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Dor crônica atinge 37% das pessoas no Brasil; Saiba como tratar

Dor crônica atinge 37% das pessoas no Brasil; Saiba como tratar

Dor crônica é aquela que, em geral, persiste por mais de três meses e atrapalha as atividades diárias. Entre as mais frequentes estão a de cabeça, a da coluna e as articulares

Publicado em 19 de setembro de 2020 às 08:00

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Matéria sobre fibromialgia e dores crônicas
A pedagoga Marlene Cândido tem dor crônica há 30 anos. “Tem dias que não consigo me mexer" . (Fernando Madeira)

De repente aquela dor, que você achava que poderia ser passageira, persiste por mais de três meses. Traz incômodo, mal-estar e, dependendo da situação, até dificuldade de se mexer. Dormir se torna um martírio. Possivelmente é um tipo de dor crônica, mais comum do que você imagina.

Um estudo divulgado em 2017, realizado pela Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED), diz que pelo menos 37% da população brasileira, ou 60 milhões de pessoas, sentem dor de forma crônica (aquela que persiste por mais de três meses).

“Há dois meses, a Associação Internacional para os Estudos da Dor (IASP) atualizou as definições de dor, após 40 anos. Hoje entendemos a dor como uma experiência que pode ser sensorial ou emocional, e ela pode estar associada ou se parecer associada a uma lesão. Podemos dizer que dor é uma experiência pessoal. Quando pensamos em dor crônica, é aquela persistente ou recorrente e dura mais de três meses”, conta Adrieli Borsoe, que é fisioterapeuta, acupunturista e especialista em avaliação e tratamento de dor crônica pela USP.

DOR AGUDA

dor crônica
Dor crônica é aquela persistente ou recorrente e dura mais de três meses. (Shutterstock)

A fisioterapeuta explica que a dor aguda, ao contrário da crônica, é aquela considerada de início repentino, com causas quase sempre bem definidas e que costuma ser autolimitada, com resolução rápida. Então, quando perceber que a dor deixa de ser aguda e passa a ser crônica? “Quando percebemos que a queixa de dor não passa no tempo esperado para cicatrização ou resolução do problema, torna-se perceptível a cronificação do sintoma. Podemos identificar o fenômeno quando estímulos não dolorosos passam a ser interpretados pelo cérebro como dolorosos e quando a localização da dor é muito maior que a da lesão”, diz.

3 DÉCADA DE DORES

A pedagoga aposentada Marlene Cândido Lima, 65 anos, convive com uma dor crônica há 30 anos. Ela sempre foi uma mulher ativa. Além do trabalho, cuidava da casa e gostava de frequentar academia. Até que as dores na coluna começaram a aparecer. “Nunca mais elas sumiram, convivo desde os 30 anos”, conta.

Matéria sobre fibromialgia e dores crônicas
Marlene Cândido  usa muito gelo ou compressa quente, além de remédios. (Fernando Madeira)

Ao longo dos anos as dores se agravaram. Marlene desenvolveu a escoliose, lordose, três hérnias de disco, além dos problemas no joelho. “As principais dores são no joelho e no final da coluna. Tem dias que não consigo me mexer, na posição que deito tenho que ficar. Fico sem dormir”, relata.

Ela costuma usar muito gelo ou compressa quente, além de remédios. As caminhadas, que sempre fizeram parte de sua rotina, foram proibidas pelo médico. “Agora só posso fazer hidroginástica”, conta a moradora de Vila Velha.

SINTOMAS MASCARADOS

O médico especialista em dor e neurocirurgião da Samp, Erick Barcelos Borges, explica que a dor crônica acarreta muito sofrimento aos pacientes e aos seus familiares por vários meses ou anos. “O tratamento é individualizado e realizado por uma equipe multidisciplinar para maior entendimento e para melhor resposta”.

dor crônica
O médico Erick Barcelos Borges alerta que o consumo de analgésicos de venda livre pode mascarar os sintomas das dores crônicas. (Shutterstock)

É comum a pessoa tomar remédio para aliviar a dor. Porém, o médico alerta que o consumo de analgésicos de venda livre pode mascarar os sintomas das dores crônicas. “A automedicação, cada vez mais praticada, principalmente após a facilidade de acesso às inúmeras informações disponíveis na internet, pode retardar ou dificultar os diagnósticos e consequentemente os tratamentos dos fatores causadores de dores crônicas”.

COMO PREVENIR

São vários os fatores que assumem um papel importante na prevenção e no tratamento dessas dores. Um dos principais é a prática da atividade física. A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza 75 minutos de atividade física intensa ou 150 minutos de exercícios moderados durante a semana para os adultos. “A prática de exercícios com regularidade é fundamental para prevenção da dor crônica por promover redução de massa gordurosa e aumento da massa muscular, o que fortalece e protege as nossas articulações, reduzindo lesões no dia a dia de trabalho. Além disso, apresenta um importante impacto na prevenção da dor por ser um importante fator na prevenção de inúmeras doenças oncológicas e/ou cirúrgicas. Isso é muito relevante, pois a principal complicação dos pacientes oncológicos é a dor, e mais de 10% dos pacientes submetidos a tratamentos cirúrgicos apresentam dor crônica pós-operatória”, explica o neurocirurgião.

