Professora de canto há mais de 30 anos, ela depende de uma escuta sensível, apurada, para orientar seus alunos. Mas de um dia para o outro, ao acordar com um som irritante martelando seus ouvidos, foi como se começasse a viver um inferno.
Primeiro achei que era um problema na caixa dágua. Até que me dei conta que o barulho era dentro da minha cabeça, relata Alza Alves, 55 anos.
Alza passou a sofrer algo comum a mais de 40 milhões de brasileiros: o zumbido. Um problema que é mais do que um sonzinho chato. Não é uma doença, mas um sintoma de alguma situação de saúde. É uma sensação tão ruim que é classificada como o terceiro pior fator que pode acometer um ser humano, atrás apenas de uma dor intensa e uma tontura muito forte.
Não existe, porém, um remédio para isso. Imagine um barulho 24 horas por dia no seu ouvido. No silêncio, você quer relaxar. Com o zumbido, a pessoa nunca está no silêncio. É muito debilitante, afirma a fonoaudióloga Guilhermina Gomes.
Podem ser vários tipos de sons, como um chiado, um apito, uma sirene, algo como uma cigarra, a batida do coração ou até uma cachoeira, como o que vem atormentando a Alza.
É algo constante, mas tem momentos de pico, em que o barulho fica mais forte. Sou acordada de manhã por esse som agudo, conta a professora de canto.
O que torna o zumbido uma condição difícil de tratar é que as causas são múltiplas.
De acordo com Guilhermina, o quadro pode ter início após uma exposição a um som muito alto ou a um impacto sonoro, como um estouro alto, um tiro, fogos de artifício. Mas também está relacionado a questões do envelhecimento natural, pode vir de reações a certos medicamentos ou ser causado pelo estresse, explica.
Pode atingir pessoas de todas as idades, até adolescentes. E há quem sinta até dois zumbidos distintos ao mesmo tempo.
Geralmente, diz a fonoaudióloga, é algo transitório. Em torno de 10% das pessoas com zumbido conseguem conviver com ele porque têm uma percepção de que o som é mais longe. Então, não incomoda tanto. A questão é que o paciente fica achando que vai passar logo, mas a tendência é o barulho ir ficando mais intenso. A gente não consegue prever quando vai passar. É muito do organismo de cada um.
Desesperada com o incômodo e preocupada até com o trabalho, Alza foi investigar. Ela, que também é fonoaudióloga há 11 anos, se viu tendo que procurar um colega, na condição de paciente. Acho que isso começou depois que tratei uma pneumonia e depois uma sinusite, em julho. Tive que tomar muito antibiótico. E aí, fiquei apavorada. Fui a um otorrinolaringologista, fiz exames Descobri que estava com uma alteração metabólica, além de estar há dois anos sem tirar férias. Foi o conjunto disso, comenta.
Como não há medicamento específico para zumbido, Alza se viu obrigada a tentar terapias alternativas.
Eu estava muito vulnerável, debilitada emocionalmente, tendo que trabalhar, me concentrar Meu trabalho é ouvir! Então, isso mexeu demais comigo. Estou tendo que aprender a conviver com isso, diz ela.
Como recurso, florais, cápsulas de ginkgo biloba e até uma dieta com baixo consumo de carboidrato, a famosa low carb. Vou tentando alternativas na esperança de que isso vai minimizar.
De fato, não há muito o que fazer. Segundo Guilhermina, que trabalha com zumbidos há pelo menos sete anos, há a laser terapia, com estímulos dentro do conduto auditivo. E outro recurso com bons resultados é a terapia sonora.
Nela, a pessoa precisa usar um aparelho auditivo, semelhante ao que é usado para surdez. Só que o dispositivo emite um outro som.
Mas como? Já não basta o barulho insuportável do zumbido? Guilhermina explica que o tratamento consiste em emitir um som para mudar o foco do cérebro. Ao contrário do que parece, o som externo dá um conforto. O que incomoda mais é o barulho interno, produzido pelo corpo. Esse som vai enganar o cérebro para que ele não perceba o zumbido. Enquanto isso, vamos tentar achar a causa.
O importante, segundo a especialista, é dar fim ao sofrimento. É uma condição tão ruim que há quem fique depressivo e tente o pior. Por isso, primeiro temos que acabar com o zumbido, depois ir pesquisando o que levou a ele.
Lembro que o zumbido começou há muitos anos, numa época em que eu estava com sintomas de hipoglicemia. A hipoglicemia eu tratei, mas o zumbido continua até hoje. É um barulho de apito. Ás vezes, é o som do diapasão de metal. Não é muito alto, nem todo dia. Mas às vezes percebo em um dos ouvidos de forma mais intensa. Não sei até hoje qual a causa disso. Não fui atrás investigar. Não sei se tem a ver com algo que eu como... Fui convivendo com esse zumbido como se isso fosse uma coisa normal. Acho que me acostumei. Nunca me afetou para cantar, para ouvir. Por ser cantora, sempre me preocupei mais com a saúde da minha garganta. Os ouvidos, deixei meio de lado. Quando o som vem mais forte, fico paradinha, esperando passar"
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