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Cartilha derruba mitos de dietas anticâncer

Cartilha derruba mitos de dietas anticâncer

Material do Inca combate informações falsas sobre a doença

Publicado em 10 de março de 2019 às 00:33

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Alimentos que ajudam no combate de doenças. (Divulgação)

O câncer é uma doença crônica, de difícil tratamento e muitas vezes fatal. Mesmo assim, na internet, há uma farta oferta de soluções que, aos olhos de pessoas tão fragilizadas, parecem receitas milagrosas de cura. Elas surgem em forma das chamadas fake news e podem levar pacientes a rever seu estilo de vida, abandonando o tratamento e adotando estratégias furadas que tendem a piorar mais ainda o quadro de saúde.

Dietas restritivas, que cortam açúcar ou carne vermelha, cogumelos, graviola e outros alimentos exóticos figuram como promissores no combate à doença, sem nenhum respaldo científico.

Preocupado com o efeito devastador dessas informações falsas, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) lançou no início deste ano uma cartilha derrubando mitos em relação à alimentação.

“A ideia da cartilha partiu de uma observação nossa de que há pacientes chegando com relatos de que não estão comendo carboidratos com medo de o açúcar alimentar o tumor. E fomos ampliando as situações que íamos descobrindo a partir dos próprios pacientes”, conta a nutricionista Gabriela Villaça, que coordenou a elaboração do material.

Segundo ela, a origem das fake news na área oncológica não é tão difícil de ser detectada. “Os pacientes do Inca seguem canais no Youtube e são inseridos em grupos de WhatsApp que compartilham informações desse tipo. E há um outro nicho, de pessoas com poder aquisitivo maior, que usa o Instagram, onde pesquisa assuntos que relacionam dietas e câncer e recebem uma enxurrada de notícias com falso teor científico por trás. Há blogueiros fitness com milhares de seguidores e até alguns profissionais de saúde propagando essas crenças, que explicam até mecanismos. O leigo que lê aquilo acha bonito e reproduz”, observa.

Uma das crenças mais recentes vem da Ásia, de uma fruta chamada noni, que tem origem tailandesa. Numa rápida pesquisa em um site de busca, páginas e vídeos receitam essa fruta para combater desde dores no corpo até tumores, diabetes e outras doenças neurodegenerativas.

Expectativa

“Começamos a ouvir pessoas em tratamento dizendo que não estavam comendo nada, mas que comiam noni todos os dias. Sabemos pouco sobre essa fruta, mas ela já é vendida em supermercados aqui no país, até provavelmente por causa desse apelo, dessa expectativa de cura”, cita Gabriela.

Na esperança de se ver livre da doença, muita gente acredita, segundo a nutricionista, que um simples alimento possa ser capaz disso. “Sabemos que a alimentação pode contribuir com o tratamento, como para o controle dos sintomas. Mas a nutrição não tem essa possibilidade de curar o câncer. Nenhum alimento faz isso”.

Mitos

A cartilha do Inca elenca outros mitos, como o de que carboidratos alimentam o tumor e podem prejudicar os resultados da quimioterapia.

“Essa história de que o açúcar alimenta o tumor é bastante antiga. Mas não existem evidências científicas suficientes que confirmem que cortar carboidratos ajuda a ‘matar o tumor’ em humanos. A meu ver, o advento da low carb e de outras dietas da moda que focam na restrição do carboidrato para emagrecimento deu subsídio para que essa crença voltasse à tona. De fato, o tumor utiliza glicose para seu crescimento e proliferação, assim como outras células do corpo o fazem. Mas o fato de retirar açúcar ou outros alimentos fontes de carboidrato não significa que vai ter interrupção de fornecimento de glicose. O organismo vai encontrar outra forma de gerar glicose a partir de outros substratos energéticos, do músculo e do tecido adiposo, por exemplo”, explica a nutricionista do Inca.

De acordo com Gabriela, além de não trazer o efeito desejado, a estratégia gera sérios danos à saúde. “O carboidrato é 50%, 60% da nossa alimentação. Está no arroz, no macarrão, na batata, no pão. Sem ele, a pessoa perde muito peso, mas não só. Perde músculo e gordura. Isso está associado a piores resultados no tratamento contra o câncer, a mais sintomas. Para um paciente que já está frágil, torna tudo mais difícil”.

Com base no mesmo raciocínio, a cartilha desmistifica a dieta cetogênica, que prescreve uma redução drástica no consumo de carboidratos. “Ela se baseia num consumo de carboidratos muito baixo, por volta de 2% a 4% da dieta, e uma ingestão elevadíssima de gordura. Há estudos feitos em ratos e com células com alguns resultados positivos, mas outros não. Quando transportamos isso para humanos, não há nenhum estudo bem delineado que tenha comprovado a eficácia dessa dieta no tratamento contra o câncer. Ou seja, os estudos que existem não são suficientes para gerar alguma recomendação nesse sentido”.

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A cartilha está disponível no site do Inca (www.inca.gov.br) e pode ser baixada por qualquer pessoa.

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