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A prática de exercícios com regularidade é fundamental para prevenção da dor crônica por promover redução de massa gordurosa e aumento da massa muscular

Erick Barcelos Borges
Médico especialista em dor e neurocirurgião
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DOR NAS COSTAS

A dona de casa Ângela Maria Vieira Rangel Machado, de 75 anos, passou a conviver com a dor nas costas há 15 anos. “No começo não imaginava que fosse dor cônica. Doía muito, eu deitava e tinha que me cobrir com um cobertor para esquentar e esperar a dor passar. Ia aos médicos e eles passavam relaxante muscular. Mas as dores não passavam”, lembra.

Matéria sobre pessoas que sofrem com dores crônicas
A dona de casa Ângela Maria Vieira passou a conviver com dor nas costas há 15 anos . (Fernando Madeira)

A dor é tanta que muitas vezes ela não conseguia fazer o básico como cozinhar, ficar em pé ou apenas sentada. “Gostava de costurar e bordar, mas tive que parar. Tem mais de uma década que não faço nada disso”. A fisioterapia - que chegou a ser feita 5 dias da semana - e a acupuntura são o tratamento que tem ajudado a amenizar a situação. “Não tomo mais remédio e as dores diminuíram e muito. Também tento não ter aborrecimentos”.

ABALOS EMOCIONAIS

Adrieli explica que a dor tem dimensões biológicas, psicológicas e sociais. Segundo ela, dificilmente se consegue isolar os impactos ocorridos ao experimentarmos emoções mais intensas. “Uma vez que a dor, por definição, envolve experiências emocionais além das sensoriais, há participação de regiões no cérebro relacionadas ao processamento afetivo. A sensibilização central que muitas vezes permeia a dor crônica envolve ativação dessas regiões cerebrais (memória dolorosa, angústia, medo, sofrimentos) somada ao processamento sensorial, que envolve os aspectos discriminativos, como localização da dor, intensidade e duração”. 

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Quando a população entende sua responsabilidade na desordem, permite ao corpo trabalhar e intervem positivamente nos processos internos de saúde. Dessa forma, não há espaço para a dor crônica

Adrieli Borsoe
Fisioterapeuta e especialista em avaliação e tratamento de dor crônica pela USP
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 Entre as saídas possíveis para a redução dos casos no país estão a educação em dor e o incentivo aos hábitos saudáveis. “Quando a população entende sua responsabilidade na desordem, permite ao corpo trabalhar e intervem positivamente nos processos internos de saúde. Dessa forma, não há espaço para a dor crônica”, diz Adrieli.

AS DORES CRÔNICAS MAIS RECORRENTES

  • 01

    Dor na coluna.

    Pode-se incluir a dor na região lombar, que pode acometer de 51 a 84% das pessoas no mundo. No caso da dor lombar crônica, pode chegar a 18%.

  • 02

    Dores de cabeça.

    No geral, podem chegar a acometer 47% da população, sendo que 3% são classificadas como crônicas, com mais de 15 dias por mês.

  • 03

    Dor neuropática.

    Classifica-se como dor causada por lesão ou doença no sistema nervoso somatossensorial. Esta queixa, quando crônica, pode ter uma prevalência de 17,9% no mundo. A dor ciática e as neuralgias pós-herpéticas e diabéticas se encontram nesse índice.

  • 04

    Fibromialgia e dor crônica generalizada.

    É definida como dor que é bilateral, acima e abaixo da cintura, na região da coluna e dura pelo menos 3 meses. No caso da fibromialgia, somamos esses sintomas à fadiga e sintomas cognitivos. Os índices de prevalência chegam entre 10,6 a 13,5% da população mundial.

OS TRATAMENTOS

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  • 01

    Cefaleia crônica.

    Tratamento de crise: anti-inflamatórios não hormonais, corticosteroides e neuromoduladores. Tratamento de transição: descontinuar gradualmente excesso de medicações caso aconteça. Tratamento preventivo de crises: algumas medicações têm boa evidência preventiva; toxina botulínica Tratamento não farmacológico: a acupuntura tem evidências sólidas e promissoras; ioga, meditação, relaxamento, massagem, termoterapia, higiene do sono, bons hábitos nutricionais, limitar o consumo de cafeína, atividade física leve a moderada, terapia cognitivo-comportamental

  • 02

    Dor na coluna.

    Episódio específico: exercícios em grupo, terapia manual e psicoterapia Dor persistente/resistente ao tratamento: programa físico associado ao psicológico combinado Para alívio da dor pode-se considerar anti-inflamatórios não esteroidais e opioides fracos

  • 03

    Dor neuropática.

    Analgésicos de primeira linha: anticonvulsivantes, antidepressivos tricíclicos e inibidores de receptação de serotonina-noraepinefrina, opioides e uso tópico de anestésicos

  • 04

    Fibromialgia.

    Medicamentoso: antidepressivos tricíclicos, relaxantes musculares, inibidores seletivos de recaptação de serotonina, neuromoduladores Não medicamentoso: exercícios aeróbios moderadamente intensos de 2 a 3 vezes na semana, com resistência leve, evitando a dor induzida por exercícios, com progressão gradual. Alongamento, fortalecimento e relaxamento podem ser incentivados, apesar de ter menor evidência. Terapia cognitivo-comportamental é recomendada e não há consenso sobre acupuntura.

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