Corpo gelado, pontadas de dor e dificuldade até para tarefas mais simples, como abaixar-se para pegar algo no chão. A pensionista Maria do Carmo Souza, de 82 anos, vive com artrose há 20 e sofre com todas estas dificuldades no dia a dia, e elas só pioram no frio. "Outro dia eu estava lavando as coisas e caiu em mim a água da torneira", lembra ela. "Quando eu vi, já endureceram as 'juntas'. Foi a água fria".
Para pacientes de doenças reumáticas — aquelas que atingem as articulações, músculos ou ossos, a chegada do inverno significa também a piora dos sintomas, e uma série de mudanças de rotina para amenizar a dor. Mas este fenômeno não significa que a doença esteja se agravando.
O fisioterapeuta Cadu Ramos explica que as baixas temperaturas provocam uma série de mudanças no funcionamento do organismo, até nas pessoas jovens e saudáveis. Nossa coluna tende a se curvar, numa postura prejudicial para as costas, mas que auxilia a conservar o calor. A circulação sanguínea diminui, para manter a temperatura interna do corpo. Os músculos ficam mais rígidos, contraídos, piorando a sensação de dor.
Ainda, entre nossas articulações e tendões, o líquido sinovial — que lubrifica estas áreas — fica mais espesso, dificultando nossos movimentos. E nós mesmos, afetados pelo friozinho, nos movimentamos menos, reduzindo ou abandonando os exercícios.
"Quando a temperatura cai é inevitável sentir incômodo", explica Ramos, "já que com o frio, há tendência a enrijecer os músculos e ficar mais encolhido. Isso pode gerar tensão muscular, contraturas, má circulação ou mal-estar."
O tratamento para as doenças que provocam tais dores (artrite, fibromialgia, osteoporose ou mesmo antigas fraturas) continua sendo o mesmo, e não há o que fazer para impedir o frio de chegar. Mas existem métodos para se proteger.
Maria do Carmo, baiana e atual moradora da zona oeste de São Paulo, procura tomar sol todos os dias nas pernas, onde suas dores são maiores. Sua família já chegou a investir em um aquecedor para colocar em seu quarto, para amenizar o frio da madrugada.
O fisioterapeuta chama atenção para a importância dos moletons e agasalhos; cobrir as extremidades, como pés, punhos, mãos, pescoço e cabeça, ajuda a aquecer todo o corpo. As bolsas de água quente, aplicadas na área da dor por 20 a 30 minutos, também são indicadas. No caso das dores crônicas, é possível aliar as bolsas de água quente com as de água fria.
"A massagem, de modo geral, é sempre muito bem-vinda, porque os benefícios são muitos", conta Ramos. "Melhoram o aporte de sangue, diminuem a rigidez, melhoram a oxigenação do tecido".
"Porém, ela deve ser realizada com intensidade leve, da parte distal para a proximal, ou seja, dos pés para o corpo, das mãos para o corpo", instrui. Este sentido, de longe para perto do corpo, respeita o fluxo sanguíneo natural. "Não fazer o contrário, pois pode causar uma trombose".
O profissional ainda recomenda manter uma rotina de alongamentos e exercícios leves durante o frio, na medida do possível. Espreguiçar-se ao acordar, esticar as pernas e tentar alongar os membros é essencial: estes movimentos mantêm as articulações bem lubrificadas, reduzindo a sensibilidade à dor.
Mas, nos casos das atividades físicas, é preciso tomar alguns cuidados que vão além das dores, principalmente as pessoas mais velhas. "É importante as pessoas na terceira idade evitarem se exercitar muito cedo em dias muito frios, salvo aquelas que tem um histórico de rotinas de atividades. Existe uma preocupação, principalmente em se exercitar ao ar livre, em inspirar o ar gelado pelo nariz e em muitos momentos pela boca. Esse ar gelado demora um pouco para aquecer na temperatura adequada que nosso corpo precisa e pode causar alguma doença respiratória. Em especial, em decorrência da Covid-19, o sistema imunológico pode ficar fragilizado devido ao estresse que o frio pode causar", diz Luiz Americo Bravo, personal trainner especializado em diabetes, cardiopatias e emagrecimento.
Em último caso, quando existem fraturas antigas que voltam a incomodar ou uma doença degenerativa, é recomendável buscar sessões de fisioterapia. E para quem sente dores mais leves no inverno mesmo sem ter qualquer problema reumático, o fisioterapeuta Ramos tranquiliza. "Na minha opinião, não há necessidade de procurar um médico por conta dessas dores. Nos dias frios, realmente, nós temos dificuldade para nos mexer desde o momento que saímos da cama", diz. "O ato de sair dali já é difícil, porque estamos parados, rígidos, num ambiente quente. É natural."
Doenças com sintomas agravados pelas baixas temperaturas:
FONTES: Cadu Ramos, especialista em Fisioterapia e Traumatologia pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo); Sociedade Brasileira de Reumatologia; Luiz Americo Bravo, personal trainner especializado em diabetes, cardiopatias e emagrecimento
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