Não faz muito tempo, a gente conseguia gravar o número do telefone da mãe, do melhor amigo, do parceiro e até daquele colega de trabalho. De uns anos para cá, no entanto, por conta da quantidade de informações que temos que dar conta, nosso HD ficou sem armazenamento, o que costuma causar lapsos de memória.
Nossas cabeças estão cada vez mais cheias. E esquecemos cada vez mais coisas, onde deixamos as chaves, o nome do nosso filme preferido ou o lugar onde aconteceu o almoçou da última semana. Se isso tem acontecido com você, não se sinta culpado. Esses esquecimentos fazem parte da rotina de boa parte da população.
A universitária Nathália Bozzi, de 22 anos, começou a ter lapsos de memória há cerca de um ano, muito por conta da sobrecarga do curso de Medicina. A faculdade se tornou bem puxada e com muitas cobranças, o que acabou gerando ansiedade. Os lapsos geralmente aconteciam pela manhã. E geralmente 30 minutos depois eu não lembrava de algumas coisas que tinham acontecido ou feito, relata.
Ela chegou a passar por médicos, mas foi numa academia de ginástica para o cérebro isso mesmo, elas existem! que começou a perceber a melhora na capacidade de sua memória e também nas conversas com outras pessoas. Uma vez por semana, durante duas horas, ela participa da aula com jogos em grupos e de atenção, além de praticar cálculos. Nathália também decidiu apostar no treino com o ábaco, calculadora manual da Antiguidade, que tem feito muito pela sua capacidade de concentração e aprendizado. O meu foco e as minhas notas melhoraram. Também exercito muito a leitura, o que tem me ajudado. Com isso os lapsos acabaram.
A neurologista Ana Carolina de Almeida Rossi, da MedSênior, explica que uma das funções do cérebro é armazenar a informação. Hoje a gente é estimulado por vários meios de comunicação e com muitas informações. O cérebro é seletivo, tem um limite, e o que ele não retém a gente interpreta como esquecimento. Mas ele não chegou nem a reter a informação, diz.
A médica explica que, com a vida corrida, é preciso se dedicar exclusivamente a uma tarefa. Ansiedade e depressão são duas das principais causas da falta de memória. Mais do que nunca é preciso exercitar o cérebro com atividades, estimulando a memória. O principal exercício é a leitura. As pessoas têm que ler, o cérebro precisa ser estimulado, recomenda.
Vamos malhar?
Pesquisas indicam que 60% das pessoas com mais de 50 anos têm queixas de memória e 7% das pessoas com mais de 60 anos têm algum tipo de demência. Os dados preocupam, mas os esquecimentos não são uma exclusividade daqueles que já passaram dos 50 ou 60.
De acordo com a geriatra Janaína Alvarenga Rocha, esquecer algum fato ou atividade acontece em qualquer idade. A questão é que prestamos mais atenção nisso quando ficamos mais velhos, em função de doenças como Alzheimer. Mas episódios de esquecimento acontecem também com as pessoas mais jovens. Nesses casos, o esquecimento geralmente não é causado por um problema de memória, e sim de atenção, num mundo cada vez mais abarrotado de informações e estímulos, explica.
Segundo ela, da mesma maneira que a pessoa vai a academia para fazer ginástica e se manter fisicamente ativo, o cérebro precisa se movimentar. Livros, aplicativos e até mesmo o velho caderninho de palavras cruzadas podem ser utilizados pra exercitar a memória, a atenção, a concentração. Aprender uma nova habilidade também exercita o cérebro. Se você trabalhou a vida inteira com matemática, é interessante aprender a cantar, a pintar. O cérebro gosta de novidade, precisa de novidade para se manter saudável, diz ela, acrescentando que a atividade física regular também contribui para uma boa memória. Além de prevenir doenças vasculares e degenerativas, diminui o estresse, a ansiedade e ajuda na qualidade do sono.
