No banho, eles descem aos montes pelo ralo. A escova está cheia. E o chão, repleto de fios. Se seus cabelos estão caindo mais do que o normal, saiba que isso pode ser um efeito (mais um) da quarentena.
Esta é uma das principais queixas que os dermatologistas têm recebido neste período de grandes mudanças na rotina, no sono, na alimentação, nas emoções. E os cabelos também sofreram o impacto disso tudo.
A partir do primeiro mês da pandemia, as pessoas começaram a reclamar da queda de cabelo. Atendi até mesmo uma paciente de Portugal que disse nunca ter tido uma queda de cabelo tão importante na vida dela. Desde então vem só aumentando a queixa nas pessoas em geral. E aquelas que já sentiam o cabelo caindo antes, tiveram piora importante na quarentena, diz a médica Ingrid Telles.
A tricologista e terapeuta capilar Camila Zanoni também percebeu mais gente se queixando do mesmo problema. Esse tipo de reclamação aumentou três vezes mais que o habitual durante esse período de pandemia. Normalmente, as pessoas buscam tratamento quando a situação está crítica, com muita queda de cabelo ou já com falhas instaladas no couro cabeludo.
A dermatologista Endrika Trindade Magnago lembra que a queda capilar pode ser causada por vários motivos. Pode ser por estresse, anemia, mudança de hábitos alimentares, mudança da frequência de lavagem, uso de medicações ... Enfim, qualquer mudança repentina que o organismo sofre. Mas é importante dizer que existem vários outros tipos de queda que precisam ser diagnosticados e tratados por um médico dermatologista, observa.
Segundo ela, isso ocorre porque o metabolismo do folículo capilar é muito sensível às alterações que o organismo vai sofrendo ao longo do tempo.
Endrika explica que os fios têm três fases: crescimento, repouso e queda. Quando a maior parte deles entra repentinamente na fase de queda chamamos de eflúvio telógeno, que normalmente dura em torno de três meses.
Em geral, no caso do eflúvio, a queda gira em torno de até 30% dos fios e é difusa. Vemos o volume do cabelo diminuir e as entradas levemente mais visíveis, destaca ela.
O eflúvio pode acontecer em homens e mulheres, mas as mulheres percebem muito mais porque como os fios são mais compridos. Assim, elas conseguem ver mais a quantidade da perda diária, complementa.
Mas como saber se a queda é realmente significativa ou a pessoa não está se desesperando à toa? De acordo com Ingrid Telles, normalmente podem cair até 100 fios de cabelo por dia. Existe o chamado Teste de Tração, para ver se o cabelo está se soltando muito ou se está dentro da normalidade.
Segure com uma mão o seu cabelo como se fosse fazer um rabo de cavalo. Em seguida, passe o cabelo entre os dedos da outra mão e veja até quantos fios irão sair. Caso saia mais que seis fios você deve procurar um médico, orienta ela.
As incertezas, o medo e o estresse gerado pela pandemia podem ter influência nesse problema.
O estresse faz cair cabelo porque aumenta os níveis do hormônio cortisol no sangue. O cortisol é o hormônio liberado durante o estresse. O folículo piloso é muito sensível às alterações hormonais do organismo. Ele muda rapidamente o metabolismo e entra na fase de queda fora do tempo correto, pontua Endrika.
Por conta de toda a situação, muita gente tem recorrido a medicamentos, como o uso de antidepressivos. E isso, de acordo com a dermatologista, também pode estar relacionado à queda de cabelos.
A queda de cabelo é um efeito colateral desses remédios, sobretudo antidepressivos, afirma Endrika.
Outros hábitos da quarentena podem estar interferindo na saúde dos cabelos, como destacam as especialistas.
Como as pessoas estão saindo menos de casa, em respeito ao isolamento, muita gente tem lavado menos a cabeça no banho. Uma pesquisa feita por uma das maiores fabricantes de produtos de higiene do mundo, a Unilever, aponta que a quarentena diminuiu em até 25% a demanda por produtos como shampoo e condicionador.
A tricologista Viviane Coutinho desaconselha a medida. "O cabelo é um dos nossos marcadores de saúde. Mantê-los saudáveis é primordial. E uma ação superimportante é mantê-los limpos. Lembrando que couro cabeludo é pele e retém sujidade. Quando desequilibrado, pode gerar disfunções na saúde e futuras quedas. Um conselho que sempre dou é higienizar mais neste período pois ele também é um condutor de contaminação", indica a profissional.
Ingrid Telles também condena esse comportamento: As pessoas têm lavado o cabelo com menos frequência e, com isso, vão provocando doenças no couro cabeludo, como a dermatite seborreica, que é a caspa. E isso aumenta a queda dos fios.
A médica garante que o couro cabeludo pode ser lavado todos os dias sem problema nenhum, ao contrário do que muita gente pensa.
