O designer gráfico Caco Appel, 67 anos, sofreu um infarto no início de novembro. Ele não teve dor no peito ou qualquer outro sinal. Foi repentino. "Não senti nada que pudesse saber que o infarto estava próximo. Estou me recuperando, hoje percebo que me canso mais facilmente e tenho restrições de exercícios físicos", conta.
Caco também não teve arritmia, mas o estresse, mesmo ele não percebendo, saiu do controle. A exaustão pode repercutir no sistema cardiovascular, elevando o risco de infarto e outras complicações. Além disso, nesse momento de pandemia, muitas pessoas também estão sem a prática de atividade física e com um desequilíbrio alimentar.
Para ajudá-las a enfrentar a ansiedade e o estresse, foi lançado no final de novembro, em Vitória, o Programa de Autogerenciamento do Bem-Estar (Pró-Bem), que visa a saúde integral, envolvendo emoções, alimentação e aspectos cardiológicos, tendo em vista a pandemia, o estresse, a falta de atividade física e as arritmias cardíacas.
A equipe multidisciplinar é composta pelo psicólogo, professor e pesquisador da Ufes, Elizeu Borloti, a nutricionista Ana Flávia Scandian e o cardiologista José Vitelio. "Muitos pacientes da cardiologia têm sintomas que se devem ao estresse e nessa condição há perdas de nutrientes, gerando ou intensificando o desgaste físico e mental. Por isso, surgiu a ideia de um programa que articule a nutrição, a cardiologia e a psicologia de modo interativo", explica Elizeu.
Os atendimentos individuais são feitos em consultório particular e os de grupo - com início previsto para 2021 - serão realizados em salas. "A pessoa indica interesse e é encaminhada para o início dos exames clínicos com os profissionais da equipe. A ordem das consultas com as especialidades pode variar, mas os grupos só começam depois das avaliações iniciais com os três profissionais", diz o psicólogo.
Caco, que passou a frequentar o programa há algumas semanas, já se consultou com o cardiologista e com o psicólogo. "Sou uma pessoa com dificuldade para entrar num estado de estresse. Mas é claro que tive alguma situação que não ficou clara para mim, e que levou ao infarto. Espero que, com esse atendimento coordenado, eu consiga equilibrar o meu estresse, cuidar do coração e ainda ter um equilíbrio na parte nutricional", conta.
A nutricionista Ana Flávia Scandian ressalta que o estresse altera a relação com a comida no sentido em que, para equilibrar algumas perdas, seu organismo torna você mais predisposto a escolher comidas mais saborosas e calóricas. Por isso, é comum o abuso de açúcar e gordura quando se está sob tensão.
Agora imagina isso na situação em que estamos: pandemia, insegurança biossocial, isolamento social, home office combinado com ensino remoto de filhos, mais tempo em casa e, consequentemente, providências de preparação de alimentação e cuidado da casa. Sabemos que a quebra de algumas regras sociais na alimentação (por exemplo, falta de tempo para cozinhar implicando em comer o que tem pronto) tem relação com a forma como interagimos com a comida em função do nosso estresse cotidiano.
Para ela, a população precisa entender que comer é um processo de aprendizado e mudança, que não é baseado em privações e restrições. "Ao identificar que você está buscando um alimento por emoção, você pode comê-lo, se assim o desejar. O importante é que realize as reflexões sobre quais emoções estão vinculadas a esse momento e o que você realmente precisa. O primeiro passo é trazer essas informações para a consciência".
A empresária Luciana Turíno, 37 anos, sempre sofreu com a balança. Ela conta que foi gordinha da infância até 20 anos. E depois passou pelo efeito sanfona. "Aos 20 anos comecei a saga do emagrecimento com e sem orientação. Na verdade, abandonei o tratamento e comecei a fazer sozinha. Fiz dietas malucas de ficar sem comer e tive episódios de desmaios. Em outra só comia ovos, mamão e cenoura, e minhas mãos ficaram amarelas", recorda.
Ela conta que, apesar de emagrecer, a dieta não a sustentava. "Logo voltava a comer compulsivamente", lembra. Há 3 anos, Luciana faz acompanhamento médico e nutricional com dieta balanceada, atividade física, vitaminas e fitoterápicos. Ela fez, na verdade, uma reeducação alimentar. "Com isso percebi a melhora da musculatura, mais disposição, bem-estar e mente equilibrada".
Durante a pandemia chegou a ganhar sete quilos. "Porém voltei ao tratamento e já perdi todos eles. Hoje me sinto muito bem, tenho qualidade de vida".
O cardiologista José Vitélio explica que o estresse contínuo e o convívio com situações demasiadamente estressantes deixam a pessoa propensa a arritmias. Ele esclarece que a doença é a alteração que ocorre na geração ou na condução do estímulo elétrico do coração e pode provocar modificações do ritmo cardíaco. Está comprovado ser possível infartar e morrer só por estresse. E os sintomas como taquicardia, músculos enrijecidos, boca seca, mãos e pés frios são sinais de alerta.
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