Ao ar livre
Uma pesquisa realizada recentemente pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, provou que os benefícios de fazer atividades físicas ao ar livre são maiores do que imaginávamos. Pela pesquisa americana, estudantes fizeram, em sala de aula, um breve teste de memória. Em seguida, foram divididos em dois grupos. O primeiro teve que realizar uma caminhada em uma área cheia de árvores e, o segundo, um passeio por uma rua na cidade. Depois, voltaram para refazer o mesmo teste. Aqueles que tinham caminhado pelo parque tiveram um desempenho de quase 20% melhor. Já aqueles que tinha andado pela cidade não mostraram nenhuma melhora consistente.
O neurologista José Augusto Lemos, da Unimed Vitória, conta que as atividades ao ar livre têm uma função amenizadora do estresse. Elas mudam o nosso foco, aliviando as tensões, o que favorece a fluidez da criatividade e do raciocínio livre, bem como atividades cerebrais, afirma, explicando que escolher se exercitar ao ar livre propicia uma melhor qualidade de vida por aumentar a sensação de bem-estar.
A prática de exercício físico, seja qual for, melhora o sono, o que é fundamental para a saúde cerebral, o equilíbrio hormonal, o metabolismo, além de ajudar na digestão e influenciar positivamente em todos os aspectos da vida, conta.
O psicólogo Vinicius Grassi, do Viver Bem da Unimed Vitória, conta que vários estudos comportamentais afirmam que os altos índices de ansiedade e depressão que afetam nossa sociedade, se dão devido ao fato do homem ter se distanciado da natureza. A integração com a natureza, da qual somos parte, funciona como uma válvula de escape para lidarmos com as pressões do dia a dia, avalia.
Procure um educador físico, faça uma avaliação com um médico cardiologista e passe a praticar exercícios ar livre.
'SÓ CONSIGO CUMPRIR AS AGENDAS SE ANOTAR TUDO'
Apesar de ser muito observadora, eu sempre me percebi com dificuldade de memorização, mesmo na infância não gostava das matérias que precisavam ser decoradas, eu precisava entender bem, anotar tudo e reproduzir nas provas com as minhas palavras os conteúdos. Agindo assim, eu ia bem na escola, nunca chegou a me atrapalhar no aprendizado.
Na fase adulta, com o crescimento das responsabilidades e volume de coisas a fazer, notei que precisava anotar os compromissos principais, um médico, uma reunião, um aniversário importante, os telefones mais utilizados.
Já na minha rotina de hoje, como diretora de uma empresa de comunicação que atende clientes de diversas áreas e lida com muitas informações todos os dias , dona de uma casa que precisa ser administrada e mãe de dois filhos que têm seus próprios compromissos, mas que dependem ainda dos pais pra levar pra tudo só consigo cumprir as agendas de todos se anotar tudo. Se não for assim, metade dos compromissos eu esqueço. Com isso, meu dia acaba sendo cronometrado, da hora que levanto até a hora que deito. As agendas, além de fundamentais pra me lembrar mesmo, me ajudam a ser mais produtiva e disciplinada.
Eu percebo que fico mais esquecida quando estou mais cansada, perto de tirar férias. Uma situação que acendeu meu alerta e até me fez procurar um médico foi chegar na empresa de um cliente e por uns segundos não lembrar o nome dele para falar com a secretária. Era um cliente novo, mas fiquei constrangida e preocupada comigo, então busquei uma avaliação, fiz exames e comecei a tomar um estimulante, mas não me senti bem e parei.
Hoje anoto tudo que preciso fazer. Faço agendas semanais com todas as atividades a fazer, até o dia de malhar e estudar com os filhos. Quando vou ao shopping, listo tudo que preciso comprar pra não voltar deixando algo pra trás. Tenho também alarmes no celular para atividades fixas, como hora de tomar um remédio, dia de pagar uma conta. Na empresa, todos lançam os compromissos no outlook compartilhado e fazemos pautas e atas de reunião para não deixarmos de abordar algum assunto importante ou tomar alguma providência que o cliente pediu.
Denise Klein, jornalista e empresária
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