Ao contrário de seus netos, eles não nasceram em plena era digital. Tiveram que encarar o desafio de navegar nesta nova onda. E deram um jeito de se conectar. Sim, os idosos estão cada vez mais onde a maioria das pessoas está: on-line. Em 2008, eles eram 5,7% dos internautas. Já em 2017, somavam 31,1%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Com um celular na palma da mão, eles pagam contas, marcam consultas médicas, combinam encontros, batem papo com amigos e parentes, leem jornais e livros, veem filmes...
Uso o celular para tudo. Acesso Facebook, Instagram. Só não gosto muito dos grupos de WhatsApp. Mas acho muito importante para o idoso essa conexão. Comecei tateando, perguntando uma coisa aqui, outra ali, diz dona Marcia Angela Hulle, de 81 anos.
Com os cabelos brancos recém-assumidos, Marcia mostra agilidade ao manusear aplicativos. Tenho um da Prefeitura de Vitória que uso muito, por exemplo, para saber os horários dos ônibus. E outro aplicativo do Convento, para saber os horários das missas, comenta ela, que dá aulas em uma escola de artesanato.
VÍDEOS
Marcia ainda gosta de usar o YouTube para pegar receitas culinárias. Já a amiga Eugênia de Noronha, 76 anos, não tolera a plataforma de compartilhamento de vídeos. Até recebo recomendações, como de médicos falando sobre isso ou aquilo, mas não tenho paciência, dispara.
De tão antenada, nem parece que Eugênia, que foi professora a vida toda, deixou as salas de aula porque se achava atrasada em relação à turma jovem. Lembro do dia em que uma aluna chegou mostrando um celular que fazia fotos. Tem uns 15 anos isso. Naquele dia, eu me preocupei e achei que era hora de parar, de deixar gente nova entrar. Fiquei assustada, mas quis conhecer. Por isso, depois que aposentei, fiz curso de fotografia, de informática. Até professor particular eu contratei para me ensinar a mexer no computador, conta.
A família deu um empurrãozinho. Meus filhos não querem me deixar para trás e me ensinam também. Hoje marco consultas médicas por um aplicativo. Faço transações bancárias, pago serviços com PicPay. E olha que tem gente mais nova que nem conhece esse aplicativo!, destaca a aposentada.
Também da turma, Maria José Venâncio, 66 anos, faz tudo pelo celular: Reservo hotéis, compro passagens aéreas. Tenho aplicativo para tudo! Jornal, por exemplo, só leio pelo celular. E adoro jogar palavra-cruzada no celular. Meu neto diz vovó, você está viciada. Até tiro o barulho para ele não ouvir quando estou jogando, diverte-se.
Quando o assunto é rede social, a mais animada, sem dúvida, é a Eartha Lins, 66 anos. Adoro fazer selfie e publicar no Instagram! Tiro 200 fotos e escolho uma!, brinca a caçula do grupo. Na verdade, ela leva o hobby a sério: Já realizei três exposições fotográficas usando câmera de celular, orgulha-se.
VEJA VÍDEO
OFICINAS
Eugênia, Marcia, Maria José e Eartha frequentam um centro de convivência da terceira idade em Vitória, onde fazem aulas de biodança. Sabendo que é uma demanda dos próprios alunos, o local oferece ainda oficinas digitais. Nelas, ensinamos jogos digitais, por exemplo. E tem uma que se chama eu e meu celular, em que o idoso aprende a usar aplicativos, como os de transporte, e a mandar mensagens, fazer vídeos, afirma a coordenadora do espaço, Erika Fortuna.
E é assim, superando uma ou outra limitação, que essas vovós vão aprendendo as mil e uma utilidades que mundo digital oferece. Muitos idosos ainda têm medo da tecnologia. E esse medo, muitas vezes, só vai ser vencido se houver interesse, algo prazeroso ali. Por exemplo, se os netos moram longe, eles aprendem a usar videochamadas e vão quebrando outras barreiras. Aprender algo novo é bom para o raciocínio, a memória, a linguagem, observa o psicólogo Gustavo Souza, que trabalha com a terceira idade há 15 anos.
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