O humor tem grande influência sobre as escolhas alimentares, pois estados emocionais podem alterar nossa percepção do que consumimos. Quando estamos felizes, tendemos a escolher alimentos mais saudáveis, mas, em momentos de estresse ou tristeza, buscamos comidas reconfortantes, como doces e alimentos ricos em gorduras. Assim, o estado emocional pode levar a escolhas alimentares equilibradas ou excessivas, impactando a saúde física e emocional.
“É importante reconhecer como as emoções afetam nossos hábitos alimentares e buscar maneiras saudáveis de lidar com as emoções, como buscar apoio emocional, praticar técnicas de gestão de estresse ou procurar orientação médica, se necessário. Descarregar as emoções em alimentos pode tornar o padrão alimentar mais pobre, com baixa oferta de nutrientes, e alto consumo de alimentos ricos em açúcar simples e gordura”, explica a nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
Mas os alimentos também podem potencializar as emoções – quem nunca tomou doses altas de café e ficou extremamente ansioso? “Há uma relação mútua entre saúde mental e escolhas alimentares saudáveis. Cada vez mais estudos mostram isso”, completa a médica.
Abaixo, ela explica como as nove emoções estão relacionadas com o comportamento alimentar. Confira!
Essa emoção afeta o comportamento alimentar e é afetada por ele. “Quando as pessoas estão felizes, podem sentir-se mais motivadas a fazer escolhas alimentares saudáveis e a seguir hábitos alimentares equilibrados. Por outro lado, a alegria também pode levar a um aumento no consumo de alimentos em situações de celebração, como festas ou jantares comemorativos, momentos em que alimentos mais calóricos e menos saudáveis são frequentemente consumidos”, diz a Dra. Marcella Garcez.
A alegria também pode ser influenciada pelos alimentos que comemos, segundo a médica. “Diversos alimentos podem afetar o humor e o bem-estar devido à composição nutricional e aos seus efeitos no cérebro e no corpo. Alimentos ricos em triptofano, aminoácido essencial encontrado em alimentos como peru, frango, ovos, queijo, nozes e sementes, podem ajudar na regulação de humor e na sensação de bem-estar. Isso ocorre pois o triptofano é um precursor da serotonina, um neurotransmissor que desempenha um papel crucial nesse tipo de sentimento”.
Entre os alimentos que contribuem para uma vida mais feliz estão:
Além de poder influenciar significativamente o comportamento alimentar, a tristeza também pode ser influenciada pelo comportamento alimentar. “Essa relação pode variar de pessoa para pessoa e de situação para situação, mas geralmente ocorrem alguns padrões comuns, como comer emocional, alterações no apetite e padrões alimentares irregulares”, explica a médica.
Segundo a Dra. Marcella Garcez, algumas dietas podem piorar o estresse e a tristeza. “O comportamento alimentar também pode influenciar a tristeza, pois uma dieta pobre em nutrientes essenciais pode afetar negativamente o estado mental, contribuindo para sentimentos de tristeza ou depressão. Além disso, restrições dietéticas severas ou dietas desequilibradas podem causar estresse adicional, o que pode exacerbar sentimentos de tristeza”, acrescenta.
Alimentos considerados como conforto para pessoas tristes podem proporcionar uma sensação momentânea de prazer ou alívio emocional, mas não necessariamente são opções seguras para enfrentar os momentos tristes. “Esses alimentos costumam ser ricos em açúcar, gordura e calorias, como doces, chocolate, sorvetes, bolos, biscoitos e outras guloseimas como ‘fast foods’, frituras, salgadinhos, pães brancos, massas, batatas fritas, entre outros alimentos que liberam rapidamente açúcar no sangue”, diz a médica.
Conforme a nutróloga, o consumo excessivo de açúcar pode levar a flutuações nos níveis de açúcar no sangue, afetando negativamente o humor e a energia. “Alimentos fermentados, ricos em triptofano ou em ômega 3 podem ser considerados nesse tipo de situação”, completa.
A raiva pode influenciar o comportamento alimentar e sofrer influência dele de várias maneiras, principalmente devido às interações complexas entre emoções, comportamentos e reações fisiológicas, segundo a Dra. Marcella Garcez. “Em momentos de raiva intensa, algumas pessoas recorrem à comida como uma forma de conforto emocional ou distração. Isso pode levar a escolhas alimentares impulsivas, como consumir alimentos ricos em calorias, açúcar ou gordura, que proporcionam uma sensação temporária de prazer”.