Viviane afirma que não podemos deixar de ter outros cuidados com os fios, como hidratar, na quarentena.
"Os nossos cabelos sofrem agressões físicas o tempo todo, como o pentear, a poluição, a água quente , o atrito com o travesseiro, o desembaraçar. E alguns cabelos sofrem, além disso, agressões químicas, perdendo nutrientes importantes para composição de um cabelo saudável. Portanto, é essencial que devolvamos esses nutrientes para equilibrar novamente esses cabelos", esclarece ela, que aconselha deixar para depois procedimentos que agridem os fios.
"Nesse período de pandemia, as pessoas devem deixar os cabelos descansarem de tantos procedimentos. Deixar de usar secadores e chapinhas neste momento faz com que seus cabelos sofram menos agressões. Se fizer ainda um cronograma capilar, entregando nutrientes, seus cabelos só irão te agradecer", completa Viviane.
As alterações alimentares na quarentena podem ser outra causa da queda de cabelos. As pessoas têm ingerido muito fastfood e carboidratos, que não têm nutrientes necessários. Verduras e legumes têm sido deixados de lado. E são fontes de nutrientes para o crescimento e fortalecimento do fios, frisa Ingrid.
Alguns alimentos podem dar a força de que as madeixas necessitam neste período tão conturbado, segundo ela. São eles: cenoura, peixes, mamão, oleaginosas, espinafre, laranja, limão, feijão e ovo.
"Nossos estoques precisam estar bem para que os cabelos recebam os nutrientes. Devemos acrescentar na nossa alimentação bastante proteínas, afinal, a maior parte dos fios é composta por proteínas, além de incluir legumes e verduras. E é importante evitar gorduras, carboidratos e açúcares, que prejudicam a saúde capilar", cita Viviane.
A terapeuta capilar Camila Zanoni diz que é possível prevenir uma queda maior. O tratamento preventivo é muito importante. Nesse período de quarentena muitos já estão com queda de cabelo, mas algumas pessoas ainda vão sentir isso daqui dois ou quatro meses. Sempre oriento observar o dia a dia. Tire fotos da quantidade que cai e vá acompanhando o quanto isso evolui, orienta.
Tratamentos
No mais, se a queda capilar está sendo uma preocupação, o melhor é procurar um médico.
Segundo Ingrid, o tratamento domiciliar com medicamentos tópicos e via oral é muito importante para reverter o problema. Assim como os procedimentos no consultório são indispensáveis. A melhor técnica utilizada atualmente é a microinfusão de medicamentos na pele, que consiste em um aparelho com microagulhas que injetam medicamentos no couro cabeludo que irão estimular o crescimento de novos fios.
A dermatologista Isabella Redighieri também recomenda essa terapia. "A Microinfusão de Medicamentos Pericutânea, a chamada MMP, é bastante eficiente. Criamos microcanais para a entrega de medicamentos, além de vitaminas e aminoácidos diretamente no folículo. As perfurações, que são indolores, por si só já acarretam a liberação de fatores de crescimento naturais que agem no local. Com os medicamentos, potencializamos os resultados", explica a médica.
O medo de adoecer na pandemia, a rotina do isolamento, tudo isso pode estar deixando as pessoas mais ansiosas, estressadas. Esse desequilíbrio emocional repentino altera os níveis de cortisol no organismo, um hormônio produzido pelo corpo que, se estiver muito alto, pode alterar o ciclo natural dos cabelos, levando à queda. Vale buscar técnicas de relaxamento, como ioga, meditação, que ajudam no equilíbrio emocional. Se estiver com dificuldade, procure um especialista. Pode ser o caso de iniciar uma terapia
Na quarentena, muita gente mudou hábitos alimentares. O consumo de fastfood, comida mais gordurosa e açúcar aumentou nesse período. Sem legumes, verduras, frutas e proteínas, os cabelos acabam não recebendo os nutrientes de que necessitam para se renovar. O ideal é investir numa alimentação mais saudável, com alimentos in natura, ricos em proteína, como carnes brancas, ovo, além de verduras como cenoura, rica em vitamina A, por exemplo.
Muitas pessoas, por causa do isolamento, diminuíram a frequência das lavagens do cabelo. Mas isso é um erro que contribui para a queda. Isso pode deixar o couro cabeludo sujo, favorecendo o desenvolvimento de doenças, como a dermatite seborreica (caspa), que leva à queda capilar. Lave todos os dias ou, no máximo, a cada dois dias com produtos indicados para seu tipo de cabelo
O uso de antidepressivos, comum neste período de pandemia, pode ter, como efeito colateral, a queda de cabelo. Não tome medicamentos sem orientação médica. E caso esteja vendo um aumento na queda dos fios, procure um dermatologista com urgência
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