O Dia Nacional de Combate ao Fumo, comemorado neste domingo (29 de agosto), é uma campanha criada em 1986 que até hoje serve como forma de conscientização, sensibilização e mobilização da população acerca dos danos causados pelo tabagismo, ajudando assim na luta contra o vício. E engana-se quem acredita que as consequências do tabagismo estão apenas ligadas ao aparelho respiratório.
Além dos danos ambientais, econômicos e sociais, o cigarro também pode afetar o organismo como um todo. Figurando como a principal causa de morte evitável em todo o mundo, o tabagismo está associado ao surgimento de uma série de alterações no organismo, afetando, por exemplo, a fertilidade, a pele, os cabelos e o cérebro. Não acredita? Especialistas de diversas áreas explicam como o cigarro afeta as estruturas e o funcionamento do organismo. Confira.
Muitos produtos químicos nos cigarros são tóxicos para o cérebro, estando associados ao declínio mental e à demência. “O acetato de chumbo, por exemplo, é uma das substâncias tóxicas que possuem efeito cumulativo para o organismo, na medida em que o chumbo não é eliminado. Então, há um risco de danos celulares e desenvolvimento de tumores”, explica o médico neurologista e neuro-oncologista Gabriel Novaes de Rezende Batistella, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America. E o mesmo vale para o fumo passivo. “Por isso, converse com outras pessoas de sua família sobre parar de fumar também. Todos ficarão mais saudáveis se sua casa e seu carro forem protegidos da fumaça do cigarro”, completa.
O tabagismo é um dos principais fatores envolvidos no envelhecimento da pele, favorecendo o surgimento de flacidez, rugas e manchas. “Estudos apontam que o risco de rugas moderadas a graves em fumantes ao longo da vida é mais de duas vezes maior do que em fumantes que haviam fumado por menos tempo”, afirma Roberta Padovan, médica pós-graduada em Dermatologia e Medicina Estética. Isso ocorre porque o cigarro contém substâncias tóxicas que causam a vasoconstrição periférica por um período de dez minutos, o que diminui o fluxo sanguíneo para o tecido cutâneo e cabelos. “Como resultado, podemos notar uma perda de viço e luminosidade da pele, além do amarelamento do tecido e a diminuição da firmeza por conta da oxigenação e nutrição reduzidas”, explica a dermatologista Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
O cigarro também pode prejudicar o couro cabeludo e, consequentemente, os fios. “Para manter-se saudável e crescer adequadamente, o couro cabeludo precisa de oxigenação e nutrição, que são prejudicadas devido à vasoconstrição provocada pelo cigarro. Além disso, as substâncias tóxicas contidas no produto chegam ao couro cabeludo pela corrente sanguínea, gerando um quadro inflamatório que torna a região mais suscetível a sofrer com problemas como psoríase, dermatite seborreica, irritação, afinamento e quebra dos fios e até mesmo queda capilar”, alerta o dermatologista Daniel Cassiano, da Clínica GRU Saúde.
O cigarro é extremamente prejudicial para o coração. “Cada vez que você inala a fumaça do cigarro, sua frequência cardíaca e sua pressão arterial aumentam temporariamente. Seu coração tem que bater mais forte e mais rápido do que o normal. Os níveis de colesterol também ficam fora de controle, já que a fumaça do cigarro aumenta os níveis de LDL, ou colesterol ‘ruim’, e de uma gordura no sangue chamada triglicerídeos. Isso faz com que uma placa de gordura se acumule em suas artérias, aumentando o risco de ataques cardíacos”, explica o médico cardiologista e geriatra Juliano Burckhardt, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Logo, parar de fumar é uma excelente maneira de melhorar a saúde cardíaca. “Apenas 20 minutos após parar, sua pressão arterial e frequência cardíaca diminuem. Em 2 a 3 semanas, seu fluxo sanguíneo começa a melhorar. Depois de um ano sem cigarros, você tem metade da probabilidade de sofrer com alguma doença cardíaca do que quando fumava. Após 5 anos, o risco é quase o mesmo do que de alguém que nunca acendeu um cigarro”, afirma o médico.
O hábito de fumar é capaz de influenciar até mesmo nos aspectos nutricionais do organismo. “Por atuar no sistema nervoso central, o cigarro causa uma diminuição do apetite, pois afeta a atividade de neurotransmissores que são responsáveis pelo controle da fome, além de alterar o paladar e o olfato, reduzindo o gosto e o aroma dos alimentos”, diz a médica nutróloga Marcella Garcez, da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). “Além disso, o cigarro promove um efeito termogênico, acelerando o metabolismo, o que leva ao emagrecimento e reduz a oxigenação dos tecidos do organismo, que causa envelhecimento precoce e acelerado”.
O tabagismo promove o aparecimento de infecções vaginais. “O tabaco diminui o número de lactobacilos, que são bactérias de defesa presentes no organismo e são fundamentais para a flora vaginal, para manter o pH normal da vagina. Se não tivermos lactobacilos, há uma chance maior de infecções. A paciente pode começar a ter um corrimento, às vezes até com cheiro, um odor característico, porque há um desvio da flora e isso é considerado uma infecção, uma vaginose”, explica a ginecologista e obstetra Eloisa Pinho. Há ainda um outro problema, com relação à lubrificação íntima: “Além do muco normal de uma vagina saudável, também a lubrificação que facilita as relações sexuais pode ficar comprometida. A própria nicotina faz vasoconstrição, ou seja, a diminuição do fluxo sanguíneo presente em qualquer órgão. Essa mesma vasoconstrição vai diminuir a produção de secreção por parte das glândulas aí existentes, originando secura vaginal e diminuição de lubrificação. Deste modo, a saúde vaginal torna-se mais vulnerável e as relações sexuais podem ser dolorosas”, diz a ginecologista.
O cigarro é um dos principais causadores da infertilidade, pois os componentes tóxicos presentes no produto, como a nicotina e o alcatrão, pioram severamente a qualidade reprodutiva. “Nas mulheres, o tabagismo é capaz de favorecer a deterioração dos óvulos, envelhecendo-os em até dez anos e acelerando o início da menopausa, o que é especialmente prejudicial, quando as mulheres estão querendo engravidar cada vez mais velhas. Já nos homens, o hábito de fumar diminui a quantidade de espermatozoides e fragmenta o DNA do esperma, reduzindo assim a capacidade de fecundação, além de também contribuir para a perda do apetite sexual e a disfunção erétil”, afirma Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana da Clínica Mater Prime.
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