Além disso, essa emoção pode alterar o apetite e a função digestiva. “A raiva pode desencadear episódios de compulsão alimentar e afetar o apetite, resultando em um aumento ou diminuição na ingestão de alimentos, dependendo da resposta individual ao estresse emocional. Emoções intensas como a raiva podem afetar a função digestiva, causando desconforto abdominal, indigestão ou outras alterações gastrointestinais que podem influenciar o comportamento alimentar”, explica.
A fome também pode causar raiva em algumas pessoas. “Por outro lado, se uma pessoa está com fome ou não se alimentou adequadamente, isso pode levar à irritabilidade e ao aumento da propensão à raiva. Manter níveis estáveis de glicose no sangue através de uma dieta equilibrada pode ajudar a regular o humor”, diz a médica, que orienta evitar substâncias como cafeína, açúcares refinados e alimentos processados.
Por outro lado, há alimentos que ajudam a acalmar. “Pacientes mais explosivos, que tendem a experimentar raiva intensa ou impulsividade, podem se beneficiar ao evitar certas substâncias que podem aumentar a excitabilidade ou nervosismo. Além disso, incluir alimentos com propriedades calmantes na dieta pode ajudar a promover um estado de calma e equilíbrio emocional. Maracujá, chá de camomila e vegetais de folhas verde-escuras contam com propriedades calmantes e podem ajudar”, sugere a Dra. Marcella Garcez.
A médica explica que o “nojinho”, ou aversão a certos alimentos devido a aspectos sensoriais, emocionais ou psicológicos, pode influenciar significativamente o comportamento alimentar de uma pessoa. “Pessoas com aversão alimentar podem evitar certos alimentos, mesmo que sejam nutritivos, devido à sensação de repulsa ou desconforto que esses alimentos causam”.
Segundo ela, a seletividade alimentar se enquadra nisso. “Um exemplo é a seletividade alimentar, que se refere à tendência de uma pessoa em preferir certos alimentos enquanto evita outros, muitas vezes limitando significativamente a variedade e a quantidade de alimentos consumidos. Isso pode desempenhar um papel importante para um comportamento alimentar restritivo”, diz a Dra. Marcella Garcez.
Em muitos casos, vale a pena procurar ajuda especializada para driblar esse problema. “Encontrar substituições ou variações de alimentos que sejam mais aceitáveis pode permitir uma maior diversidade na dieta sem comprometer o conforto emocional. Em casos de seletividade alimentar significativa que afetam a qualidade de vida ou a nutrição adequada, considerar a orientação de um médico nutrólogo, nutricionista, psicólogo e/ou terapeuta especializado pode ser benéfico”, completa.
Essa é outra emoção que tem grande peso no comportamento alimentar, segundo a médica. “Em situações de medo, seja de ganhar peso, de desenvolver uma doença relacionada à alimentação, ou de experimentar sintomas físicos adversos, algumas pessoas podem restringir conscientemente sua ingestão de alimentos”, explica.
Conforme a Dra. Marcella Garcez, isso pode ter consequências negativas. “Isso pode levar a dietas muito restritivas, com a eliminação de grupos alimentares inteiros ou com a redução excessiva na quantidade de comida consumida. Por outro lado, o medo pode desencadear episódios de compulsão alimentar, especialmente em pessoas que utilizam a comida como uma forma de lidar com o estresse emocional”, diz.
Segundo ela, o medo de ganhar peso é um dos sinais de transtornos alimentares, como bulimia nervosa e anorexia nervosa. “Para evitar as consequências do medo para o comportamento alimentar, o ideal é procurar ajuda de um médico psiquiatra e iniciar tratamento com psicólogo. O papel do médico nutrólogo e nutricionista é o de educação nutricional para evitar as carências”, afirma.
Uma das emoções que mais influencia o comportamento alimentar é a ansiedade, mas alguns alimentos também podem potencializar esse sentimento. “A ansiedade pode desencadear episódios de compulsão alimentar , em que o paciente consome grandes quantidades de alimentos em um curto período, muitas vezes sem controle consciente sobre a ingestão. Isso pode ser uma forma de tentar aliviar temporariamente os sintomas de ansiedade, usando a comida como uma forma de conforto ou distração”, explica a médica.
