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No Outubro Rosa, jovens do ES falam da batalha contra o câncer

No Outubro Rosa, jovens do ES falam da batalha contra o câncer

Elas tiveram câncer de mama na faixa dos 30 anos e superaram a doença. Neste Outubro Rosa, a Revista.AG faz um alerta sobre o tumor que atinge cada vez mais mulheres jovens

Publicado em 19 de outubro de 2018 às 18:23

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Aos 24 anos, Laís Rocha se submeteu à cirurgia de retirada total da mama esquerda e de remoção de alguns linfonodos da axila. (Carlos Alberto Silva)

Na manhã do último dia 9, a advogada Laís Rocha acordou animada. Aquela terça-feira foi mais um dia marcante em sua vida. Ao entrar no hospital em Vitória, onde se submeteu a cirurgia de retirada total da mama esquerda e remoção de alguns linfonodos da axila, ela sabia que, mais uma etapa do tratamento do câncer de mama era concluído. “Depois vou fazer radioterapia e a reconstrução da mama”, disse entusiasmada.

Aos 24 anos, ela é uma vitoriosa. E fala sem medo da doença que atinge cada vez mais brasileiras na faixa dos 30 anos. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), serão 59,7 mil casos de câncer de mama no país até o final de 2018. Em mulheres com menos de 35 anos, a incidência está entre 4% e 5% dos casos. “Há vários fatores que podem contribuir com o aparecimento do câncer de mama em mulheres jovens, já que estamos falando em uma doença multifatorial. Entre eles temos a vida obstétrica, já que cada vez mais as mulheres estão postergando a idade para ter filhos. Outro fator é que as meninas estão menstruando mais precocemente e ficam mais expostas a ação dos hormônios; além da alimentação e do estresse, já que a mulher atualmente está intensamente envolvida no mercado de trabalho, além das suas ‘atividades’ domésticas e de mãe, gerando um nível de estresse muito maior de quando só ficava em casa”, explica Silvia Mastrogiuseppe, ginecologista e mastologista.

Segundo ela, a melhoria nos equipamentos utilizados para rastreamento – como mamografia, ultrassom e ressonância magnética – também favoreceram a identificação de lesões precocemente, inclusive em mulheres mais novas.

Aprendizado

Foi no ano passado, durante o banho, que Laís percebeu um caroço bem pequeno em sua mama. “Fiquei preocupada e no dia seguinte procurei um médico. Na consulta ele disse que não era nada e pediu para voltar em seis meses. Quando voltei, em outro médico, o caroço já tinha crescido. Era um câncer e tinha feito metástase, que é quando ele se espalha além do local onde começou. Foi um choque quando recebi a notícia”, conta.

A advogada conta que a doença apareceu quando ela encerrava uma etapa feliz de sua vida. “Tinha acabado de me formar e passado na prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), era um momento feliz. No dia da formatura fiz uma sessão de quimioterapia, e mesmo assim fui para a festa”, lembra. Todo o processo foi de aprendizado. “Fazer quimioterapia é uma luta. As pessoas reclamam que têm que ir trabalhar. Enquanto estava na sessão a única coisa que eu queria, naquele momento, era trabalhar”.

(Arquivo Pessoal)

Foram 16 sessões de quimio que resultaram na queda dos cabelos, dos cílios, das sobrancelhas, além de um inchaço muito grande. “Antes do cabelo começar a cair resolvi cortar bem curto e, com os fios, fiz uma peruca. As pessoas não estão preparadas para ver uma meninas de 24 anos com câncer, por isso usava peruca, para me proteger dos olhares”, conta ela, que não ficou afetada com a queda dos fios. “O que mais senti foram os cílios e a sobrancelha”.

Laís nunca deixou se abalar, mesmo nos momentos mais difíceis do tratamento. Já sua família ficou muito abalada. “Meus pais sofreram mais do que eu, pai e mãe nunca estão preparados”. Se os pais se assustaram, o namorado esteve presente durante todos os momentos. “Foi o melhor parceiro que poderia ter, ele me pediu em casamento durante o tratamento”, conta, sorrindo. Laís, que se recupera da operação, conta que aprendeu a respeitar o tempo. “Com o câncer aprendi que sou vulnerável. Achava que era superforte e não dependente, aceitei a depender de outras pessoas. Ficava aflita para as coisas acontecerem, hoje sei que tudo tem seu tempo certo.”

