Médicos que estão na linha de frente do combate à Covid-19, atuando nas emergências dos hospitais, alertam para um fator que pode ser um grande complicador para o paciente na hora do socorro: a barba.
De acordo com o médico anestesiologista Milton Favarato, que faz parte do time de assistência rápida para intubação em um hospital da rede pública na Grande Vitória, a barba dificulta ou até impossibilita a ventilação mecânica sob máscaras em caso de intubação.
A intubação é procedimento no qual o profissional de saúde insere um tubo desde a boca da pessoa até a traqueia, de forma a manter uma via aberta até o pulmão e garantir a respiração adequada. Esse tubo é ainda ligado a um respirador, que substitui a função dos músculos respiratórios, empurrando o ar para os pulmões.
"Estou envolvido no manejo otimizado da via aérea, ou seja, na intubação dos pacientes críticos. E questão da ausência barba seria a forma mais simples e efetiva de exclusão de fator de risco. A barba é o único fator de risco modificável para assistência em via aérea! Reforçando que tudo isso se aplicaria aos casos emergenciais, em que a mortalidade é alta", destaca o especialista.
O risco é maior para homens com barba mais cheia e espessa. O bigode, por si só, segundo o médico, não atrapalha.
"O problema da barba é que ela cria uma condição que, na hora da ventilação mecânica do paciente, antes de colocarmos o tubo, a máscara do oxigênio pode não aderir na pele. Os pelos impedem a vedação", explica Favarato.
O caso dos pacientes com coronavírus é ainda mais delicado. "Os pacientes graves, numa situação emergencial, não toleram instrumentação demorada. Tem que ser uma intubação rápida, de 20, 30 segundos no máximo. Um tempo muito determinante para esse paciente. E a barba é um empecilho a mais".
Pesa ainda nesse processo o fato de nem sempre os hospitais contarem com equipes preparadas para esse suporte rápido. "A maioria dos profissionais da linha de frente são recém-formados e sem devida proficiência no manejo em via aérea durante um evento crítico. A intubação exige um profissional mais capacitado, ágil. Fora que esse novo cenário, com a pandemia, mudou a assistência emergencial. A equipe tem que estar toda paramentada, com capote, máscara, luva, uma paramentação diferente da usada em um paciente convencional e que dificulta a mobilidade do profissional", observa o anestesiologista.
A barba pode ainda dificultar o exame clínico do médico no momento do socorro. "A barba esconde uma condição facial que pode ser desfavorável nesse processo da intubação. Por exemplo, em pessoas com queixo curto ou muito pra frente isso pode ser mais difícil. E a barba pode tornar mais demorado identificar essa característica. Sem barba, só de olhar pro paciente o médico já sabe se haverá uma dificuldade e se será necessário até fazer uso de outros instrumentos para garantir o sucesso da operação", comenta.
Não é só a barba que pode atrapalhar o socorro emergencial de um paciente. Segundo Milton Favarato, outras condições já conhecidas podem servir de obstáculos numa intubação. "Pessoas do sexo masculino, com idade avançada, obesas, com índice de massa corporal elevado, ou que roncam, ou seja, com histórico de apneia obstrutiva do sono também enfrentam maior risco nesses casos, pois esses são fatores que atrapalham uma ventilação e intubação".
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