A pandemia e a necessidade de realizar o isolamento domiciliar já se estende por mais de três meses no Estado. O momento trouxe muitos questionamentos, medos, ansiedade e estresse. Uma das consequências disso é o aumento das queixas de surgimento ou piora das doenças psico dermatológicas, área da dermatologia que foca na interação entre as doenças de pele e a saúde mental dos pacientes.
Alguns exemplos são o aumento da queda de cabelos, a piora da dermatite atópica e a volta das manchas brancas de vitiligo que já estavam pigmentadas. Já é comprovado que estressores psicológicos são gatilhos para o aparecimento ou piora dos quadros cutâneos.
Cláudia Sales é psicóloga e descobriu a dermatite há 3 anos após ter uma reação de inchaço e edemas no rosto depois de se maquiar. Nessa época, ela estava em conflito em relação ao trabalho, decidindo se iria ou não pedir demissão para trabalhar de forma independente. Clinicar é minha verdadeira paixão, mas passei por um conflito muito grande, porque eu ia trocar o certo pelo duvidoso. E, hoje em dia, toda vez que eu me percebo ansiosa começo a ter esfoliações, bolinhas, coceira, explica.
Ela conta que, com a quarentena, a piora da doença foi nítida. No início, quando eu ainda não tinha me organizado direito, tive alguns episódios em todo corpo. É muito frequente acontecer quanto estou passando por estresse, complementa.
"Emoções são importantes fatores em todas as doenças de pele. Os estressores, tanto internos, quanto externos, rompem o equilíbrio do organismo. Eles estimulam uma série de reações do sistema neuroendócrino afetando vários aspectos imunológicos das doenças da pele", explica a médica dermatologista Márcia Senra, Coordenadora do Departamento de Psicodermatologia da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Algumas pessoas com pouca resiliência, sensíveis ao estresse, portadores de transtornos ansiosos e depressivos, pioram muito com a experiência de quarentena. Pode ser por estarem afastados de seus entes queridos, pela perda de liberdade, além das fobias, desenvolvendo quadros de pânico ou até mesmo insônia causada pelas incertezas quanto à doença e ao futuro. "Com tantas emoções negativas, com toda certeza, as somatizações na pele irão aumentar enormemente justamente por essa inter-relação entre a pele, o sistema nervoso e o psiquismo", afirma Márcia Senra.
Diante do cenário, a SBD orienta que a população, neste período de quarentena, invista em bons hábitos que vão ajudar a reduzir o estresse e prevenir alterações em sua pele, como prática de atividades físicas, ter um bom sono, se alimentar bem e ocupar a cabeça com atividades que causem prazer - desenhar ou realizar jardinagem, por exemplo. Além disso, é importante ter uma rotina diária de cuidados com a pele.
Quanto ao profissional dermatologista, cabe a ele avaliar tanto a pele quanto o psiquismo de quem o procura. "O dermatologista deve desenvolver a melhor relação médico-paciente com total empatia, acolhimento, fornecendo ferramentas, oferecendo terapias complementares e indicando em alguns casos, o aconselhamento psicológico ou psiquiátrico", finaliza o médico Sérgio Palma, Presidente da SBD.
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