No final de abril, a empresária Mayra Cardi ficou por dentro de mais uma polêmica. Dessa vez, pela defesa de um ''jejum intermitente'' de 7 dias praticado por ela, que pretendia estender o prazo, e divulgado em sua rede social com cerca de 6 milhões de seguidores.
A postagem chamou atenção de internautas, que criticaram a atitude e levantaram a questão de transtornos que isso pode causar. "A Mayra Cardi ficou 7 dias sem comer, mostrou a barriga chapada, fez uma publi para um produto de emagrecimento e, em seguida, disse que o próximo jejum será de 14 dias. A gente está falando de alguém que está publicamente promovendo transtorno alimentar para 6 milhões de pessoas", escreveu uma usuária do Twitter.
E a internauta não está errada. Especialistas afirmam que tal atitude pode acarretar danos, tanto físico quanto psicológico, aos influenciados em tentar a prática.
A endocrinologista Juliana Peixoto afirma que o jejum intermitente tem sido usado como ferramenta terapêutica no tratamento da obesidade. Ela pontua que esse método possui regras claras e indicações precisas. ''O jejum proposto nos estudos com respaldo pelas sociedades de classe é realizado em algumas horas do dia, e come nas outras horas. Também não se aplica a todo mundo. Bem diferente do jejum absoluto que a influenciadora relata ter feito''.
A nutricionista Carina Oliveira também reforça que o jejum não é uma dieta, e sim uma estratégia alimentar. ''O objetivo dele é ter alternância entre o período que você vai se alimentar e o que vai ficar de privação'', diz ela. A nutricionista reforça a fala da endocrinologista ao afirmar que ''não é uma dieta de gaveta, o mesmo protocolo que foi feito pra alguém, não serve pra todo mundo, é individualizado''.
Juliana e Carina afirmam que os prejuízos advindos do jejum praticado de forma errada podem atingir o físico e o psicológico do indivíduo. Na parte física, Peixoto fala da questão da hidratação e dos dias que o ser humano não pode ficar sem comer. "Além do mais, 'se você já tem uma doença de base, pode evoluir com o estresse, e por conta desse jejum prolongado abaixar a imunidade''.
A especialista em nutrição também cita que a prática sem orientação ''pode desregular o sistema cerebral e metabólico, sendo que esse desequilíbrio altera a disponibilidade energética e influencia na saúde psicológica''. Juliana complementa a fala sobre o dano na parte psicológica ao citar o desenvolvimento de transtornos alimentares, como anorexia e bulimia.
Mayra chegou a voltar às redes para se defender das acusações de má influência e garantiu que tudo foi feito com supervisão baseada em estudos científicos. "Fiz jejum de sete dias. Com supervisão e com a finalidade de saúde, alma, oração e estudos. Quem quiser saber mais, tem uma live com o profissional do meu IGTV. Não fiz para emagrecer porque sou contra jejum para emagrecer, tenho dois programas de emagrecimento e nenhum usa jejum. Sem mais!", disse Mayra no Twitter.
Na publicação do seu vídeo no Instagram, ela continua: "Ainda sobre jejum. Coloquei nos meus destaques com nome 'artigos jejum' pesquisas e artigos comprovando o benefício do jejum a saúde. Não é a Mayra que está falando, nem o Dr. Eduardo Corassa, são vários médicos e pesquisadores do mundo todo, contra fatos não há argumentos!”.
O colunista Victor Machado, do Viva Bem (Uol), lembrou em coluna publicada no último dia 10 de maio que os artigos apresentados pela famosa foram financiados por uma clínica spa com unidades na Espanha e Alemanha, que vende programas de "jejum terapêutico". "Todos os estudos citam que existe uma ingestão calórica baixíssima, cerca de 250 calorias por dia e que essa ingestão ocorre com acompanhamento médico no spa. Isso demonstra que os artigos, na verdade, não estão falando em jejum intermitente, mas sim de uma restrição calórica severa. Esses estudos também não comparam os métodos da clínica com uma restrição calórica comum. Então, não tem com saber se, de fato, essa é a melhor estratégia para a saúde".
Para a endocrinologista Juliana, ''a defesa de um jejum prolongado sem orientação é nocivo socialmente, perigoso e cruel'. Como conselho, ela pontua que é necessário dar respaldo a quem é especialista de fato, procurar um médico, nutricionista, e pessoas que estudam de verdade sobre o assunto.
Carina alega que o caso da Mayra trata de ''uma pessoa leiga, não formada em nutrição ou medicina, que está influenciando milhões de outras pessoas também leigas''. Ela ressalta que a prática do jejum tem seus benefícios, mas não é pra todo mundo, e deve ser pensado de forma individualizada.
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