Em tempos de informações cada vez mais efêmeras e, frequentemente, desprovidas de um contexto mais aprofundado, a cultura do vinho não foge à regra e se encontra mergulhada nesse mesmo redemoinho midiático digital.
Para aqueles que, como eu, acompanham o mundo do vinho há mais de duas décadas, é impressionante observar como as informações se tornaram muito mais acessíveis e enriquecedoras nos últimos tempos. Enquanto antigamente era preciso adquirir alguns dos poucos livros existentes no mercado (em sua maioria, importados), hoje é muito fácil obter dados específicos sobre praticamente qualquer vinho ou visualizar com riqueza de detalhes os vinhedos mais famosos do planeta.
Se por um lado é mais do que desejável ter acesso a essa profusão de informações, por outro essa facilidade acabou gerando um curioso problema, que atinge não apenas o vinho, mas a maioria das áreas do conhecimento humano: uma superficialidade generalizada das informações e uma redução de referências seguras.
Até alguns anos atrás, as informações disponíveis sobre vinhos estavam embasadas sobretudo no conhecimento e na longa experiência de respeitados profissionais da área, pessoas que percorriam as principais regiões produtoras anualmente e tinham contato próximo com os produtores locais.
Eram eles que difundiam as informações sobre as últimas safras e os novos vinhos que estavam por chegar ao mercado, atuando como a referência primordial para as pessoas interessadas em acompanhar as novidades ou conhecer mais sobre a cultura do vinho.
Atualmente, essas fontes tradicionais ainda gozam de muito respeito e credibilidade, mas parecem estar perdendo boa parte de seu vigor (e valor), cedendo cada vez mais espaço a um sem-número de formadores de opinião em blogs, perfis de mídia social e outras plataformas, cujo domínio do tema, em boa parte, parece ser bastante rarefeito.
Multiplicam-se e ganham cada vez mais importância, os aplicativos de vinho abastecidos com avaliações de usuários (como o Vivino e o Delectable) que, apesar de terem seus méritos, acabam gerando um caldeirão de notas distorcidas ou sem correlação analítica.
Que fique claro, esse texto não é uma crítica ao novo modelo de difusão digital da informação sobre vinhos (no qual eu mesmo estou incluído). A intenção aqui é alertar para a necessidade de saber separar qualidade de conteúdo, de popularidade de conteúdo, nesses tempos de informação quase instantânea e pulverizada.
Existem ótimas referências e formas de compartilhamento da informação surgidos nesse admirável novo mundo do vinho, capazes de oferecer conteúdo de grande relevância, de forma muito dinâmica e com um importante mérito adicional: popularizar e aproximar as pessoas curiosas em descobrir um pouco mais sobre a cultura do vinho.
Assim, por mais que a democratização da informação e do conhecimento seja extremamente louvável e bem-vinda, que a profusão de ferramentas digitais contribua significativamente para a propagação de conteúdo, cabe ressaltar a importância da busca constante pelos melhores referenciais. Num segmento onde o caráter objetivo (teórico) é frequentemente sublimado pelo caráter subjetivo (sensorial), são essas referências de qualidade que nos garantem um embasamento sólido de conhecimento e nos ajudam a construir a própria análise crítica sobre o vasto, prazeroso e instigante mundo do vinho.
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