O álcool provoca cerca de 2,8 milhões de mortes anuais em todo mundo, das quais quase 100 mil no Brasil, aponta estudo publicado nesta quinta-feira no prestigiado periódico médico The Lancet. De acordo com a pesquisa - que levou em conta dados de 195 países da série de estudos Fardo Global das Doenças, do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME, na sigla em inglês) da Universidade de Washington, EUA -, o consumo de bebidas alcoólicas e as doenças a ele relacionadas estão entre os principais fatores de risco e incapacitação evitáveis no planeta, respondendo por aproximadamente uma em cada dez mortes de pessoas com entre 15 e 49 anos e liderando as causas de morte prematura de pessoas nesta faixa etária.
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Diante disso, os cientistas responsáveis pelo levantamento sugerem que não há níveis seguros para uso do álcool, com qualquer benefício trazido por seu consumo moderado, em especial para o sistema cardiovascular, sendo largamente contrabalançado pelos seus efeitos adversos em outros aspectos da saúde, principalmente o desenvolvimento de câncer, que crescem exponencialmente com seu abuso.
- Estudos prévios encontraram um efeito protetor do álcool sob algumas condições, mas descobrimos que os riscos combinados à saúde associados ao álcool aumentam com qualquer quantidade (consumida) diz Max Griswold, do IHME e líder da pesquisa. - Em particular, há uma forte associação entre o consumo de álcool e os riscos de câncer, ferimentos e doenças infecciosas que compensa os efeitos protetores contra doenças isquêmicas do coração nas mulheres. E embora os riscos à saúde do álcool comecem pequenos com uma dose por dia, eles crescem rapidamente à medida que as pessoas bebem mais.
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Segundo os cálculos dos cientistas, um ano consumindo diariamente apenas uma dose de álcool isto é, 10 gramas puros da substância, o equivalente ao encontrado em uma pequena taça de vinho tinto (100 ml) com 13% de álcool por volume; uma lata de cerveja (375 ml) com 3,5% de álcool; ou uma dose de uísque ou outros destilados (30 ml) a 40% por volume já aumenta o risco de desenvolvimento de uma das 23 doenças ou problemas relacionadas ao seu consumo que vão de cardiovasculares a câncer, passando por infecções respiratórias, cirrose e diabetes, bem como violência interpessoal, acidentes de trânsito, afogamentos e outros ferimentos não intencionais em pessoas com 15 a 95 anos em 0,5% se comparado a uma abstinência total no período. Já se o consumo chegar a duas doses por dia este risco sobe em 7%, enquanto no caso de cinco doses diárias ele vai para 37% maior.
- Políticas focadas na redução do consumo de álcool aos menores níveis serão importantes para melhorar a saúde (da população) defende Griswold. - A visão geral dos benefícios à saúde do álcool precisa ser revista, particularmente à medida que melhores métodos e análises continuam a jogar luz sobre como o álcool contribui para as mortes e incapacitações globais.
Os cientistas destacam ainda que o consumo de álcool varia consideravelmente no mundo. Ao todo, em 2016, último ano da série histórica montada pelo estudo, cerca de uma em cada três pessoas, ou 2,4 bilhões em todo planeta, bebiam, numa proporção de 25% das mulheres (900 milhões) e 39% (1,5 bilhão) dos homens. Em média, elas tomavam 0,73 dose por dia, e eles consumiam 1,7 dose.
O país com maior prevalência de bebedores é a Dinamarca (95,3% das mulheres e 97,1% dos homens), enquanto o Paquistão fica no último lugar do ranking dos homens (0,86%) e Bangladesh no das mulheres (0,32%). No Brasil, a prevalência calculada para 2016 foi de 42% entre as mulheres e 71% para os homens.
Já os campeões no consumo médio diário são os romenos, com 8,2 doses, com os paquistaneses mais uma vez no fim do ranking, com apenas 0,0008 dose. As ucranianas, por sua vez, bebem em média 4,2 doses por dia, com as iranianas consumindo só 0,0003 dose. No Brasil, os homens tomam em média 3 doses de álcool por dia, e as mulheres, 1,5 dose. Assim, aqui no país o maior número de vítimas anuais de doenças relacionadas ao álcool está entre eles, com estimadas 76 mil mortes, enquanto 21 mil delas também falecem anualmente por problemas relacionados ao consumo de bebidas.
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