Não só o sabor, mas também a história e seu encanto fazem do chocolate uma paixão mundial que vem desde os tempos mais antigos: os maias consideravam o chocolate (bebida de cacau preparada com água quente) o “Alimento dos Deuses”. De lá para cá, os processos industriais adicionaram pelo menos dois ingredientes ao cacau: gordura e açúcar. Surgiram também versões brancas do chocolate sem a massa de cacau e contando apenas com a manteiga do fruto com açúcar.
Para não ter erro: quando falamos em benefícios do chocolate nos referimos à constituição da massa do cacau (de cor escura), portanto, quanto maior o percentual dele no chocolate, mais escuro e saudável o alimento é.
Para se ter uma ideia, uma revisão publicada no final de 2019 no International Journal of Environmental Research and Public Health enumera alguns benefícios dos chocolates mais amargos.
“O cacau, o ingrediente básico do chocolate, contém uma quantidade significativa de gordura. Ele também contém polifenóis, que constituem cerca de 10% do peso seco de um feijão inteiro. O cacau é uma das fontes mais conhecidas de polifenóis na dieta, contendo mais antioxidantes fenólicos do que a maioria dos alimentos. Três grupos de polifenóis podem ser identificados nos grãos de cacau: catequinas, antocianidinas e proantocianidinas; esses flavonoides são os fitonutrientes mais abundantes no cacau e responsáveis por seus benefícios com relação à ação anti-inflamatório, antioxidante e de melhora na circulação”, afirma a médica nutróloga Marcella Garcez, da Associação Brasileira de Nutrologia.
Seria ótimo se o nosso paladar fosse educado ao cacau 100%. No entanto, a amargura causada pelos polifenóis torna os grãos de cacau não processados bastante desagradáveis. “Os fabricantes, portanto, desenvolveram técnicas de processamento para eliminar o amargor, criando chocolates com menor teor de cacau (ao leite, com oleaginosas, meio amargo e o branco). Tais processos reduzem o conteúdo de polifenóis em até 10 vezes: para os consumidores, o produto é marcadamente diferente, principalmente devido ao baixo teor de polifenóis e às outras substâncias adicionadas durante a fase de processamento”, diz a médica.
Mesmo com todos os benefícios, é importante tomar cuidado com o consumo excessivo do chocolate amargo, pois, independentemente da concentração de cacau, o chocolate ainda tem açúcar e gorduras saturadas. No final das contas, é importante controlar o consumo diário. O ideal é consumir de 25 a 50 gramas de chocolate por dia, dando preferência às opções com maior concentração de cacau, como o chocolate amargo e o chocolate rosa. Abaixo, listamos os 5 benefícios do chocolate amargo.
Uma série de efeitos benéficos no sistema cardiovascular pode ocorrer após a ingestão regular de alimentos e bebidas que contenham cacau. “Os chocolates com maior concentração de cacau têm ação vasodilatadora, melhoram a função vascular e contam com atividades antiplaquetárias, prevenindo a formação de placa de gordura dentro das artérias”, explica a cirurgiã vascular Aline Lamaita, da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Ela explica que esses benefícios têm forte relação com a presença dos flavonoides, que são anti-inflamatórios e antioxidantes.
"Um estudo sueco relacionou o consumo de chocolate com menor risco de infarto do miocárdio e doença cardíaca isquêmica”, afirma a Marcella. Segundo o estudo, uma revisão sistemática sugeriu que o uso regular de chocolate pode estar associado a um risco cardiovascular reduzido, e que a dose mais adequada de consumo de chocolate foi de 45 gramas por semana, uma vez que níveis mais altos podem contrariar os benefícios à saúde devido a efeitos adversos associado ao consumo elevado de açúcar.
Recentemente, alguns estudos investigaram os efeitos preventivos ou terapêuticos do cacau e de seus constituintes contra a obesidade e a síndrome metabólica. Na revisão, os autores citam estudos que observaram uma diminuição da expressão de vários genes associados a ácidos graxos, além de aumentar a expressão de genes associados à termogênese. “Em um estudo clínico, o cheiro de chocolate amargo foi utilizado para avaliar a resposta do apetite. O chocolate produziu uma resposta de saciedade, reduzindo o apetite; portanto, poderia ser útil na prevenção do ganho de peso. Além disso, os flavonoides podem produzir eventos metabólicos que induziram a lipogênese e lipólise (quebra de gordura); tais eventos reduzem a deposição lipídica e a resistência à insulina”, afirma Marcella Garcez.
O chocolate escuro também pode funcionar em combinação com outros nutracêuticos e ter efeitos positivos no perfil lipídico. Um ensaio cruzado de 4 semanas entre 31 adultos com sobrepeso ou obesos determinou que o consumo diário de amêndoas (42g / dia) sozinho ou combinado com chocolate escuro foi benéfico para o colesterol total, colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL). Os autores concluíram que incorporar amêndoas, chocolate amargo e cacau em uma dieta sem exceder as necessidades energéticas poderia reduzir o risco de doença cardíaca coronária.
Estudos mostraram que o cacau possui propriedades regulatórias nas células imunes implicadas na imunidade inata e adquirida. “Os efeitos positivos dos flavonoides de cacau no sistema imunológico são conhecidos, como a redução da liberação de mediadores, a restauração do equilíbrio das células e a regulação negativa de produção de Imunoglobina”, diz Marcella Garcez.
Segundo estudos, a ingestão de chocolate está ligada ao aumento na síntese cerebral de serotonina, o famoso hormônio da felicidade e que produz uma sensação de energia e prazer. Mas é necessário ter cautela no consumo de chocolates com teor maior de açúcar, uma vez que os carboidratos também estão envolvidos nesse processo em um primeiro momento, mas seu excesso também pode causar distúrbios metabólicos e elevar a sensação de culpa.
O chocolate exerce vários efeitos sobre a sexualidade humana, atuando principalmente como afrodisíaco. “O cacau em pó e o chocolate contêm substâncias que, em conjunto com outros componentes do chocolate (como cafeína e teobromina), produzem uma sensação transitória de bem-estar. O principal componente da excitação sexual é a vasocongestão periférica dos tecidos genitais; assim, a serotonina, com produção aumentada após o consumo de cacau, pode estar envolvida no processo de estimulação sexual”, diz a médica Marcella
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