Segundo a Dra. Marcella Garcez, a ansiedade pode aumentar a procura por certos alimentos. “Em resposta à ansiedade, algumas pessoas podem mudar suas escolhas alimentares, optando por alimentos reconfortantes, ricos em açúcar ou gordura, que proporcionam uma sensação momentânea de alívio ou prazer. Por outro lado, a ansiedade também pode levar à restrição severa na ingestão de alimentos, especialmente em situações sociais ou quando há preocupações com o peso e a imagem corporal”, diz.
Alguns alimentos são potencialmente ansiogênicos, isto é, podem aumentar os níveis de ansiedade em algumas pessoas devido a seus componentes ou efeitos sobre o corpo. “Fontes alimentares de cafeína, como café, chá, chocolate e certos refrigerantes são os principais. Mas aqueles alimentos que contam com glutamato monossódico (salgadinhos, molhos e alimentos prontos para consumo) também podem desencadear sintomas de ansiedade”, explica.
Todavia, isso pode variar de pessoa para pessoa. “No entanto, é importante notar que a resposta a alimentos pode variar significativamente entre indivíduos e que nem todas as pessoas experimentarão aumento da ansiedade com os mesmos alimentos”, diz a médica. Chás de ervas, alimentos ricos em triptofano, em magnésio, além do chocolate amargo e alimentos fermentados são indicados por terem efeitos ansiolíticos.
Essa emoção tem algumas relações indiretas com o comportamento alimentar. “Isso acontece especialmente quando consideramos aspectos psicológicos e emocionais, pois pode levar à comparação com os outros, especialmente em relação a aspectos como o corpo e a aparência física. Isso pode resultar em sentimentos de insatisfação pessoal e pressão para modificar a alimentação para alcançar um ideal percebido de beleza ou saúde”, explica.
Conforme a Dra. Marcella Garcez, a inveja pode afetar a alimentação e a saúde. “Em alguns casos, a inveja pode levar a um desejo aumentado por alimentos indulgentes ou luxuosos como uma forma de compensação emocional ou para tentar alcançar um nível de satisfação percebido por outros. Sentimentos de inveja podem afetar negativamente a autoestima e o bem-estar emocional, o que, por sua vez, pode influenciar a maneira como uma pessoa se alimenta e cuida de si mesma”, completa a médica.
A relação do tédio com o comportamento alimentar é mais direta. “Quando entediadas, muitas pessoas buscam alimentos como uma forma rápida de entretenimento ou prazer. Isso pode levar a escolhas alimentares impulsivas e menos saudáveis, como lanches ricos em açúcar, gordura ou calorias vazias. O tédio pode desencadear comportamentos alimentares emocionais, em que a comida é usada como uma distração para preencher o vazio emocional causado pelo tédio. Isso pode incluir comer em excesso ou escolher alimentos reconfortantes para aliviar o tédio temporariamente”, explica.
Segundo a Dra. Marcella Garcez, o tédio também altera o apetite. “O tédio pode levar a padrões irregulares de alimentação, como pular refeições ou comer sem atenção, o que pode afetar negativamente a regulação do apetite e a escolha de alimentos saudáveis ao longo do dia”, acrescenta.
Além disso, o tédio pode estar relacionado à monotonia alimentar porque quando uma pessoa está entediada com sua dieta, pode optar repetidamente pelos mesmos alimentos ou refeições, o que pode levar à monotonia alimentar. “A falta de motivação para experimentar novas receitas ou alimentos diferentes resulta na preparação constante das mesmas refeições básicas”, completa a médica.
Sentimentos em relação ao corpo ou à alimentação podem levar a comportamentos alimentares compensatórios, como dietas restritivas severas, jejuns intermitentes ou exercícios físicos excessivos, na tentativa de compensar ou controlar a vergonha percebida.
“Sentimentos de vergonha relacionados à imagem corporal ou à alimentação podem levar o paciente a evitar certos alimentos, refeições sociais ou situações que envolvam comida, o que pode interferir na qualidade de vida e na saúde nutricional. A vergonha pode contribuir para uma percepção distorcida do corpo, levando a uma imagem negativa de si mesmo e à adoção de comportamentos alimentares que não são sustentáveis ou saudáveis a longo prazo”, finaliza.
Por Maria Paula Amoroso
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