Teste genético 

O câncer de mama é o mais comum entre as mulheres após o de pele (não melanoma), que é o mais frequente na população geral. O avanço da ciência oncológica, a partir dos anos 1990, tem permitido maior sobrevida. Hoje o paciente é submetido a sucessivas combinações de drogas. “Esse é o melhor caminho. Quanto mais pudermos selecionar os variados tipos de câncer e utilizar as terapias-alvo - que um determinado tipo de câncer tenha uma medicação específica para o seu tratamento - maiores as chances de cura”, explica a médica Silvia Mastrogiuseppe.

A descoberta precoce continua sendo um ponto importante para a cura. Além disso, identificar células mais predispostas a sofrer mutações é um passo importante. “Conseguir identificar a população de risco genético para câncer de mama (de 5% a 10% de todos os casos de câncer de mama) e, por meio disso, fazer o aconselhamento para início do rastreamento, e até cirurgias para diminuir o risco de desenvolver a doença, é uma grande arma que está ajudando as mulheres cada vez mais. Vários tipos de gens com mutação já foram identificados e com o avanço da oncogenética, com certeza, mais famílias se beneficiarão no futuro. Uma boa história familiar é o primeiro passo para seleção de mulheres que devem se submeter a pesquisa dessas mutações”, explica Silvia.

Foi através de um teste genético que a empresária Silvia Nossa Bourguignon, 31 anos, descobriu a alta probabilidade de ter a doença. Por isso, aos 27 anos, ela se submeteu a uma mastectomia dupla (retirada dos dois seios) para reduzir as chances de desenvolver câncer de mama.

Francieli Borges Maia descobriu dois nódulos na mama esquerda aos 36 anos. E após a quimioterapia, decidiu retirar a mama direita também, para evitar a doença. Durante todos o tratamento ela contou com apoio do marido e dos filhos. (Arquivo Pessoal)

O médico antecipou que ela tinha um risco de 90% de desenvolver câncer de mama e 50% de ter câncer de ovário. “A minha família tem um forte histórico de câncer de mama. Uma tia teve aos 27 anos, além de outras duas tias e a minha mãe. Quando chegou na minha mãe, que foi a terceira a ter a doença, os médicos começaram a suspeitar da síndrome genética”, conta a capixaba que atualmente mora em Florianópolis.

Através do exame específico, Silvia descobriu um problema no gene BRCA1, uma mutação genética, o que significa que ela tinha altas de chances de ter câncer de mama. “Fiquei apavorada quando vi o resultado e protelei a biópsia por um mês. Fiquei com medo por causa da história da minha mãe. Acompanhei a luta dela de perto”, conta.

O processo de retirada dos seios aconteceu em dezembro de 2014. “Foi um momento difícil devido a situação de saúde da minha mãe. Com cirurgia fiz a mastectomia, preservando a pele, aréola e mamilo”. Em novembro do ano seguinte ela colocou a prótese de silicone. “Hoje as chances de ter câncer de mama são bem menores. Faço exames a cada seis meses. Retirar os meus seios foi a melhor decisão que tive. Hoje vivo uma vida tranquila”.

Campanha durante tratamento

No ano passado, Francieli Borges Maia teve o que chama de 50 dias de espera. Após um ultrassom na mama esquerda, onde foram identificados dois nódulos, ela fez uma biópsia e o resultado demorou todo esse tempo para sair. “Foram 50 dias de expectativa, mas ao mesmo tempo eu sabia que precisava descansar. Não perdi noite de sono, não fiquei nervosa”, conta. Quando o resultado saiu, num fim de tarde de sexta-feira, dando positivo para câncer de mama, a missionária, então com 36 anos, estava pronta para enfrentar a doença. Um amigo médico já estava pré-avisado sobre o exame e me recebeu em sua casa. Ao abrir o exame ele disse que teria que tirar a mama. E foi falando outras coisas e não lembro de nada, parece que estava em outro planeta. Só pensava no que iria acontecer comigo e nos meus filhos. Só chorei quando cheguei em casa”, conta.

Francieli demorou a processar que tinha a doença. “Parece que é um pesadelo e vamos sendo carregadas como uma onda. É muito comum a gente negar. Demorei a falar em voz alta a frase ‘eu tô com câncer’”. Todo o processo aconteceu de forma rápida. Três dias depois ela já estava na sala de um mastologista e 15 dias após realizando a mastectomia radical da mama esquerda. “A minha sensação da mutilação foi diferente. Realmente não em importei, só queria me livrar daquilo que podia me matar”.

Fez seis meses de sessões de quimioterapia e um exame com um geneticista, onde foi descoberta a mutação genética. “Por isso decidi também retirar a mama direita, trompas e ovários. Meses depois fiz a reconstrução das mamas”, conta. A missionária chegou a questionar porque ela tinha sido a ‘escolhida’ para ter a doença. “Questionei algumas vezes: ‘por que eu?’ Sempre tive uma vida regrada, me alimento bem. Mas o principal que aprendi foi: ‘por que não eu?’ Não sou diferente de ninguém”.

