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Da dor ao prazer. Entenda o que atrai no universo do sadomasoquismo

Da dor ao prazer. Entenda o que atrai no universo do sadomasoquismo

O BDSM, sigla para bondage, disciplina, dominação, submissão, sadismo e masoquismo, está ligada ao fetiche. O sexo, segundo os adeptos, é consequência

Publicado em 7 de outubro de 2019 às 09:26

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Sadomasoquismo. (Victor de Pra )

Roupas de vinil, chicotes de couro, algemas, vendas, mordaças, coleiras, e entre outros “toys”... Para a maioria pode lembrar algum filme, ou outra produção com teor fetichista, mas para os praticantes do BDSM – sigla para “Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo” – cada acessório tem sua função correta, e devem ser usados em momentos que guardam vários significados.

O estudante de publicidade e propaganda Be Rumão é praticante e conhecedor a fundo do assunto, tendo vários textos publicados em seu site. Ele explica que, ao contrário do que muitos pensam, o BDSM não é uma prática voltada ao sexo, mas sim aos fetiches, e a uma filosofia de vida. Ou seja, o sexo não é obrigatório durante a relação. “O sexo é apenas um fim, que pode ocorrer ou não”, diz ele.

Na prática existem classes: os dominantes, e os submissos. E o momento da relação, também é chamado de cena. “Eu sempre considerei como um ‘teatro’, pois mesmo que tenhamos uma filosofia e um entendimento, quando estamos praticando, encaramos aquilo como uma cena, porque não tem como estar nesse momento BDSM o tempo todo do seu dia, por exemplo”, esclarece Be Rumão.

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Entendendo melhor e indo mais a fundo, Be explica que o BDSM é um tipo de relacionamento como qualquer outro (este podendo ser amoroso, ou não), porém, entram em cena inúmeros fetiches ligados ao erotismo, que, em relações mais comuns, são pouco praticados. Vale ressaltar: apesar da infinidade de possibilidades ligadas ao prazer, um dos preceitos mais importantes e fundamentais da prática é o SSC, sigla para “são, seguro e consensual”. Sendo assim, os parceiros devem estar cientes de tudo o que pode rolar e seguros do que querem e aceitam. “Nas relações BDSM geralmente existem contratos - não válidos juridicamente - mas respeitados, já que tudo o que o submisso quer e deseja, assim como todos os outros limites estão ali”, justifica ele.

CONFIANÇA

Be também afirma que é imprescindível que se conheça o outro. Por isso, nas relações BDSM os laços de confiança entre os ‘partners’ são mais profundos. “Esses laços são mais profundos até por questões de segurança, pois se você não confia naquela pessoa, não há como realizar certas práticas na hora da relação, por exemplo. Cria-se essa confiança grande no outro, mas não necessariamente precisa ser um relacionamento amoroso”, detalha.

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PREPARAÇÃO

Outro ponto interessante apontado por Be é que geralmente os limites são estabelecidos pelo submisso. Dessa forma, cabe ao dominante incitar - de maneira segura e saudável - a quebra desses limites. E justamente por isso, o dominante deve estar sempre atento a saúde física e mental daquela pessoa. “Deve-se estar atento, preparado e, acima de tudo, sempre fazendo exames, porque lidamos com fetiches, e alguns deles exigem dos praticantes conhecimento. Porque, por exemplo, você não pode amarrar uma pessoa, se não sabe se ela tem algum problema de circulação”, exemplifica o estudante.

“Além disso, o dominante também deve entender sobre o psicológico de seu submisso, pois quando você dirige a pessoa a certos comportamentos, de maneira que ela tenha que te obedecer, é preciso saber até que ponto aquilo pode ou não colocar a saúde mental daquela pessoa em risco”, acrescenta ele.

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“SUBMUNDO”

Os praticantes do BDSM entendem e sabem sobre a origem de cada um dos movimentos na cena, porém, como suas origens vem de atos que não são bem recebidos pela sociedade, muitas vezes, a prática ainda é marginalizada, e vista com algo “oculto”.

“O BDSM tem preceitos antigos, pois seu processo histórico abrange partes de uma ‘história oculta’ na sociedade, como elementos usados na escravidão, por exemplo. E também porque não é romântico como o filme 50 tons de cinza (risos)”, diz.

O TRABALHO

No BDSM também entendem-se duas correntes de pensamento, uma de quem leva a prática como uma filosofia, e outra de quem encara como um trabalho. “É muito praticado, e normalmente os clientes desses dominantes são pessoas com muito dinheiro, e que não querem ser identificadas, por isso, pagam por sessões avulsas. Além do pagamento, também é comum dar presentes ao dominante, já que ele se torna alguém especial, ou porque aquilo pode até fazer parte do fetiche”, finaliza o estudante.

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OS CONTRATOS

Os contratos feitos nas relações BDSM funcionam como um acordo de termos entre os parceiros, feitos para garantir a segurança dos envolvidos, e também resguardar o dominador, já que o submisso conta com a legislação do próprio código penal, caso haja algum problema ou desentendimento. “Em casos de processo, o dominador poderia ser acionado judicialmente como um agressor, e acionado até mesmo criminalmente, já que muitas vezes a relação costuma deixar marcas. Então você acaba resguardando essa pessoa. E, em suma, o contrato talvez não impeça um processo, mas o dominador pode apresentar como prova para mostrar que o ato foi consentido”, explica o advogado Júlio Cesar Campana.

A DOR E O PRAZER

O termo sadomasoquismo se firma como a junção de duas palavras, sadismo e masoquismo, em que, o primeiro se refere ao ato de infringir dor, e o segundo ao ato de sentir dor. No BDSM esses conceitos são levados ao erotismo, e interpretados no âmbito sexual. O psicólogo e sexólogo Carlos Boechat salienta que essas denominações podem representar várias possibilidades, inclusive, saem do campo sexual, e entram em práticas da rotina.

“O fato de uma pessoa ser sádica ou masoquista é resultado de como ela foi conduzida e construída na sua história familiar. E existem inúmeras possibilidades, você pode ter um masoquista que não goste de sentir dor física, mas, ao mesmo tempo, se entrega a uma paixão, e sofre, por exemplo. Já no sádico, o prazer está em causar dor, e esta pode ser física, ou emocional”, esclarece Carlos.

Boechat também complementa dizendo que não é uma regra que alguém seja sádico ou masoquista, pois podem-se ter momentos, tanto sádicos quanto masoquistas. “Um exemplo, quantas pessoas, quando estavam tendo uma relação sexual com seu parceiro(a), já não sentiram uma dor ou incômodo e continuaram, seja para ver o prazer do outro, ou porque aquela dor era algo passageiro. Isso foi um momento masoquista, pois o prazer e a dor se misturaram ali”, diz ele. Que complementa: “Outro exemplo, levando para a vida, quantas vezes alguém, que estava com raiva de seu parceiro, já não negou a ele algo que ele gostava. Isso foi um momento sádico, porque aquela pessoa sofreu ali”.

Porém, o sexólogo diz que esses comportamentos no âmbito sexual podem ser vistos como algo não frequente, mas desde que as pessoas se sintam felizes e não machuquem quem não quer ser machucado ou desrespeitem o parceiro(a), não há motivo para tratamento e culpabilização.

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