Os tempos são outros, e elas estão mais livres, empoderadas, donas de si. As mulheres assumem que gostam de sexo. Então por que ainda fingem orgasmo? Se o sexo é para ser bom, divertido, por que mentir sobre o prazer?
Sim, muitas mulheres andam fazendo caras e bocas enquanto transam e, no final das contas, foi tudo encenação mesmo. Pesquisas apontam que seis em cada dez brasileiras fingem ou já fingiram ter um orgasmo.
Um outro estudo norte-americano, feito com mais de 2 mil pessoas, que diz que as mulheres com relações duradouras, como as casadas, são mais propensas a fingir um orgasmo do que aquelas que estão tendo uma relação casual com alguém. A pesquisa revela que 20% das mulheres já fingiram sentir prazer durante o sexo casual, enquanto 29% simularam o prazer máximo quando começaram um novo relacionamento. Já nas mulheres que estão namorando esse número sobe para 31%.
A questão é complexa. Vários são os motivos que podem levar uma mulher a dissimular algo tão íntimo e importante.
"Isso acontece mais com o marido, por exemplo, justamente porque a quantidade de vezes em que a mulher faz sexo sem estar preparada é maior no casamento. No namoro, ela se programa para se encontrar com alguém, se prepara, sabe da possibilidade de rolar o sexo. Na vida a dois, às vezes ela é pega de surpresa e não está nem muito a fim de transar, mas acaba cedendo para não ter 'dor de cabeça'. Muitas esposas falam isso comigo. Dizem que fazem sexo mais para cumprir protocolo, cumprir com as 'obrigações'. E aí, com aquela sensação de 'missão cumprida', ela acaba fingindo orgasmo para manter o bem-estar da relação", analisa a sexóloga, escritora, terapeuta sexual, colunista da Revista.ag e apresentadora do programa "Segundas Intenções", da Litoral FM, Virgínia Pelles.
A especialista lembra que muitas não chegam lá por outro fator: porque não conseguem mesmo. "A maior parte das mulheres não sente prazer no sexo. Não atingir o orgasmo na relação é muito comum. E tem uma parte delas que até sente, mas tem dificuldade de ter orgasmo durante a penetração", observa ela.
Muitas mulheres mentem sobre o orgasmo para agradar o parceiro e se sentir confiantes. Tudo isso é compreensível. Mas continuar nessa toada não é legal, diz Virgínia.
"Elas não deveriam fingir porque sexo é bom, promove uma sensação de relaxamento, de bem-estar intenso. O orgasmo libera uma série de substâncias químicas que são totalmente favoráveis ao corpo, fazem bem à pele, cabelo, unhas, à autoestima da mulher. Ele ajuda o nível de estresse a baixar. Não sentir o orgasmo faz com que ela não tenha tudo isso, perdendo toda a parte química que o organismo tem de favorecer o próprio corpo. Fora que dá uma sensação muito gostosa mesmo", comenta a sexóloga.
De acordo com a ginecologista e sexóloga Lorena Baldotto, quando uma mulher finge o orgasmo, além de dar a impressão que seu parceiro está "arrasando", coisa que não é tão verdade, a saúde sexual dessa mulher fica impactada. "Ela começa a fingir e o sexo vai ficando mecânico. Ela passa a fazer por obrigação e não por prazer, e isso vai afetar no futuro do relacionamento, pois ela pode ir perdendo o interesse pelo parceiro", diz.
O subconsciente da mulher que finge o orgasmo vai entender que ela não consegue chegar lá e, aí, até mesmo em outros relacionamentos, passada a excitação do início da relação, ela não consegue chegar ao orgasmo e vai sempre acreditar que a culpa é do parceiro, alertou a médica.
Segundo Virgínia, não é preciso se cobrar um orgasmo em toda transa, pois o efeito pode ser o contrário. "Se ela não sentir o orgasmo, tudo bem. Muitas contam que nem sentiram falta, de verdade, pois o clima era tão bom, ela se sentiu tão amada, tão completa, que isso não interferiu. Minha visão do prazer é a mulher se sentir completa, se sentir bem, tendo concluído aquilo com satisfação, tendo orgasmo ou não. Mas se ele veio, a forma como foi atingido, se foi com o dedo, se foi com a língua, se foi lá na penetração, se foi com vibrador, se foi após se esfregar no travesseiro, não importa".
O problema, diz a sexóloga, é a mulher tentar buscar o orgasmo sempre sozinha. " O que interessa é que ela realmente chegue ao orgasmo com o parceiro. Claro que, se é uma relação a dois, o orgasmo tem que ser a dois. Porque se é uma relação a dois e o orgasmo está sendo obtido sozinho é porque essa relação não está tão boa assim".
Para Lorena, o fato é que, independentemente do número de mulheres que estão fingindo o prazer no sexo, esse comportamento é muito comum. "Para a relação sexual ser prazerosa, é importante que todas as etapas sejam vivenciadas", destaca.
Segundo a ginecologista, uma dica é a mulher tentar explorar o próprio corpo com a masturbação para entender o que mais gosta na hora do sexo e compreender de que forma sente mais prazer. "Além disso, quando se consegue ter um orgasmo sozinha, é mais fácil sentir o mesmo durante uma relação a dois, orienta a médica e sexóloga.
Ela ressalta que não existe uma receita de como chegar ao ápice do prazer, já que o orgasmo funciona de uma forma diferente para cada mulher. "É necessário investir tempo de qualidade na relação sexual e também se conhecer. Esses são fatores fundamentais para garantir uma saúde sexual plena", garante.
Um relacionamento feliz, diz Lorena, tende a ser feliz também debaixo dos lençóis. "Os estudos já mostram que casais de todas as idades que vivem juntos e estão felizes com os seus relacionamentos têm uma boa vida sexual. Além disso, os casais que conversam e compartilham um tempo juntos têm uma vida sexual melhor. Investir no relacionamento a dois sempre traz benefícios para o casal na cama.
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