofrer, pontua Jéssica.
O oncologista Gláucio Bertollo, do Centro Capixaba de Oncologia Cecon/Oncoclíncias, respondeu às perguntas mais comuns quando o assunto é tabagismo e Covid-19. Confira:
O tabaco causa diferentes tipos de inflamação e prejudica os mecanismos de defesa do nosso organismo. Por esses motivos, os fumantes têm maior risco de desenvolver infeções de uma maneira geral, seja por meio do vírus ou de bactérias, e as perspectivas de um desfecho não favorável para o paciente que fuma e foi acometido pela Covid-19 é maior sim. Os fumantes mais intensos, principalmente. Quanto maior a carga tabágica, maior os problemas já crônicos e com isso um aumento de infecções mais graves por conta do coronavírus.
Os pacientes tabagistas geralmente têm uma função pulmonar cronicamente afetada e o pulmão é um dos órgãos mais afetados pela Covid. Quando temos um pulmão que já é comprometido cronicamente e ele recebe uma agressão aguda, pela infecção, a recuperação com certeza pode ser prejudicada.
Estima-se que no mundo mais de 200 mil mortes ocorrem direta ou indiretamente pelo tabagismo. Sem dúvida, o aparelho respiratório é o mais comprometido pelo tabagismo. A chance de um fumante desenvolver problemas respiratórios é muito alta, e quanto maior a exposição ao tabagismo, quanto mais tempo e mais cigarros, maior o risco de desenvolver todas essas doenças.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são mais de 50 doenças relacionadas com o tabagismo. São vários tipos de câncer, como de pulmão, laringe, esôfago, bexiga, e podemos listar vários outros. Tem as doenças no aparelho respiratório, enfisema pulmonar, bronquite, asma, infecções respiratórias. Além disso, as doenças do aparelho cardiovascular, infarto, AVC, úlcera crônica de membros inferiores pela circulação, angina, osteoporose, úlcera gastrointestinal, impotência sexual... a lista é muito grande.
Em relação ao tabagismo passivo, as pessoas podem sim sofrer agressões pulmonares relacionadas a fumaça emitida pelo tabaco, principalmente em lugares fechados. Elas podem ter mais riscos de infecções porque seus pulmões são mais vulneráveis do que os de pessoas que não têm contato com a fumaça. Agora, no período do confinamento, as pessoas estão vivendo ainda mais dentro de casa, em ambientes mais fechados e o problema do tabagismo passivo aumenta.
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