Diretora de uma escola de educação infantil na Serra, Maria Aparecida Balbino Santos, 59 anos, sempre tem um chiclete na bolsa e uma garrafinha de água por perto. Eles ajudam a aliviar alguns sintomas chatos com os quais ela já convive há mais de dez anos.
Maria Aparecida tem a chamada Síndrome de Sjögren, uma doença que afeta as glândulas salivares e lacrimais. Assim, os olhos ficam sempre ressecados. A boca parece não ter saliva, causando uma dificuldade de engolir os alimentos e engasgos frequentes.
Tenho muita secura na boca. Durmo com um copo dágua ao lado. E sempre masco chicletes para aumentar a saliva, conta.
Mas não foi por causa desses sinais que ela descobriu a doença. Na época, eu percebi que amanhecia sempre com um dedo indicador rígido e que causava muita dor. Uma vizinha tinha os dedos todos tortos, e fiquei com medo de passar pela mesma coisa. Perguntei a ela qual médico a acompanhava. E ela contou que era um reumatologista.
A pior parte da síndrome, para a diretora, são as dores constantes: A doença quase sempre está associada a outros problemas reumatológicos. No meu caso, é a artrite reumatoide, que causa dores em todo o corpo.
De acordo com a reumatologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Valéria Valim, as dores articulares são o segundo sintoma mais frequente na Síndrome de Sjögren. Mais de 90% dos pacientes têm queixa de secura nos olhos, boca, vagina, pele, vias aéreas. Só que nem sempre a secura incomoda o suficiente para a pessoa relatar para o médico, explica.
A síndrome faz parte do grupo de doenças autoimunes, ou seja, condições em que o sistema imunológico passa a produzir anticorpos que atacam células e tecidos do próprio corpo, como se fossem agentes invasores.
Complicações
Ela se manifesta ainda com alterações na pele, como urticárias, manchas roxas e feridas. Pode causar diversas complicações, atingindo órgãos como rins, pulmões, fígado e pâncreas. Em casos mais graves, pode levar ao desenvolvimento de linfomas, um tipo de câncer no sangue.
A doença acomete geralmente mulheres, numa proporção de 15 mulheres para um homem. Costuma surgir depois dos 40 anos, em associação com início da menopausa. Estudos apontam que a falta do hormônio feminino estrogênio pode ser um gatilho. Mas infecções virais e estresse também podem desencadear essa síndrome, cita a médica.
O diagnóstico é feito a partir de exames específicos. Se for feito precocemente, há grandes chances de remissão, afirma Valéria.
A questão é que a síndrome tem uma lenta progressão, o que leva muita gente a detectá-la tardiamente, quando o tratamento pode não fazer mais o mesmo efeito. É uma doença que não tem ainda evidências científicas a respeito do melhor tratamento. Há poucos estudos comprovando o tipo de remédio mais adequado. Por isso, o tratamento é baseado na experiência com lúpus e artrite reumatoide, que são outros problemas associados ao Sjögren, diz Valéria.
Entenda mais
O que é?
É uma doença que causa olho seco e boca seca. O paciente refere que não tem lágrima, têm sensação de que os olhos ardem, queimam, têm areia, e que ficam vermelhos. A boca parece não ter saliva, o paciente tem dificuldade de engolir. Pode haver ainda manchas na pele
Quem pode ter?
Normalmente acontece junto com outra doença reumatológica (principalmente artrite reumatóide e lúpus). Acomete principalmente mulheres entre 40 e 50 anos
Tratamento
Não há cura. O tratamento é sintomático e de suporte e tem como objetivo reduzir o risco de complicações
Doenças reumáticas em debate
No Espírito Santo, a estimativa é de que 0,17% da população sofra a Síndrome de Sjögren. A professora de Reumatologia do Hospital Cassiano Antônio Moraes (Hucam), Valéria Valim, coordena o ambulatório de síndrome de Sjögren do hospital e o registro brasileiro sobre essa doença. Ela representa ainda a América Latina no grupo internacional que está padronizando a avaliação da doença.
O assunto é tema de uma oficina hoje, em Vitória, como parte da programação de um evento que reúne especialistas em doenças reumatológicas de todo o país.
O estudo de prevalência da doença foi feita no Espírito Santo. Temos uma grande contribuição no cenário nacional e internacional, com conhecimento nessa área, diz a médica.
O evento, segundo ela, é multidisciplinar, numa interface da reumatologia com outras áreas da medicina e da saúde em geral.
No sábado, haverá o 4º Encontro de Pacientes Reumáticos do Espírito Santo, que é gratuito e aberto à população.
Sobre o evento
Como participar
O Evento: a XXII Jornada Centro Oeste e a XI Jornada Capixaba de Reumatologia acontecem nos dias 27, 28 e 29 de junho, no Hotel Golden Tulip, em Vitória
Público-alvo: médicos, residentes, pós-graduandos, acadêmicos e outros profissionais da saúde
Aberto ao público: 4° Encontro do Grupo de Portadores de Doenças Reumáticas do ES, no dia 29, às 8h, com entrada gratuita
Mais informações: www.reumatologia-es.med.br/jornadacentrooeste2019
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