Dias atrás, em mais uma prova de resistência do BBB20, a cantora Gabi Martins acabou revelando sua estratégia para aguentar o máximo de horas possível sem desistir: ela colocou um absorvente interno na tentativa de segurar o xixi.
Mas a competidora, que acabou não resistindo por muito tempo na disputa pela liderança da casa, virou chacota entre as amigas. E, claro, do lado de fora, o público não perdoou Gabi por não ter uma noção básica da anatomia feminina.
Na ocasião, as demais participantes logo trataram de explicar para a moça, de 23 anos, que o plano dela jamais daria certo. "Amiga de Deus, o xixi não sai desse buraco", disse Ivy. "O buraco é outro. O xixi é no buraco da frente, sexo e menstruação é no buraco do meio e cocô é no buraco de trás", explicou outra colega, a capixaba e advogada Gizelly.
A ginecologista Gabriele Alledi Lomonte não acha certo que se faça piada com a Gabi, afinal, segundo ela, esse tipo de confusão é muito comum entre as mulheres. A participante do programa em questão foi apenas mais uma das muitas mulheres com essas dúvidas. Mas, se por um lado ela foi exposta de alguma forma, vamos pensar pelo lado bom? Vários canais aproveitaram para explorar o tema e levar um pouco de informação para a população feminina, comenta a médica.
Tecnicamente falando, diz Gabriele, Gabi achou que o canal vaginal e uretra ficavam juntos. Mas a uretra fica localizada atrás da sínfise púbica e acima do canal vaginal. São orifícios totalmente diferentes. Sendo assim, ao usar um absorvente interno, a mulher pode urinar sem nenhuma dificuldade e esse absorvente não irá absorver esse fluxo urinário, explica.
No dia a dia das consultas, é bem frequente encontrar pacientes com dúvidas parecidas. É muito comum as mulheres não conhecerem a anatomia da sua região genital. E mesmo nos dias de hoje isso é um tabu e gera confusão, observa a especialista.
Ela acredita que isso vem desde a educação na infância: Mães de meninas têm receio e certa ansiedade ao verem as meninas demonstrarem curiosidade pela sua genitália. Vale lembrar que toda criança passa por esse processo, que é totalmente fisiológico.
A realidade, segundo a médica, é que as mulheres não gostam de olhar para sua genitália. Talvez pela localização se sintam desconfortáveis. Mas o fato é que a maioria não pega um espelho e se olha.
Para Gabriele, uma ida ao ginecologista no início da puberdade ajudaria muito a mulher a começar a entender melhor o funcionamento do próprio corpo. Não é tão comum a mãe levar a filha para uma consulta na puberdade, o que seria apropriado, pois seria o momento ideal para a adolescente tirar suas dúvidas sobre ciclo menstrual, tipos de absorventes e até mesmo sobre sua anatomia. Vejo as meninas procurando atendimento no consultório apenas quando desejam iniciar um método contraceptivo, após já terem iniciado a vida sexual, observa.
A ginecologista Lúcia Helena Mello de Lima, que é uma das diretoras da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do ES (Sogoes), também acha que é preciso encarar isso com mais naturalidade. As mulheres precisam conhecer o seu sistema genital e sua anatomia. Saber sobre a vulva, a vagina, o útero. Se as mães não souberem como orientar, elas podem procurar um ginecologista para esta orientação. Isso é muito importante e pode se iniciar na puberdade, reforça.
Todo esse desconhecimento com algo tão íntimo explica essa confusão com o uso do absorvente interno. O absorvente íntimo, quando usado da forma correta, é confortável, imperceptível e totalmente seguro, afirma Gabriele.
Há muitos mitos em relação a esse dispositivo, como o de ele poder se perder dentro do corpo, de doer, de tirar a virgindade, entre outros.
Algumas mulheres, por medo do absorvente se perder na vagina, acabam por não inseri-lo adequadamente. Esse é o maior erro, pois gera muito desconforto. A vagina é um canal fechado e não existe a possibilidade disso acontecer, esclarece a ginecologista.
Tem muitas meninas adolescentes, que vão acompanhadas pelas mães às consultas, que nunca tiveram relações sexuais e que querem usar o absorvente ou para ir à praia ou para praticar esportes, por exemplo. Elas podem usar sim, não há contraindicação e não há risco em relação essa preocupação com a virgindade. Existem absorventes com tamanhos diferentes. Mas, às vezes, pode ser difícil para colocar e para retirar. É uma situação até complicada para o ginecologista, diante da mãe que não quer que a filha use, apesar da vontade dela, comenta Lúcia Helena.
Uma das recomendações, no entanto, sobre o absorvente interno é quanto ao tempo de uso. No caso da Gabi do BBB20, a falta de informação novamente poderia tê-la prejudicado seriamente. A jovem chegou a ficar 19 horas com o OB no corpo durante a prova do líder.
É importante saber que não se deve permanecer com o mesmo absorvente interno por mais de 8 horas. O absorvente, quando deixado por muito tempo, pode levar a proliferação de bactérias, gerando desde infecções mais simples, como candidíase e vaginoses, até infecções mais graves, como a síndrome do choque tóxico, uma condição rara que pode levar até mesmo à falência renal e morte, alerta Gabriele Lomonte.
A troca do absorvente, lembra Lúcia Helena, deve ser feita de 4 a 8h, dependendo do fluxo menstrual. Aliás, não é aconselhável dormir de absorvente interno, como muitas mulheres fazem, porque a pessoa pode dormir por mais de 8 horas seguidas, orienta ela.
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