Durante o tratamento também decidiu criar a campanha “Bem bonita”, onde compartilhava sua história na internet. “Chamava outras mulheres para também se sentirem bonitas, porque não perdemos a beleza. Relatava numa rede social o meu tratamento e convidava várias mulheres a tirarem a peruca e o lenço. Com isso também aprendi a levar uma vida com qualidade e mostrei que a quimioterapia não é uma sessão de tortura”.

Hoje ela faz acompanhamento e exames a cada seis meses. “Depois do tratamento entrei na menopausa, mas eu e meu marido tentamos não mudar nada na questão sexual. Claro que durante o tratamento tinha uma dificuldade maior. Mas depois a vida do casal volta ao normal”, conta. Francieli leva uma vida tranquila. “Os médicos não falam nunca na palavra cura, isso é a gente que sente. Hoje me sinto assim, curada”.

FIQUE ATENTO:

Tipo

O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil. Ele não tem uma causa única. São vários fatores que podem aumentar o risco de desenvolver a doença.

Idade

Mulheres mais velhas, sobretudo a partir dos 50 anos, são mais propensas a desenvolver a doença, mas isso tem mudado. Houve um aumento na incidência de câncer de mama em mulheres jovens na última década. Em mulheres com menos de 35 anos, a incidência no Brasil, hoje, está entre 4% e 5% dos casos.

Sintomas

A principal manifestação da doença é o nódulo (caroço), fixo e geralmente indolor. Ele está presente em cerca de 90% dos casos quando o câncer é percebido pela própria mulher. Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja também é sintoma, assim como alterações no mamilo. Fique atenta também se aparecer algum nódulo na axila ou no pescoço e a qualquer saída de líquido anormal das mamas. Vale lembrar que grande parte dos casos são assintomáticos.

Diagnóstico

O diagnóstico precoce é fundamental no tratamento contra qualquer tipo de câncer. A realização anual da mamografia para mulheres a partir de 40 anos é importante para que o câncer seja diagnosticado precocemente.

Autoexame

O autoexame é muito importante para que a mulher conheça bem o seu corpo e perceba com facilidade qualquer alteração nas mamas e assim procure rapidamente um médico. Vale lembrar que o autoexame não substitui exames como mamografia, ultrassom, ressonância magnética e biópsia, que podem definir o tipo de câncer e a localização dele.

Fonte: Inca

VIDA SEXUAL DEVE SER PRESERVADA 

A vida sexual da grande maioria das pacientes com câncer acaba sofrendo em função da doença ou de seu tratamento. Isso costuma ocorrer independentemente da idade, mas as mulheres jovens acabam sofrendo mais, já que a doença chega em um momento de vida sexual extremamente ativa.

A fisioterapeuta e sexóloga Virginia Pelles conta que é um grande desafio para a mulher encarar o corpo durante e após o tratamento. “Sempre oriento a busca por um psicólogo, principalmente para as mulheres que precisam fazer a cirurgia de retirada do seio, que é uma marca feminina”, declarou.

Ela percebe em seu consultório que as mulheres casadas ou que mantêm um relacionamento estável têm mais facilidade de voltar a ter uma relação íntima, já que, teoricamente, têm mais intimidade com esse parceiro. Mas aquelas que enfrentam a doença solteiras muitas vezes se sentem inseguras para uma nova relação sexual.

“De uma forma ou de outra há uma cicatriz emocional. Algumas demoram anos para voltar a se relacionar sexualmente. Mas é preciso lutar contra isso e, na medida do possível, retomar a vida normal”, ensina a sexóloga.

O apoio do parceiro, nesse momento, é fundamental, segundo ela. “É preciso respeitar a vontade dessa mulher, ninguém é obrigado a nada. E se não há compreensão não há amor”, avalia, acrescentando que a medicação compromete substancialmente o desejo, além de causar uma secura vaginal e de deixar a musculatura mais sensível.

Óvulos guardados

Como a incidência da doença tem aumentado em mulheres em idade reprodutiva, aquelas que pretendem ter filhos precisam saber que podem guardar seus óvulos.

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A ginecologista e doutora em Reprodução Humana Layza Merizio Borges explica que é preciso preservar a fertilidade dessa mulher antes do início do tratamento, já que os quimioterápicos são tóxicos para os ovários e muitas apresentam o diagnóstico de infertilidade após as sessões. “O congelamento de óvulos antes da quimioterapia é uma alternativa, pois o procedimento não atrasa nem prejudica o tratamento, podendo ser determinante no futuro reprodutivo”.

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