As tristes estatísticas de mortes por Covid-19 no País se misturam a histórias de descobertas e superação de outras doenças, como o câncer. O senso comum já diz: uma doença não exclui outras e nem necessariamente espera para chegar.
A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica já confirma uma redução na realização de atendimentos e procedimentos oncológicos. Desde o início da pandemia, segundo estimativas das Sociedades Brasileiras de Patologia e de Cirurgia Oncológica, mais de 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer. A Sociedade Brasileira de Mastologia alerta para a queda de atendimentos em hospitais públicos do país das pacientes em tratamento da neoplasia mamária.
Mesmo com os números assustadores, há casos de mulheres que descobriram o câncer de mama durante a pandemia ou tiveram que enfrentar o tratamento, de cirurgias a quimioterapias, durante esses meses.
Elza Speroto, 63 anos, descobriu que tinha câncer de mama no ano passado, mas foi surpreendida pela pandemia em meio ao tratamento. "A verdade é que me senti muito mais limitada este ano, com a pandemia, do que quando descobri a doença, no ano passado. Mesmo me sentindo mal com os efeitos dos remédios, eu sabia que minha vida não podia parar e precisava tomar a decisão de fazer a cirurgia, em meio às incertezas que o coronavírus trouxe, afirma Elza.
De acordo com a oncologista Luana Pescuite, da Samp e responsável pela Oncomédica, um serviço que acaba de ser inaugurado com foco exclusivo no atendimento oncológico, ao se deparar com um diagnóstico de câncer de mama, em qualquer época, mas ainda mais durante uma pandemia nunca vivida, muitas mulheres enfrentam limitações e restrições, mesmo em casos de um tratamento bem-sucedido.
O diagnóstico do câncer de mama é um evento extremamente delicado e que remete, além do desafio do tratamento da doença oncológica, a possibilidade de alterações em características especiais para a maioria das mulheres, como a queda de cabelo. Muitas delas expõe um sentimento de perda de feminilidade e redução da autoestima, além do receio de iniciar o tratamento durante a pandemia. O médico deve estar sempre atento a estes sinais e oferecer apoio e acolhimento, além de orientações direcionadas em como se proteger da infecção pelo Covid-19 durante este período. Além disso, uma equipe multidisciplinar bem preparada é fundamental para indicar caminhos, oferecer as melhores alternativas de tratamento e recuperação para cada caso em suas particularidades, afirma Luana.
Segundo a médica, o câncer de mama é o tumor maligno feminino mais diagnosticado no Brasil na atualidade, e a campanha do Outubro Rosa vem alertar sobre o autocuidado e a importância do diagnóstico precoce, informar sobre a doença e as opções de tratamento, além de encorajar as pacientes sobre a possibilidade de retorno às atividades do dia a dia que eram praticadas antes do diagnóstico.
Mãe de trigêmeos de 10 anos, a pedagoga Juliana Miranda da Silva e Agum, 35 anos, descobriu o câncer de mama recentemente, em meio à pandemia. "Um dia, durante o banho, percebi uma alteração na minha mama, uma elevação. A princípio, não me preocupei e nem passou pela minha cabeça que pudesse ser um câncer. Alguns dias se passaram e a elevação na mama continuava ali. Mostrei ao meu marido e ele insistiu para eu marcar um médico. Comecei a investigar e logo depois descobri que estava com câncer de mama", conta.
"Foi durante o banho que percebi uma alteração na minha mama, uma elevação. A princípio, não me preocupei e nem passou pela minha cabeça que pudesse ser o nódulo de um câncer. Fui pega totalmente de surpresa e foi tudo muito rápido. Da primeira consulta até o resultado da biópsia, foram menos de 30 dias. O resultado veio como um choque. Naquele momento, eu fiquei assustada e nervosa, mas meu desespero durou muito pouco.
Logo depois, me senti fortalecida e confiante. Tenho muita fé em Deus, uma família e amigos maravilhosos ao meu lado... Então, sigo convicta de que vou vencer essa luta. Fiz de tudo para me preparar para este momento difícil e mesmo sabendo que um dos efeitos colaterais seria a queda de cabelo, fiquei um pouco abatida quando começou. Usava chapéu e lenço para esconder a cabeça, mas, por ter que também usar máscara, por causa da pandemia de Covid-19, resolvi assumir a cabeça raspada.
Hoje, levo com bom humor, brinco com meus filhos sobre isso, não tenho problema nenhum em estar careca. Sei que é uma fase e que vai passar. Já fiz cinco sessões de quimioterapia e a cirurgia está agendada para dezembro. Me sinto grata por ter acesso a um tratamento de qualidade, pela vida e pela saúde da minha família, que tanto me apoia, por meus amigos, pelos médicos e toda rede que me auxilia nessa fase. Confio na superação e acredito que o ano de 2021 será renovador", Juliana Miranda da Silva e Agum, 35 anos
O último exame anual que eu havia feito não detectou nada de errado com as minhas mamas, mas, durante o autoexame que rotineiramente realizava em casa, identifiquei uma leve ondulação. Daquele momento em diante, começaram as minhas batalhas: a primeira foi aceitar o diagnóstico, depois foi o medo do desconhecido, depois a expectativa de iniciar o tratamento.
Logo na primeira sessão de quimioterapia passei muito mal e fui internada. Nesse momento, percebi que não poderia controlar a doença ou as dificuldades que vinham com o tratamento, mas poderia mudar a forma como encarava tudo o que estava acontecendo. Aceitei os pequenos dias de tristeza e me acolhi, e cada vez eu ficava mais orgulhosa da minha força, mais feliz pela dedicação dos meus amigos e ainda mais grata por todo apoio que recebi da família, em especial da minha filha.
No meio desse turbilhão, ainda tive que lidar, como todo mundo, com a pandemia, que me mostrou que lutar pela minha vida era cada vez mais importante. A minha luta ainda não acabou, mas sigo com fé na vitória. Sairei desta doença, melhor! Ah, e meu cabelo? Me amei careca! Todo mundo amou!", Elza Speroto, aposentada, 63 anos
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