O Dia Mundial da Alimentação, celebrado em 16 de outubro, foi criado para incentivar o debate global e chamar a atenção para o comportamento em relação aos alimentos, que está ancorado em quatro pilares: melhor nutrição, melhor produção, melhor ambiente e melhor qualidade de vida.
Em 2024, o tema da campanha é “direito aos alimentos para uma vida e um futuro melhores”, que ressalta a importância de ampliar a diversidade de alimentos nutritivos e ter um olhar para a comida não como mercadoria, mas como um bem comum.
É em um cenário de contrastes e desequilíbrios, entre o acesso e a restrição aos alimentos, que os reflexos chegam à saúde, em polos extremos: desnutrição e obesidade. O excesso de peso ou a preocupação em tornar-se obeso pode gerar outro grave problema: transtornos alimentares .
Essas condições psiquiátricas, marcadas por uma inquietação constante no comportamento alimentar e/ou na imagem e peso corporal, alteram o padrão do que se come, com prejuízos ao bem-estar físico e psíquico, alerta o Dr. Fabiano Robert, nutrólogo e docente dos cursos de Pós-Graduação da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
“A prevalência pode chegar a 4% na população geral, no entanto, pode ser uma condição subdiagnosticada. Estudos mostram que apenas 1 em cada 10 casos é identificado e muitas pessoas fazem questão de esconder sua condição”, alerta.
Abaixo, o médico esclarece algumas dúvidas sobre os transtornos alimentares. Veja!
Frequentemente estão associados a comorbidades psiquiátricas, como transtorno de ansiedade, baixa autoestima, depressão, traumas emocionais e até abuso sexual.
Sim. É especialmente relevante sua relação com a ideação suicida, fator que nos permite entender a complexidade e a gravidade do quadro.
Pode estar relacionada a diversos fatores, inclusive genéticos, mas é forte a sua relação com a ditadura da beleza imposta social e culturalmente.
Sim. A cobrança por um corpo perfeito é reforçada pela mídia e redes sociais, o que gera uma busca incansável por um padrão ideal imposto por meio de estratégias milagrosas para emagrecer ou prevenir o ganho de peso – muitas vezes não saudáveis –, mas consideradas aceitáveis para se atingir determinados objetivos. Tal situação cria um ambiente fértil para o desenvolvimento da doença.
Anorexia nervosa, bulimia nervosa e, o recém-incluído, transtorno de compulsão alimentar periódico, o mais prevalente hoje.
Existe uma restrição voluntária a se alimentar e um consumo muito abaixo das necessidades, que leva a um peso corporal menor do que o mínimo esperado. Há um medo intenso de ganhar peso ou se tornar gordo, ou comportamentos persistentes que interferem no ganho de peso – mesmo se estando magro.
É uma marcante perturbação ao peso e à imagem corporal. Apesar de poderem estar, visivelmente, muito emagrecidos, um distúrbio de autoimagem faz com que estas pessoas se enxerguem como gordos. Os sintomas ocorrem a partir da adolescência, mas podem aparecer até mesmo na infância.
É mais comum em mulheres. Além disso, podem ocorrer irregularidades menstruais, constipação, fadiga, irritabilidade, intolerância ao frio, excessivo controle de porções e atividade física compulsiva.
Há episódios recorrentes de compulsão alimentar, caracterizado por comer em um período determinado (por exemplo, dentro de 2 horas), uma quantidade maior do que uma outra pessoa comeria nas mesmas circunstâncias.
Sempre ocorre um sentimento de falta de controle sobre a alimentação e não se consegue parar de comer ou controlar o que ou o quanto se come. Na sequência, surgem os comportamentos compensatórios para evitar o ganho de peso, como autoindução de vômitos, consumo de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos, além de jejum ou exercício excessivo.
Acomete principalmente as mulheres e a idade média de início é aos 12 anos. Os pacientes se sentem tristes após os episódios de compulsão; por isso, tendem a comer escondido e não falar da sua condição.
Tentativas de emagrecimento, uso de medicamentos e suplementos, sem orientação médica, são comuns. Além disso, pode haver dor de garganta, tosse e voz rouca – devido ao vômito –, dor de cabeça, fadiga, pele seca, constipação intestinal (devido ao uso excessivo de laxantes), dor e distensão abdominal e até inchaço nas pernas e sangramento nasal.
O transtorno se destaca por sua relação com a obesidade, embora nem todos os pacientes sejam obesos. Sua prevalência cresce com o Índice de Massa Corporal (IMC), podendo chegar a 50% na obesidade mórbida. Também é caracterizado por episódios recorrentes de compulsão alimentar, comendo mais do que o necessário, movido por um sentimento de falta de controle para parar de comer ou o que ou quanto se come. Porém, não está associado a comportamentos compensatórios inadequados, como na bulimia nervosa.
Os pacientes apresentam angústia acentuada, vergonha em relação à compulsão alimentar, que está associada a três ou mais características, como comer muito mais rápido do que o normal até se sentir demasiadamente cheio; ingerir grandes quantidades de alimentos, mesmo sem estar faminto; se alimentar sozinho por vergonha da quantidade que consome e sentir repulsa de si; depressão e culpa. Os episódios de compulsão ocorrem, na média, pelo menos uma vez por semana por 3 meses e não está associada ao uso recorrente de comportamentos compensatórios inadequados como na bulimia.
Devido à associação da obesidade com o transtorno de compulsão alimentar, se exige uma maior atenção aos sintomas para que a doença não seja subdiagnosticada, independentemente do transtorno. O tratamento é multidisciplinar, envolvendo psiquiatra, nutrólogo, psicólogo, nutricionista e preparador físico.
O tratamento de primeira linha é a terapia cognitivo comportamental, acompanhada de terapia medicamentosa. O curso da doença normalmente é longo e as recidivas são comuns. O apoio de amigos e familiares é importante para melhorar a adesão ao tratamento em qualquer tipo de transtorno alimentar.
Por Edna Vairoletti
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