Anualmente, os tumores do sistema reprodutor feminino registram cerca de 30 mil novos casos no Brasil. Os mais frequentes são o câncer de colo uterino e de ovário, com cerca de 17 mil e 7 mil novos casos, respectivamente, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). O câncer de endométrio também tem registrado um aumento nos últimos anos, impulsionado pela maior expectativa de vida da população feminina e pelos hábitos de vida, atingindo principalmente mulheres na pós-menopausa.
Enquanto isso, os cânceres de vulva e o de vagina são mais raros, representando 6% do total de tumores ginecológicos, mas com altas taxas de mortalidade. A cirurgiã oncológica Marianne Pinotti, da A Beneficência Portuguesa de São Paulo, comenta que o desconhecimento sobre as doenças, os sintomas indefinidos e questões culturais podem atrasar a procura por ajuda, levando a um prognóstico mais grave e a um tratamento mais agressivo.
Para promover a conscientização sobre os tumores ginecológicos, a cirurgiã lista as características, sintomas, causas e tratamentos dos diferentes tipos.
É o terceiro mais comum entre as mulheres, e geralmente se manifesta depois dos 40 anos. A principal causa é a infecção pelo papilomavírus humano (HPV), transmitido por contato sexual sem proteção. Existem cerca de 150 tipos de HPV, dos quais 40 podem infectar a região genital, e dois são responsáveis por 70% dos cânceres cervicais. A infecção pode causar alterações inflamatórias nas células, evoluindo para lesões pré-cancerígenas e, se não tratadas, se transformam em um tumor maligno. O exame preventivo mais comum é a citologia oncótica ou teste de Papanicolau, que coleta amostras do colo uterino e da vagina para análise laboratorial.
A vacinação contra o HPV é recomendada, preferencialmente, entre 9 e 14 anos, para meninas e meninos, antes do início da vida sexual. Nos estágios iniciais, o câncer de colo do útero geralmente não apresenta sintomas, mas, quando surgem, podem incluir:
Este tipo tem uma das menores taxas de sobrevivência, pois é difícil de diagnosticar devido aos sintomas inespecíficos no início. Geralmente se manifesta após os 50 anos, no período pós-menopausa, mas também pode acometer jovens. O histórico familiar é o principal fator de risco, embora mulheres que não tiveram filhos ou nunca amamentaram também apresentem risco elevado.
Os exames fundamentais para o diagnóstico são o ultrassom transvaginal e a medição do marcador tumoral sanguíneo CA 125, pois 80% das mulheres com câncer de ovário apresentam níveis de CA 125 elevados. Os sintomas tornam-se mais evidentes em estágios avançados e podem ser confundidos com outras condições, por isso o exame ginecológico periódico é essencial. Os sintomas incluem:
Atinge principalmente mulheres acima dos 60 anos, na fase pós-menopausa. Entre os fatores de risco associados, destacam-se a obesidade, níveis elevados de estrogênio e baixa produção de progesterona, síndrome dos ovários policísticos, idade precoce da primeira menstruação e menopausa tardia, nunca ter tido filhos, hipertensão arterial, diabetes mellitus, entre outros.
Diferente do câncer de colo uterino, em que o exame de Papanicolau permite identificar lesões e alterações celulares, não existe teste equivalente para câncer endometrial. Portanto, a prevenção é feita com avaliação médica periódica, adoção de hábitos saudáveis, como a prática regular de atividade física e uma alimentação equilibrada, e controlando o uso de estrogênios. Em mais de 95% dos casos, o tumor se manifesta com sangramento vaginal anormal após a menopausa, e, quando cresce para o interior do abdome, pode causar:
Afeta a área externa do órgão genital feminino, começando na pele ou nas glândulas da vulva, podendo se espalhar para a abertura da vagina, os grandes lábios, os pequenos lábios e o clitóris. Este é um tipo raro, que pode se originar de uma desordem epitelial não neoplásica (VNED), apresentando manchas brancas e finas, distrofias e inflamação crônica. Geralmente ocorre após os 50 anos; ou deriva da infecção pelo HPV, com lesões nas células de pouca matriz extracelular, afetando com maior frequência mulheres mais jovens.
Ser fumante e estar com o sistema imunológico enfraquecido também aumenta a probabilidade de desenvolver o câncer. O diagnóstico se inicia com o exame físico, seguido por exames como a vulvoscopia, mas confirmação ocorre somente após a análise de parte da lesão por meio da biópsia. A remoção cirúrgica do tumor é uma das estratégias de tratamento, que pode ser complementada por radioterapia, quimioterapia ou imunoterapia, em alguns casos. Os sintomas mais comuns incluem:
O câncer vaginal ocorre na parte interna do órgão, afetando geralmente os próprios tecidos, como o carcinoma de células escamosas. Outros tipos mais raros podem se originar a partir de células glandulares, como os adenocarcinomas. Lesões metastáticas, que se desenvolvem em outros locais, também podem prejudicar a vagina. Os casos mais comuns estão relacionados à infecção pelo HPV, o mesmo vírus que causa o câncer do colo do útero e de vulva.
Costuma ocorrer em mulheres com mais de 60 anos, devido ao seu desenvolvimento lento. No entanto, ter múltiplos parceiros sexuais e não utilizar proteção durante as relações sexuais são fatores de risco que podem acometer mulheres mais jovens. A prevenção é simples, e inclui vacinação contra o HPV e a realização regular do exame de Papanicolau. O diagnóstico começa com o exame físico, no qual o ginecologista observa presença de alguma alteração ou lesão, e então solicita a biópsia para confirmar o tumor. Os sinais de alerta são:
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), podemos prevenir 40% dos cânceres e 60% das doenças cardiovasculares cuidando somente dos hábitos de vida! “Hoje, na medicina, o moderno não é mais tratar quando a doença apresenta sintomas, mas sim diagnosticar precocemente”, reforça Marianne. “Melhor ainda é prevenir através de vacinas, hábitos de vida saudáveis e realizando exames de rotina, que são pedidos conforme a idade e os riscos pessoais de cada mulher”, finaliza a médica.
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